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Uma cana transgênica brasileira


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Acompanho o desenvolvimento da ciência e tecnologia no Brasil desde que era criança, há mais de quarenta anos. Cada conquista deste país na área é feita com muito esforço do cientista ou tecnologista, principalmente pelas dificuldades econômicas dos governos que se alteram. Vejo com um pouco de preocupação o desenvolvimento de seres geneticamente modificados, mas o desenvolvimento da primeira cana merece atenção.

A conhecida Fapesp, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, resolveu investir na genômica –que estuda e modifica o genoma de um organismo- nos anos 1990. Foi montada uma rede virtual com 60 laboratórios e a xylella, que causa o amarelinho nos laranjais, foi escolhida para ter seu gene sequenciado.

Foram investidos US$ 39 milhões, ou 2,5% do orçamento da Fapesp, de 1997 a 2003. E esse conhecimento resultou em queda dos laranjais infectados de 43% para menos de 3% e colocou o Brasil na fronteira do conhecimento na área.

Essa iniciativa gerou algumas empresas na área, como a de bioinformática Scylla e das Alellyx, genômica aplicada, e a CanaVialis, melhoramento de cana, ambas fomentadas pela Votorantim Novos Negócios, com investimentos de US$ 30 milhões. Em 2008, a CanaVialis foi adquirida pela Monsanto por US$ 300 milhões.

Nessa época, o preço do petróleo chegou a US$ 150 o barril e as grandes empresas do agronegócio apostaram no biocombustível. Foram feitos grandes investimentos até aparecer o gás de xisto nos Estados Unidos da América e, por aqui, o pré-sal.

Todos os grandes grupos internacionais, incluindo a Monsanto, fecharam as unidades de pesquisa na área do Brasil. Foi quando o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) entrou em cena. O CTC foi criado em 1969 pela Coopersucar, uma cooperativa de usinas de álcool. Em 2011, o BNDESPar (Participações do BNDES) e a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) associaram-se aos usineiros para criar o mais moderno laboratório da área. Começando com mais de 30 técnicos que foram dispensados pela Monsanto. Hoje, a CTC tem cerca de 400 funcionários, dois terços são pesquisadores, e deve faturar R$ 180 milhões neste ano.

O CTC já tem uma variedade de cana geneticamente modificada aprovada no ano passado pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), a chamada Cana Bt, que é resistente à broca, inseto que gera prejuízos de 5 bilhões de reais por ano à indústria brasileira em perdas de produtividade agrícola e industrial, qualidade do açúcar e custos com inseticidas. Essa variedade já foi plantada em 400 hectares por cerca de cem usinas para a multiplicação que deve demorar três anos para atingir 1,5 milhão de hectares, 15% do total.

A cana é plantada por mudas, um processo lento e caro. O CTC preparou a mais revolucionária das inovações após oito anos de pesquisa: a semente de cana. E, agora, a semente será provada no campo, enfrentado intempéries e pragas. As primeiras sementes de cana estarão disponíveis já na safra de 2021/2022.

Como podemos constatar, contrariando muitos especialistas, é possível desenvolver ciência e tecnologia também na iniciativa privada no Brasil.

Mario Eugenio Saturno (cientecfan.blogspot.com) é Tecnologista Sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e congregado mariano.
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