Conectado por

Mato Grosso

MIDIA NEWS: Eleição mais controversa de MT completa 40 anos; veja detalhes


Compartilhe:

Publicado por

em

Júlio Campos (na esquerda) quando era governador do Estado

Disputa entre Júlio Campos e Padre Pombo marcou a política mato-grossense e virou lenda no Estado

P U B L I C I D A D E

VITÓRIA GOMES
DA REDAÇÃO

O ano era 1982, durante a primeira disputa ao Governo de Mato Grosso com votos diretos desde instauração da ditadura militar no País. Marcada por um resultado acirrado que levou a eleição de Júlio Campos, o pleito completa 40 anos no próximo dia 15 de novembro.

Aquela foi a primeira eleição para governador no Brasil depois de 17 anos de votos indiretos, sendo que a última eleição democrática havia sido em 1965. Antes da redemocratização no Brasil, houve três pleitos indiretos, em que os líderes dos estados eram escolhidos pela Assembleia Legislativa.

Porém, em 1982 foi diferente. Ao todo, quatro candidatos disputavam o cargo de líder do Executivo no Estado, sendo eles: Júlio Campos, à época integrante do PDS, partido apoiado pela ditadura militar; Padre Raimundo Pombo, do então PMDB, partido de oposição; Anacleto Ciocari (PDT); e João Antônio Cabral (PT).

Em entrevista ao MidiaNews, o analista político Vinicius de Carvalho conta que mesmo com quatro nomes na disputa, os principais adversários eram Júlio e Padre Pombo, pois os mato-grossenses estavam divididos entre os representantes de direita e esquerda.

Os dois concorrentes eram candidatos equilibrados e houve uma disputa acirrada entre a dupla, deixando os nomes do PT e PDT como coadjuvantes.“Em 82 voltou a eleição direta como parte da redemocratização do Brasil, começou pelos estados. A eleição foi bem polarizada entre Júlio Campos e Padre Pombo”, relembra.

O analista lembra que na época, Júlio tinha apoio da máquina Federal e Estadual, ou seja, do presidente João Figueiredo e do então governador de Mato Grosso, Frederico Campos, que também era do PDS.Enquanto isso, Padre Pombo era um peemedebista que ajudou a fundar o partido em Mato Grosso e carregava a bandeira da sigla por onde passava. Cada um deles percorreu o Estado e usou de seus apoios políticos para angariar votos dos mato-grossenses.

A disputa foi tão acirrada, que no final da apuração pouco mais de 14,7 mil votos separavam o primeiro do segundo colocado. Na época, o estado tinha 61 municípios com um eleitorado de 580,4 mil. Pela contagem, Júlio recebeu 203.605 e Padre Pombo acumulou 188.878 votos, perdendo a disputa ao Governo.

“Foi uma eleição muito apertada, mas o Júlio Campos ganhou com 51% dos votos válidos contra quase 48% do Padre Pombo”, lembra o analista.

Não podia ligar ventilador. Hoje parece uma coisa ridícula, mas eles empilhavam cédulas, iam contando os votos e empilhando e se tivesse um ventilador as cédulas voavam e misturavam

Após a disputa histórica para a política mato-grossense, Padre Pombo não tentou outro cargo político no Estado e também não voltou para a igreja. Com o passar dos anos, sua saúde se fragilizou e ele acabou falecendo com 82 anos, no dia 29 de julho de 1996, em Cuiabá.

Já Júlio Campos se consagrou como uma das grandes liderança políticas de Mato Grosso e segue na ativa até hoje, sendo eleito em 2022 deputado estadual pela primeira vez.

Além de governador, ele também ocupou cargos no Senado da República, prefeito de Várzea Grande e deputado na Câmara Federal.

Urna nos rios

Além do acirramento entre os candidatos, outra complicação que marcou aquele pleito foi o uso das cédulas de papel para contabilizar os votos. Diferente da tecnologia das urnas eletrônicas que temos hoje, antes os mesários eram responsáveis por contar cada cédula a mão até chegar no candidato eleito.Carvalho conta que a apuração que hoje demora algumas horas, naquele tempo demorava semanas. Em uma eleição tão aguardada após a ditadura, os nervos dos eleitores e dos candidatos em 82 precisaram aguentar a precariedade dos votos impressos.

As equipes se reuniam principalmente no ginásio da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e lá eram contados e empilhados cédula por cédula. Isso sem contar as urnas que tinham que ser transportadas do interior.“Não podia ligar ventilador. Hoje parece uma coisa ridícula, mas eles empilhavam cédulas, iam contando os votos e empilhando e se tivesse um ventilador as cédulas voavam e misturavam. A maior dificuldade”, diz Carvalho.

Em meio a este período caótico de apuração, uma lenda surgiu. Testemunhas relatavam que viam urnas boiando nos rios após as votações, dando a entender que diversos votos haviam sido descartados de propósito.Apesar dos boatos durarem até hoje, Carvalho garante que não há nada que comprove a estória dos eleitores da época. O crime, em seu ponto de vista, seria muito amador caso fosse praticado tão descaradamente.

“Acho que é muito do folclore e realmente seria algo muito amador, porque ficaria muito visível. Deixar uma urna boiando é deixar rastros, até porque urna não boiava, ela era feita de lona naquele período”, explica.

Acusação de fraude

Mesmo com Júlio saindo vencedor do pleito, as especulações em cima daquela eleição estavam muito longe de terminar. Segundo Carvalho, logo após o término da apuração, o PMDB começou a levantar suspeita sobre fraude. No entanto, mesmo com toda mobilização do PMDB em abrir ações na Justiça, a 1º Zona Eleitoral indeferiu todas as acusações formuladas pela sigla por considerá-la inepta e preclusa, ou seja, fora do prazo de questionamento.

Devido a isso, foi mantida a validade da votação que elegeu Júlio Campos. Protestos foram feitos e houve recurso da sigla, porém a decisão persistiu e o caso se manteve como um das maiores polêmicas eleitorais do Brasil.

Entre no grupo do MidiaNews no Telegram e receba notícias em tempo real (CLIQUE AQUI).

 

MIDIA NEWS

 

Veja ainda:

 

Julio Campos: “Nasci político; venci a cirrose e fecho currículo na AL”

 

Nossa webrádio parceira: dj90.com.br