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“Quero ser lembrado por conseguir reconstruir um Estado quebrado”


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Há pouco mais de 100 dias no comando de Mato Grosso, o governador Mauro Mendes (DEM) já sonha com os resultados que espera entregar até o final de 2022. O democrata acredita que deixará um Estado reconstruído e que assim espera ser lembrado no futuro.

P U B L I C I D A D E

Em entrevista ao MidiaNews, Mendes citou todos os esforços que sua gestão tem feito para reequilibrar o caixa do Executivo e concluir uma sequência de quase 10 anos de contas no vermelho.

“[Quero ser lembrado] Como um governador que pegou um Estado quebrado, como pegamos, em calamidade financeira, mas que teve a capacidade de liderar, ajudar, a reconstruir o Estado, reorganizar, para que o Estado seja um lugar cada vez melhor para que as pessoas possam viver”, disse.

Na entrevista, Mendes ainda se disse preocupado com os rumos que a Prefeitura de Cuiabá tem tomado, sob a administração de Emanuel Pinheiro (MDB), hoje seu ex-aliado. Disse haver possibilidades de o DEM lançar candidato próprio na eleição de 2020 na Capital.

“Estou preocupado. Muito preocupado. Porque temos muitas informações, muitos resultados prometidos e não vistos e gostaria que Cuiabá tivesse colecionando resultados diferentes daquilo que tenho visto no dia a dia”, afirmou.

Para que sejamos lá um bom apoiador ou um bom articulador e possamos querer dividendos nas eleições de 2020, o grande fato para isso é trabalharmos muito agora

Ainda na entrevista, o governador fala sobre a possibilidade de pagamento da Revisão Geral Anual (RGA), da gestão do presidente Jair Bolsonaro (PSL) e da relação de seu governo com a Assembleia Legislativa.

Confira os principais trechos da entrevista:

MidiaNews – O senhor atingiu neste mês 100 dias de Governo. Está satisfeito e qual o diagnóstico feito até o momento?

Mauro Mendes – Os primeiros dias de Governo foram marcados por medidas que visam fazer a reconstrução das condições e capacidade do Estado de fazer o seu papel. O Governo de Mato Grosso está em uma situação financeira muito ruim e isso todos já sabem. Já foi demonstrado em números e, pior, percebida no dia a dia essa dura realidade. O balanço de 2018 traz mais de 11 mil fornecedores que o Estado deve; R$ 3,5 bilhões de restos a pagar; e resultados catastróficos na entrega de serviços públicos como Saúde, infraestrutura e nas nossas escolas. Essa realidade, para ser enfrentada, precisa de um diagnóstico muito preciso, de uma boa capacidade de perceber a origem do problema e uma boa estratégia para o presente e para o futuro.

Nesses primeiros meses do ano, temos nos dedicado a isso. Em janeiro apresentamos novos marcos legais para o enfrentamento dessa crise, em que melhoramos a receita do novo Fethab e enfrentamos um grande problema que é o grande crescimento da folha ao longo dos últimos anos em Mato Grosso. Um recente levantamento, dos últimos 15 anos, mostra que a receita cresceu 342% enquanto a folha cresceu 678%. Isso estrangulou as finanças de Mato Grosso.

MidiaNews – Em razão dos aumentos salariais dados no passado recente, acha que houve excesso de euforia nos tempos de vacas gordas e ninguém se preocupou com o fato de que a bonança poderia não ser eterna? Houve populismo?

Mauro Mendes – A mim não cabe agora e não é relevante identificar quem errou e por que errou. A análise era de 15 anos e dá para perceber ano a ano como isso foi acontecendo. E cada cidadão pode olhar isso, porque estamos compartilhando essas informações. São informações oficiais e estão no balanço do Estado. Mas fato é que a receita cresceu muito menos do que cresceu a folha de pagamento. Isso estrangulou. Hoje, a cada R$ 100 que entra no Estado, R$ 75 vai para folha de pagamento. 

MidiaNews – Os dados demonstram que a curva crítica se deu a partir de 2009, quando as despesas ultrapassaram a receita.

