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Julio Campos: “Nasci político; venci a cirrose e fecho currículo na AL”


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CÍNTIA BORGES – Mídia News

Aos 75 anos e longe de cargos eletivos há sete anos, o figurão da política mato-grossense Julio Campos (União Brasil) volta à cena. Desta vez, como deputado estadual, cargo que jamais havia ocupado.

P U B L I C I D A D E

Filho de Amália Curvo de Campos e Seo Fiote, Julio que foi gerado no meio da política. “Ainda grávida, minha mãe fazia campanha pro General Dultra que era do PSD, partido a qual meu pai foi fundador”, contou ao MidiaNews.

O resultado foi que aos 25 anos, Julio se tornou prefeito de Várzea Grande. Depois disso, ocupou cargos como chefe do Paiaguás, no Senado da República e, por último, já na Câmara Federal, um câncer no fígado o fez se afastar da política forçadamente.

Já recuperado, admite que a política é como “cocaína” e garante que está no seu último mandato eletivo, a pedido dos filhos. “Para fechar o currículo”, revelou.

Este ano, quando completa 50 anos de vida pública, Julio faz uma análise do cenário político de Mato Grosso que poucos fazem e promete uma legislatura participativa. “Sou marinheiro de primeira viagem. […] Eu chegarei à Assembleia com humildade, mas colocando em pauta temas importantes ao Estado”, garantiu.

Sem papas na língua, o ex-democrata fala da gestão Mauro Mendes (União Brasil), do novo posto na Assembleia Legislativa, da construção de seu partido e uma análise do passado e do futuro eleitoral para Cuiabá e Mato Grosso.

Confira os principais trechos da entrevista:

Julio Campos 

O deputado eleito Julio Campos: “Meus filhos e netos não queriam que eu retornasse, consegui autorização para um só mandato”

MidiaNews – Em julho de 2014, o MidiaNews publicou uma entrevista em que o senhor dizia que estava deixando a política para aproveitar seus últimos anos de vida. Já passaram oito anos e o senhor foi eleito deputado estadual. O que o fez mudar de opinião?

Júlio Campos – Era a minha intenção encerrar a carreira política em 2014. Porque na época estava como deputado federal e meu mandato terminava em janeiro de 2015. Nesse período, tive um problema de saúde sério: descobri que tinha uma cirrose hepática, tive que me submeter a uma fila de transplante de fígado e apenas em 2017 consegui ser transplantado. Naquele período estava abatido, até na minha imagem física. Estava pesando pouco mais de 60kg, estava achando que não ia sobreviver. Porque um transplante, de qualquer órgão é complicado e o de fígado muito mais.

Eu achava que estava no final da vida. Mas graças a Deus fiz um transplante, recuperei, voltei as atividades. E quando recuperei meu peso, a cor, e a disposição começou a pressão dos amigos e correligionários: “Volta para política, você está bem. Nós estamos carentes de um político popular”

Com voto contrário da família, porque meus filhos e netos não queriam que eu retornasse, consegui autorização para um só mandato. “Já que o senhor está assanhado, o senhor saia a deputado estadual para fechar o currículo”, disseram eles.

MidiaNews – Será seu último mandato?

Julio Campos – Possivelmente, sim. Ninguém sabe. Eu também dizia que não iria mais voltar, então… Se eu tiver com saúde e força, pretendo viver um pouquinho ainda [risos].

MidiaNews – Em outra entrevista, o senhor disse que política é igual cocaína, a gente não consegue largar. Não superou esse vício?

Julio Campos – É verdade. A gente pensa que passou, mas esquece. É mentira! O político natural, o verdadeiro, não esses falsos de hoje que só pensam em ganhar dinheiro, não conseguem. Eu nasci em 1946 para ser político. Nunca deixei de ser político.

MidiaNews – Que análise faz do político Júlio Campos? De que se orgulha em sua vida pública?

Julio Campos – São vários fatores que me deixam feliz e orgulhoso. Porque, hoje, é muito comum ter políticos que em um ou dois mandatos se tornam ficha suja. Se enlameiam, enlouquecem com o poder e fazem bobagem.

Em 15 de novembro deste ano, vou fazer 50 anos da minha eleição como prefeito de Várzea Grande, pela Arena, com 25 anos de idade. E até hoje, você nunca ouviu falar que o Julio Campos foi envolvido com nada de improbidade administrativa, corrupção… Eu posso dizer que sou ficha limpa. Não vou dizer que sou puro e imaculado da conceição, mas me engrandece ser um homem que trabalhou muito por Mato Grosso.