Mauro Mendes – A partir de 2009, segundo os dados do balanço, Mato Grosso começa, ano após ano, a gastar mais. A despesa total fica maior que a receita corrente.

MidiaNews – Acredita que naquele momento poderia ter feito um enfrentamento disso?

Mauro Mendes – Poderia e deveria ter feito. A medida que se tomou naquele momento foi criar a Fonte Única, a conta única. Ou seja, pega todo dinheiro e aí começou a se fazer empréstimos entre fontes e isso foi, a cada ano, aprofundando a crise. Porque maquiou. Quando não tinha dinheiro para pagar salário, fazia empréstimo com o dinheiro da Saúde; quando não tinha dinheiro para pagar outras fontes, fazia empréstimos entre as fontes; e ano após ano isso foi aprofundando e chegando a este momento em 2018 em que o Estado, praticamente, chegou no limiar de um colapso financeiro.

Estou preocupado. Muito preocupado. Porque temos muitas informações, muitos resultados prometidos e não vistos

MidiaNews – Nesses primeiros meses já foi possível notar uma redução do déficit do caixa do Governo. Em um cenário otimista, com tudo correndo bem, em quanto tempo será possível se reequilibrar essa conta?

Mauro Mendes – Eu diria que em um cenário moderado para otimista, no início de 2020 já poderemos estar equilibrados entre receita e despesa.

MidiaNews – Isso também inclui os problemas com folha e fornecedores?

Mauro Mendes – Quando eu digo equilibrado, é fazer com que no mês o que nós arrecadamos pague 100% da despesa do mês. O passado [as dívidas], precisaremos de um tempo maior para fazer sua regularização.

MidiaNews – Qual impacto que se espera disso na ponta?

Mauro Mendes – Em um Estado equilibrado e bem administrado, o resultado na ponta é a melhoria dos serviços públicos prestados pelo Estado. A Saúde melhora, a Educação melhora, a Infraestrutura melhora. Por isso que nosso grande esforço em 2019 é para construir as condições para que o Estado volte a ter o equilíbrio e que sobre dinheiro para o investimento naquilo que importa ao cidadão.

MidiaNews – Com esses problemas de caixa que o Executivo enfrenta, quais são as prioridades do Governo e como conseguir dar ritmo adequado às secretarias?

Mauro Mendes – Sem dúvida alguma, a Saúde tem que ser a área prioritária, porque lá você pode salvar vidas e aliviar sofrimentos. Mas não podemos fechar os olhos para as estradas, porque vidas podem ser perdidas, lá sofrimentos podem ser aumentados se o Estado não cumprir e dar as mínimas condições para o ir e vir das pessoas. Estradas não são somente para transportar caminhão de soja, as pessoas passam de ambulância, de carro para visitar seus parentes, para tocar seus negócios, tocar suas vidas. Então, temos que ter a capacidade de estabelecer algumas prioridades, mas, ao mesmo tempo, tocar todas as áreas, porque todas afetam algum tipo de cidadão em alguma região de Mato Grosso.

MidiaNews – Na Saúde, o que está sendo feito de maneira emergencial?

Mauro Mendes – De maneira emergencial, fizemos a intervenção nos hospitais de Rondonópolis e Sinop. Estamos capturando de volta o domínio do Estado sob a Saúde Pública. Sem nenhum medo de errar, a Saúde é a área do Governo que estava com maior número de desorganização, de bagunça, descontrole, enormes dificuldades para conseguir começar a produzir resultado.

As conversas fiadas, os tapinhas nas costas, podem agradar no primeiro momento, mas não constroem uma relação e uma história sólida

MidiaNews – Qual a expectativa para que a população comece a perceber essa melhora?

Mauro Mendes – É muito crítico ainda, temos muita dificuldade com fornecedores de remédios, prestadores de serviços. E como já apresentamos algum nível de melhora em algumas áreas, em alguns setores, a pressão por receber e a pressão com ameaças de paralisação por falta de pagamento aumentou. Porque a partir do momento que um fornecedor percebeu que começamos a dar indícios de melhora, ele está pressionando mais, ameaçando mais, paralisando para ver se com isso consegue receber. Eu tenho pedido às pessoas um pouco de paciência. Tem dívidas de seis meses e até mais da gestão anterior. Estamos fazendo um esforço grande para pagar, no mínimo, uma prestação por mês. E à medida em que o caixa for melhorando, vamos recompor esse pagamento, honrando os compromissos que foram assumidos de curto prazo.

MidiaNews – O passivo já começou a ser pago?

Mauro Mendes – Em algumas áreas já está sendo liquidado.

MidiaNews – Os repasses do duodécimo estão em dia ou teve atraso?

Mauro Mendes – Nós estamos trabalhando para fazer os repasses de forma regular.

MidiaNews – E quanto aos mais de R$ 250 milhões em repasses atrasados da gestão passada?

Mauro Mendes – A PEC do Teto de Gastos traz uma previsão clara sobre esse pagamento [somente quando houver excesso de arrecadação]. Mas, por enquanto, não tem nenhuma previsão de pagamento desses restos a pagar com os poderes.

MidiaNews – Ano que vem  haverá eleições municipais e o seu grupo deve lançar um candidato. O que já está sendo formatado nesse sentido?

Mauro Mendes – É muito cedo ainda para falar das eleições de 2020. Até para que sejamos lá um bom apoiador ou um bom articulador e possamos querer dividendos nas eleições de 2020, o grande fato para isso é trabalharmos muito agora, entregar resultados, para que a população tenha confiança naquilo que estamos fazendo. Porque até para apoiar, precisamos estar bem também. Por isso, nosso foco neste momento é colocar 100% das nossas energias no presente e não ficar olhando para 2020.

Embora seja possível fazer duas, três quatro, cinco coisas, é preciso que se estabeleça foco. E nosso foco, neste momento, é reequilibrar Mato Grosso, melhorar a qualidade do serviço público e entregar resultados para a população. Esperar 2020 chegar e lá teremos a possibilidade de gastar um pouco mais de energia com atividade político-eleitoral. Mas isso, neste momento, só interessa aos políticos. O cidadão quer mesmo é que a Saúde melhore, que as estradas melhorem, Educação melhore, que o serviço público melhore e isso é o que estamos fazendo.

MidiaNews – O DEM, que é seu partido, vai ter candidatura própria em Cuiabá?

Mauro Mendes – É natural que todos os partidos queiram ter candidatos no maior número possível de cidades. Quero muito bem à Capital, tenho muita honra de ter sido prefeito desta cidade. Trabalhamos muito e entregamos uma cidade melhor do que recebemos. Vou observar o cenário. Se tiver bons candidatos em alguns partidos aliados, podemos apoiar. Se eu não vir bons candidatos, poderemos ajudar a construir alternativas para apresentar à população.

MidiaNews – Mesmo sem citar nomes, já vê candidatos em potencial no grupo?

Mauro Mendes – Se eu falasse que não, estaria mentindo. Embora os enxergue, não posso falar sobre isso neste momento.

MidiaNews – Pelo fato de já ter sido prefeito, o senhor tem condições de fazer uma análise dos rumos da atual gestão. Qual sua avaliação?

Mauro Mendes – A minha avaliação não é diferente da maioria dos cidadãos desta cidade. Mas pelo cargo que eu ocupo, fica difícil para mim ficar usando meu tempo para falar de prefeito A, B ou C. O que tenho que falar é sobre os problemas que temos no Estado.

MidiaNews – Mas está contente com os rumos da atual administração de Cuiabá?

Mauro Mendes – Estou preocupado. Muito preocupado. Porque temos muitas informações, muitos resultados prometidos e não vistos e gostaria que Cuiabá tivesse colecionando resultados diferentes daquilo que tenho visto no dia a dia.

MidiaNews – No aspecto político, o senhor não tem encontrado dificuldades na aprovação de projetos na Assembleia Legislativa. Qual análise faz disso? Está tudo em ordem politicamente?