Até hoje, você nunca ouviu falar que o Julio Campos foi envolvido com nada de improbidade administrativa, corrupção… Eu posso dizer que sou ficha limpa

MidiaNews – O analista Onofre Ribeiro disse recentemente que Mauro Mendes teria uma eleição tranquila, porque não existem mais lideranças políticas como Jayme, Carlos Bezerra, Júlio e Blairo Maggi. O que levou a esse vácuo em sua opinião?

Julio Campos – Há algum tempo, Mato Grosso tem um grave defeito: o governador é eleito e imediatamente não tem oposição na Assembleia Legislativa. Todos os deputados – mesmo os eleitos contra ele – aderem imediatamente em uma puxação de saco, uma coisa horrível.

O Jayme não teve oposição, Dante teve uma oposição fraca e após Blairo a oposição piorou. Veio aquela história de Governo de resultado. O resultado foi que acabou com oposição. Hoje, na Assembleia quem faz oposição ao Mauro Mendes? Ele teve erros? Teve, mas nenhum surgiu a tona. Porque todos os deputados, lamentavelmente, se oferecem para ser base e ter algumas vantagens. Ou seja, não há formação de lideranças.

É tão vexatório que todos os candidatos ao Senado queriam estar no palanque do Mauro Mendes. Era uma vergonha. O Neri Geller zangou, porque não conseguiu ser, a Natasha Slhesarenko não conseguiu também, o Wellington mendigou, ficou se arrastando. Ele, mesmo disputando eleição há três anos contra o Mauro, imediatamente aderiu ao governador e queria ser candidato a senador na chapa dele. É impressionante o governismo em Mato Grosso. A pedição e a mendicância política em Mato Grosso.

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MidiaNews – E como irá se portar dentro da Assembleia Legislativa?

Julio Campos – Sou do União Brasil, sou amigo do governador, votei, apoiei, porque acho que ele fez um bom Governo. Vamos ser justos: Quando ele pegou o Estado há quatro anos, Mato Grosso estava quase quebrado. Mauro Mendes conseguiu recuperar as finanças, incentivar a economia em um momento de pandemia. Mato Grosso cresceu.

Após essa recuperação, ele está fazendo um investimento grande na infraestrutura urbana e rural, também no setor de Saúde. O Mauro o seu maior ponto de sucesso será a saúde pública, porque está construindo seis grandes hospitais. O Estado está boas mãos como gestor. Politicamente, ele tem seus erros, sem dúvida. Agora, temos certeza, absoluta, que nesse segundo mandato ele concluirá as obras em andamento.

MidiaNews – E quanto ao Legislativo, acredita que será subserviente ao governador ou, por ser o último mandato dele, a oposição pode crescer?

Julio Campos – O Mauro é apolítico, vamos reconhecer. O Mauro não faz muita questão de ter entrosamento com a classe política partidária. Como gestor ele é muito bom, mas como político ele deixa um pouco a desejar. Ele já aprendeu nesse primeiro mandato que precisa ter um bom relacionamento, não só com o Legislativo, mas com o Judiciário, com o Ministério Público e o Tribunal de Contas, porque ninguém trabalha sozinho. Tanto é que os três Poderes devem ser organizados harmonicamente e fortes.

Então, no que depender de mim, faremos o esforço no sentido de que se mantenha esse bom relacionamento. Até porque, há deputados novos que foram eleitos que podem criar uma celeuma maior.

MidiaNews – Acredita que, nos últimos anos, a Assembleia empobreceu na questão dos debates?  

Julio Campos – O político Ulysses Guimarães, homem que liderou a oposição brasileira durante o regime militar com muita coragem e competência, quando perguntado sobre qual o pior Congresso, dizia: “É o próximo”. Então, se não houver providência, cada vez vai piorar mais o nível de debate nos legislativos brasileiros. Piorou o Congresso Nacional e muito. Antigamente tínhamos nomes importantes como Paulo Brossard, Jarbas Passarinho, Marcos Freire, Tancredo Neves.

Eu chegarei à Assembleia com humildade, mas colocando em pauta temas importantes ao Estado.

MidiaNews –  O deputado Botelho recentemente deu uma cutucada no senhor dizendo que você “não conhece o partido” e por isso fez previsões como a de que o União faria apenas três cadeiras na Assembleia, quando na verdade, se mantiveram as quatro. Há um arranca rabo dentro da sigla?