Mauro Mendes – Estou satisfeito com o desempenho da área política do Governo. O secretário [da Casa Civil] Mauro Carvalho está conduzindo diretamente essa área de relacionamento. Tem feito um trabalho bastante profícuo. E os resultados têm sido esses: um relacionamento harmonioso com os poderes, respeitoso com a Assembleia Legislativa. É natural que tenha sempre oposição e é positiva quando é feita com inteligência e para o bem do Estado. Não ser contra por ser contra, porque o cidadão já não aceita mais isso. Nós estamos conseguindo apresentar bons projetos e até agora todos foram aprovados com ampla maioria.

MidiaNews – Maio é o mês que deveria ser paga a Revisão Geral Anual (RGA) dos servidores públicos. Como será tratada essa questão?

Mauro Mendes – As leis que foram aprovadas em janeiro estabelecem um critério claro e objetivo para o seu pagamento. Vamos ter que trabalhar muito. Vamos precisar contar com a ajuda dos servidores. Não depende agora só do governador, depende de cada servidor público em ajudar a economizar e daqueles ligados a receita, ajudarem a melhorar as receitas do Estado. Havendo uma melhoria e atingindo os índices, será pago. Então, agora, todo mundo terá que se esforçar, mexer o seu corpinho, para poder melhorar o salário neste Estado.

MidiaNews – O que o servidor pode fazer?

Mauro Mendes – Ajudar a economizar, a evitar desperdício, cortar despesa desnecessária. Em um Estado tão grande como este, com quase 100 mil servidores, mais de 80 mil servidores na ativa, precisamos que haja um engajamento. Isso não é responsabilidade só do governador, secretário ou dos que estão na Capital. Todo mundo pode ajudar economizando.

MidiaNews – Por conta daquele enfrentamento inicial, com os projetos aprovados na Assembleia Legislativa, criou-se um clima de acirramento. Isso pode atrapalhar esse objetivo?

Mauro Mendes – Eu vejo que o servidor está compreendendo muito bem o que está acontecendo no Estado. Os números estão aí para serem vistos e percebidos por todos. E o servidor sabe que se o Estado continuasse na mesma direção que vinha tendo nos últimos anos, Mato Grosso estaria como já estão alguns estados brasileiros, com três ou quatro meses de salários atrasados. O que adianta continuar tendo aumento e receber um salário a menos por ano, ter mais aumento e receber dois salários a menos por ano, ter mais aumento e três salários a menos por ano? Esse atraso salarial ia comprometer e piorar muito a qualidade de vida de todos os servidores. O que estamos fazendo é para o bem de Mato Grosso e para o bem dos próprios servidores.

MidiaNews – Onde ainda é possível cortar no Governo?

Mauro Mendes – Despesa é igual unha: você corta todo dia, mas ela cresce. Corta e ela cresce. É um exercício diário. Se todo mundo se preocupar em apagar a luz ao sair da sua sala, nossa conta de energia, que é quase R$ 10 milhões por mês, cai até 10%. E aí já são quase R$ 1 milhão por mês. Em 12 meses, são R$ 12 milhões. E assim vai. Existem dezenas de formas de se economizar. Seja economizando papel, energia, entre outros. E quando não puder economizar, não gaste o seu tempo desnecessariamente. Use para produzir alguma coisa, para o bem do serviço público e daquilo que prestamos para sociedade.

O equilíbrio fiscal de Mato Grosso será alcançado não só pelo esforço de reduzir despesa, mas também por aumentar a receita

MidiaNews – No projeto aprovado pela Assembleia, que trata da RGA, existe um gatilho para que daqui dois anos seja reanalisada a fórmula que determina o pagamento do benefício. Alguns servidores dizem que a RGA deve ser paga somente quando essa fórmula for revisada. É possível que esse pagamento ocorra antes?

Mauro Mendes – Temos um longo caminho até chegarmos nessa data. Até lá, centenas e centenas de problemas para serem analisados e decisões a serem tomadas. Cada um a seu tempo. O esforço agora é melhorar e buscar a construção do reequilíbrio econômico e financeiro de Mato Grosso. E benza Deus que chegaremos lá muito melhor e eu estou trabalhando por isso. Nós aqui estamos fazendo nossa parte. Trabalho em média 12 horas por dia. Se todos trabalharem, não precisa ser 12 horas, mas nas 8 horas que é o dever, fazendo o máximo, melhorando sua produção, não tenho dúvida que vamos encontrar essas condições em tempo menor que esse [de dois anos]. Terei grande prazer em comemorar junto com o servidor, voltar a dar os aumentos, desde que as condições sejam favoráveis. Agora, não podemos viver em um Estado que só pensa em dar aumento para servidor. O Estado vive só em função do servidor? Não. O Estado existe para prestar serviço para sociedade e para o cidadão e para isso precisamos dos servidores. Eles são muito importantes e merecem nosso respeito, mas estamos todos aqui para prestar serviços para sociedade e para mais de 3 milhões de mato-grossenses que vivem aqui.

MidiaNews – O Governo anunciou que faria uma análise criteriosa em cima da folha de pagamento, até por conta de altos salários. Isso está avançando? Já é possível ter uma noção de como está essa situação?

Mauro Mendes – Uma folha de mais de 80 mil ativos e 30 mil inativos é complexa. Tem muitos planos de cargos, carreiras e salários. Então, uma análise dessas precisa ser feita com muito cuidado. A Controladoria Geral do Estado faz constantemente auditorias. Tenho certeza que o Tribunal de Contas também faz. Estamos em vias de contratar uma auditoria independente para analisar essa folha. Esse é um esforço contínuo, porque em uma folha tão grande como esta, é possível que tenha havido e que possa estar ocorrendo desvio de conduta praticado por alguém. E nosso dever é auditar, fiscalizar, para minimizar ou evitar que isso continue acontecendo.

MidiaNews – Mas há algum diagnóstico que mostre que de fato há algum problema dessa ordem?

Mauro Mendes – O trabalho está em andamento. Eu não posso anunciar antes de receber o trabalho conclusivo.

MidaNews – Ainda que não tenha a RGA, existem progressões de carreira e leis dando ganhos reais para segmentos como policiais civis e professores. Há possibilidade de o Governo revogar essas leis?

Mauro Mendes – Essa análise está sendo feita pela PGE [Procuradoria Geral do Estado] à luz da legislação aprovada no mês de janeiro. Essa possibilidade será analisada e terá um parecer mias jurídico e econômico.

MidiaNews – Em relação a arrecadação, há algum esforço da Fazenda para combater a sonegação?

Mauro Mendes – O equilíbrio fiscal de Mato Grosso será alcançado não só pelo esforço de reduzir despesa, mas também por aumentar a receita. Neste momento, estamos trabalhando na Secretaria de Fazenda para que várias medidas, e algumas delas já vinham sendo tomadas, possam ser melhoradas. Isso passa pelo combate à sonegação; pela revisão de programas de incentivos fiscais; passa por uma eficiência tributária; por inteligência artificial, que vai criar novos mecanismos para que a eficiência da arrecadação possa ser aprimorada sem que haja investimentos em pessoas, mas em tecnologia. Então, existe uma série de ações que estão sendo implementadas para que a receita possa crescer muito mais que essa redução da despesa.

MidiaNews – Qual seria a porcentagem de eficiência dessa máquina arrecadadora?

Mauro Mendes – Com apenas três meses de Governo, ainda não tenho parâmetros para dar um indicativo dessa natureza. E eu não quero ser injusto com os profissionais que lá trabalham e estão trabalhando para dar um grau de eficiência. Não detenho o conhecimento necessário para proferir esse julgamento.

MidiaNews – Mas dá para melhorar?

Mauro Mendes – Não importa onde você esteja, nem o que você faça, sempre é possível e necessário que se melhore.

MidiaNews – Nesta semana, uma empresa de cereais de Sinop conseguiu uma decisão judicial para não pagar o novo Fethab. Depois, o Governo recorreu e conseguiu derrubar. Mas a argumentação era de que o Governo estava condicionando os benefícios da Lei Kandir ao pagamento do fundo. 