Julio Campos 

Julio Campos, nega atrigo com correligionário e presidente da Assembleia Botelho. “Pelo contrário. Somos amigos e até parentes”

Julio Campos – Não, nesse sentido, não. É que as pesquisas mostravam que com certeza faríamos três, podendo fazer quatro, mas jamais com a chance de fazer cinco. O deputado Botelho fez uma campanha muito glamorosa, não é? Excessivamente custosa, cara. Ele talvez, por estar mais estruturado financeiramente, com poder na mão de eterno presidente da Assembleia, empreiteiro forte do Governo, talvez tivesse mais conhecimento da avalanche de votos que a União Brasil poderia ter.

Eu estava fora de mandato, sem apoio político nenhum, apenas do eleitor. Fui sozinho, com Deus e o povo e com pouco recurso. Mas o que acredito é que, se tivéssemos preenchido as 25 vagas, e não 19, tínhamos eleito um quinto mesmo. A Direção Estadual do partido pecou em não preencher as 25 vagas, nem que fosse com pequenos candidatos.

Mas não há atrito com Botelho, pelo contrário. Somos correligionários, amigos e até parentes.

MidiaNews – Senti um pouco de ironia na sua fala ao classificar Botelho como “eterno presidente”. Em entrevista recente, Janaina declarou que há um conservadorismo na Assembleia. Como vê essa questão da Mesa Diretora no Legislativo?

Julio Campos – Já está montada a chapa pelo que eu sei, não é? Vai ser de novo a dobradinha Botelho e Max Russi. Não há nenhuma expectativa de compor a Mesa. Nem da Janaina que está lá dentro quanto mais de quem está fora.

MidiaNews – O senhor foi chamado para conversar?

Julio Campos – Ainda não.

MidiaNews – Mas se for, pretende fazer algum tipo de oposição ao que for colocado?

Julio Campos – Não, eu sou marinheiro de primeira viagem. Primeiro, vou chegar lá, assumir meu mandato, vou aprender a ser deputado estadual. Porque sempre fui brasiliense, agora que serei parlamentar em Cuiabá. Para você ter uma ideia, nem sei andar no prédio da Assembleia.

Acredito que ninguém vai contestar a reeleição do deputado Botelho. Se a lei permite, ele faz uma boa gestão e é candidato natural.

MidiaNews – Essas construções de comandos e lideranças em especial dentro da Assembleia tem a ver com as eleições da 2024, em especial para Prefeitura de Cuiabá?

Julio Campos – A Mesa Diretora influencia muito pouco nas eleições municipais.  O que acho é que o União Brasil, se tiver interesse em disputar a sucessão do prefeito Emanuel Pinheiro, tem que preparar o candidato no ano que vem.

Eu vi uma declaração do governador recentemente que diz que tem seis nomes disponíveis. Quem tem seis nomes, não tem nenhum. Partido que tem muito nome, não tem nenhum candidato. Essa tese é antiga. Vai acabar acontecendo o que foi a eleição de 2020, quando tínhamos Botelho, Fabio Garcia, Gilberto Figueiredo, mas terminou que a gente caiu nos braços do Roberta França. Resultado: 14 mil votos, quinto colocado.

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Perdemos a eleição, elegemos uma só vereadora, a Michelly Alencar, mas graças ao prestigio pessoal dela e com o apoio da dona Virginia Mendes que pegou para valer a candidatura dela. Fora isso, não fizemos ninguém. Ou seja, em 2023, devemos escolher um nome, deixá-lo preparado, investir e valorizá-lo, prepará-lo, para disputar para valer. Porque não vai ser fácil.

Temos dois candidatos fortes: o prefeito já anunciou que vai indicar seu vice, o Roberto Stopa, que é um nome popular no meio da cuiabania. E também teremos o Abílio Junior, que voltou com uma força política muito grande, como deputado federal mais votado em Cuiabá e um dos mais votados em Mato Grosso. Então, temos dois nomes fortes para o contexto de 2024 e está na hora do nosso partido reunir urgente para analisar o quadro político.

O que acho é que o União Brasil, se tiver interesse em disputar a sucessão do prefeito Emanuel Pinheiro, tem que preparar o candidato no ano que vem; Partido que tem muito nome, não tem nenhum

MidiaNews – Qual a sua análise do União Brasil em Mato Grosso nesse momento?