Mauro Mendes – Ele não condiciona. Estabelece um rito para você ter o regime especial de exportação. Não a isenção, mas ao regime especial. Porque a Lei Kandir diz que quando você exporta, tem o direito à isenção do ICMS, do PIS e do Confins. No caso do ICMS, isso trafega dentro do território nacional até os portos, existe regramento legal que permite ao Estado cobrar esse ICMS e depois de seis meses o Estado deve devolver se a pessoa comprovar que exportou. Existe um mecanismo chamado regime especial, que é faculdade que o Estado pode ter de autorizar que a pessoa exporte sem que pague antecipadamente esse imposto para ter o posterior ressarcimento. E dar isso é uma condicionante para aqueles que estão dentro do Fethab. Isso já existia há muitos anos, não foi criado no novo Fethab.

Eu me preocupo quando vejo uma autoridade constituída cometendo alguns desacertos e equívocos. Isso preocupa a todos nós

MidiaNews – O senhor esteve em Sinop recentemente e houve uma manifestações negativa de alguns produtores. Como está a relação com o setor produtivo?

Mauro Mendes – Tranquilo. Foram poucas pessoas [que o vaiaram]. Recebi isso naturalmente, porque é a manifestação de uma insatisfação que o cidadão brasileiro tem com relação ao Estado brasileiro e ao Estado de Mato Grosso. Eu também estou insatisfeito. Acha que estou alegre com todas essas mazelas que estou encontrando aqui? Se pudesse eu ficaria aqui um dia inteiro, um mês inteiro, um ano inteiro, vaiando ou criticando aqueles que fizeram coisas erradas ou que deixaram de fazer coisas certas. Mas isso não vai resolver.

O setor produtivo tem absoluta razão em estar cansado de ver aumentos de impostos. Mas, neste momento, precisamos consertar Mato Grosso. Eu disse com muita clareza, antes das eleições, que se eu fosse eleito governador, que iria reeditar o novo Fethab e buscar contribuições de todos os setores. E busquei. Não poupei ninguém e não pouparei ninguém neste momento. Precisamos consertar o Estado. Se ele continuar afundando, vai arrastar todo mundo. Vai arrastar a iniciativa privada, vai prejudicar o setor do agronegócio. Ninguém vai investir em um Estado que não tem viatura na rua, porque o Governo não tem dinheiro para pagar aluguel ou combustível para que as forças de Segurança possam se deslocar. Ninguém vem para um Estado em que as estradas ficam cada dia mais caóticas. Então, se queremos viver em Mato Grosso, temos que recuperar o Estado.

MidiaNews – Uma questão que não depende do senhor é a Previdência. O TCE afirmou que nos últimos três anos o déficit subiu mais de 100%. De que forma isso pode ser resolvido? Tem que esperar a reforma nacional?

Mauro Mendes – Existem algumas providências que poderíamos tomar aqui. Entretanto, existe uma reforma sendo trabalhada a nível nacional, debatida no Congresso Nacional, que terá efeito vinculante a todos os Estados. Então, estaremos aguardando o desfecho final em Brasília para fazer uma análise e eventualmente ver se é possível tomar alguma providência em Mato Grosso. Vamos aguardar.

MidiaNews – Segundo dados do Governo, se continuar da forma que está, em cinco anos…

Mauro Mendes – Teremos mais aposentados do que servidores trabalhando no nosso Estado. É extremamente alarmante. O déficit da Previdência, ou seja, aquilo que arrecadou no sistema previdenciário e o que se pagou para aposentados e pensionistas, foi de R$ 1,1 bilhão. De onde vem esse dinheiro, já que todos receberam? Vieram dos impostos que todos nós, todos cidadãos, todos os produtores, pagam neste Estado. Se esse déficit continuar aumentando, vamos ter que cobrar mais impostos para pagar aposentado nos próximos anos.

MidiaNews – Qual análise o senhor faz do Governo Bolsonaro?