Julio Campos – O partido tem que se reunir para saber: vamos ficar juntos todos ou cada um vai cuidar de si? Porque até hoje não houve nenhuma reunião após a eleição. Essa disputa foi diferente das demais. Houve coligações e traições de tudo quanto é jeito.

Veja o PSB, elegeu quatro estaduais e nenhum federal. Então, o que que houve? Traição generalizada. Quem votou no Max Russi, não votou no Allan Kardec, nem na Dona Neuma. Foi uma eleição esdrúxula, sem partidarismo. Então, está na hora dos filiados – se quer fazer um partido – sentar e começar a tratar do União Brasil. Ver quem é quem, organizar o partido nos municípios para o processo sucessório de 2024. Caso o contrário, os nossos companheiro vão se sentir abandonados.

MidiaNews – Opositores do Emanuel garantem que esta eleição foi o “fim político” da família Pinheiro. O senhor tem essa avaliação? Crê que Emanuel errou em lançar a esposa sem nenhum preparo?

Julio Campos – Não foi correto, mas ele não tinha saída. O grande candidato de oposição, quando não havia a coligação do PL com União Brasil, era o Wellington Fagundes. Ele é medroso. Decidiu não ser candidato e vir à reeleição na chapa do União Brasil. O outro candidato era o senador Carlos Fávaro, que teria mais chance de sucesso. Cogitou-se vários nomes e no final, sobrou para a pobre da Marcia Pinheiro enfrentar essa bomba.

No último dia da convenção improvisaram a primeira-dama de Cuiabá para ser candidata ao Governo. Sem nenhum preparo, sem base. Eu fiquei com dó. Em certos municípios do interior, ninguém sabia que tinha uma candidata da oposição. Ela teve 17% de votos, por mera coincidência, porque no interior não chegou o nome dela.

Não teve estrutura. Tanto é que, se o Lula tivesse vindo ao menos uma vez em Cuiabá, talvez, melhorasse o desempenho dela. Ou ela tivesse se preparado melhor para os debates. Mas foi improvisado.

Mas não vejo o fim da família na política. Emanuel conseguiu eleger o filho, o Emanuelzinho, que é um deputado atuante, um jovem preparado, pode ter um futuro brilhante na política de Mato Grosso. A política é como nuvem. Hoje, está nublado para o Emanuel, mas daqui há dois anos ou quatro anos, pode não estar.

MidiaNews – Nuvem? Como?

Julio Campos – Em 1986, o Carlos Bezerra ganhou a eleição para governador contra Frederico Campos. Ele havia eleito a maioria dos deputados estaduais, a maioria dos federais, me substituindo. E dizia à imprensa: “Os Campos nunca mais”.

Passado quatro anos, quem volta substituindo? Jayme Campos, eleito governador e eu Julio Campos eleito senador, derrotando ele. Ele tomou uma surra que jamais esperava. E os Campos, que segundo ele tinham acabado, elegeu Maggi, Pedro Taques e agora Mauro Mendes.

Então, aquela frase que ficou famosa em Mato Grosso: “Os Campos nunca mais”, que acharam que tínhamos acabado, não acabamos coisa alguma.

E não estou eu ressuscitado? A mesma urna que enterrou Bezerra, ressuscitou Julio.

MidiaNews – E para as eleições a presidente, apoia quem?

Julio Campos – Eu votei em Bolsonaro, continuarei assim. O PT fez mal ao Brasil quando governou o Brasil. Havia muita coisa ruim, corrupção, desmandos no Governo Lula e Dilma. Está ruim com Bolsonaro. Não é o presidente dos meus sonhos, muito pelo contrário. A maneira que ele age, comporta… mas entre o Lula e Bolsonaro, ainda fico com Bolsonaro. Com toda ruindade, estripulias e esquisitices, ainda é melhor, porque é um governo sério e honrado.

MidiaNews – Acredita que ele consegue reverter o cenário do primeiro turno?

Julio Campos – Muito difícil. Se reverter, será um heroísmos.

MidiaNews – E nesse cenário, o Lula poderia emperrar o dialogo com Mato Grosso, em especial por Mauro Mendes apoiar a candidatura de Bolsonaro?

Julio Campos – O Lula é um homem inteligente. Ele já foi presidente, e foi razoável administrativamente e socialmente, mas pecou pela corrupção. Nem sei se ele fez, mas a sua equipe aprontou muitos desmandos.

Se eleito, ele terá que governar para o Brasil, não para seu grupo. Quem ganhar, vai ganhar por um ou dois por cento, então, não é vitória. É lei.

 

MIDIA NEWS

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