Mauro Mendes – Eu me preocupo quando vejo uma autoridade constituída cometendo alguns desacertos e equívocos. Isso preocupa a todos nós brasileiros. Na condição de governador, prefiro deixar de analisar nosso presidente, porque não ficaria bem para mim, como governador de Mato Grosso, ficar emitindo opinião daquilo que o nosso presidente faz ou deixa de fazer. Mas como cidadão, tenho direito de dizer que gostaria que todas as autoridades constituídas neste País tivessem mais ética, mais decência, mais postura. Que todos pudessem compreender os desafios que são postos nos cargos que cada um ocupa e exercessem com grandiosidade para o bem do nosso País.

MidiaNews – Dos pleitos que já foram levados a Brasília, algum está tendo desdobramentos positivos?

Mauro Mendes – Fui muitas vezes a Brasília, falei com vários ministros de áreas econômicas, finalísticas, e tenho tido uma boa impressão da receptividade, da proatividade. Três meses é muito pouco para querer, na esfera do poder público, resultados concretos. O momento não é fácil. O Governo Federal também passa por dificuldades econômicas. Mas eu ainda estou otimista que mudanças positivas poderão acontecer no Brasil. Primeira, pela grande exigência que existe por parte da sociedade que a esperança vendida nas eleições possa se transformar em realidade. Segundo, que ou o Brasil faz as mudanças, reforma a Previdência, ou quebra num curto espaço de tempo.

Gostaria e vou trabalhar para entregar um Governo mais organizado e um Estado melhor em todas as áreas do serviço público. Esse é nosso grande objetivo

MidiaNews – Indicadores recentes mostram até mesmo a possibilidade de recessão no País. Houve queda da atividade econômica no primeiro trimestre. Isso te preocupa?

Mauro Mendes – Isso é verdade, porque a arrecadação do Governo Federal, vinda através do Fundo de Participação dos Estados (FPE), caiu no mês de fevereiro e março. Isso é um indicador de que há uma desaceleração do Governo Federal, que é reflexo de uma desaceleração da atividade econômica no Brasil. Muito preocupante. O PIB [Produto Interno Bruto] que no ano passado tinha um indicador de crescimento de 3%, o que seria bom, já aponta para 1% ou menos. Isso é muito ruim, porque longos anos sem crescer, não empurra para cima, puxa para baixo.

MidiaNews – Teme que todo o esforço que sua gestão está fazendo seja em vão caso a recessão volte e atinja Mato Grosso?

Mauro Mendes – É possível se o Brasil mergulhar novamente em uma crise. Mato Grosso não é uma ilha de prosperidade, isenta daquilo que possa acontecer no Brasil ou no mundo. Estamos fazendo nosso dever de casa, nossa lição, mas poderemos ser atingidos por uma força maior. Que é um colapso da economia brasileira ou até um desaquecimento da economia global.

MidiaNews – Vê elementos para isso?

Mauro Mendes – Eu diria que nossa expectativa para Mato Grosso é muito positiva. Com o Brasil é esperançosa. Com o mundo, existem muitos analistas que apontam para desaceleração da atividade econômica a partir de 2020, puxado por uma redução do crescimento da China e por outros fatores ligados a Europa.

MidiaNews – Como o senhor se classificaria politicamente, como gestor?

Mauro Mendes – Eu sempre fui um homem de resultados. Construí minha vida assim. Trabalhei por vários lugares, seja na área empresarial ou pública, usando este estilo. Eu acredito que é isso o que importa para as pessoas. São os resultados que você deixa. As conversas fiadas, os tapinhas nas costas, podem agradar no primeiro momento, mas não constroem uma relação e uma história sólida. Como governador, estarei sempre focado em entregar um Estado melhor. Gostaria e vou trabalhar para entregar um Governo mais organizado e um Estado melhor em todas as áreas do serviço público. Esse é nosso grande objetivo.

MidiaNews – Como o senhor deseja ser lembrado?

Mauro Mendes – Como um governador que pegou um Estado quebrado, como pegamos, em calamidade financeira, mas que teve a capacidade de liderar, ajudar, a reconstruir o Estado, reorganizar, para que o Estado seja um lugar cada vez melhor para que as pessoas possam viver. 

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