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“Geometria em Síntese”: o preto e o branco na arte brasileira


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Simões de Assis Galeria de Arte apresenta “Geometria em Síntese”, coletiva com curadoria de Felipe Scovino. A exposição retrata a aplicação do preto e do branco, por meio de obras produzidas no Brasil – a maioria entre as décadas de 1950 e 1970 -, e destaca o papel do pensamento construtivo na arte nacional, um contraponto ao que o curador denomina de “aspecto solar do projeto moderno brasileiro” carregado de cores.

P U B L I C I D A D E

Nesse período, existia um desejo de mudança, movido pela chegada do abstracionismo, para garantir ao país uma projeção internacional, especialmente com a instituição da Bienal de São Paulo. Ocorreu então, em 1954, o “Salão do Preto e do Branco”, um protesto contra o descaso do governo com os materiais utilizados na produção visual brasileira.

“A insatisfação dos artistas – tendo à frente Djanira, Iberê Camargo e Milton Dacosta – tem origem em 1952, quando a Carteira de Exportação e Importação do Banco do Brasil cassa as licenças de importação de tintas estrangeiras, com a justificativa de encontrar a indústria local apta a satisfazer as necessidades dos artistas. Pouco tempo depois, houve a possibilidade da geração seguinte de artistas – os concretos e neoconcretos – ter as tintas importadas e uma nova tecnologia de produção ao seu dispor”, contextualiza Felipe Scovino.

Os trabalhos evidenciam a ideia funcional e projetual das artes plásticas e sua associação com o campo fotográfico. Destacam-se os olhares sensíveis de German Lorca, Geraldo de Barros e José Oiticica Filho, e os desenhos criados a partir de singelas percepções do cotidiano, marcados pela austeridade e complexidade minimalista.

Além disso, “a fotografia deixa de ser ‘o espelho da realidade’ para se tornar espaço de invenção. A linha não é mais uma linha, nem o plano é mais um plano”, explica Scovino. As “Fotoformas”, por exemplo, retratam o pioneirismo de Geraldo de Barros, que fundiu fotografia e pintura.

“Não há uma preocupação imediata com questões de identidade nacional nesses compromissos estéticos, mas um anseio legítimo e autoral de investigar a forma e a função do objeto de arte. Seja experimentando as novas percepções ópticas do objeto, seja investigando e ampliando as fronteiras da pintura e da escultura, esses artistas tinham um interesse em comum: associar de forma ainda mais duradoura a arte e o cotidiano. Portanto, a passagem do plano ao espaço, valorizada por uma crítica mais formalista a respeito dessas produções cinéticas e concretas, pode ser entendida também como uma perspectiva fundamental para se entender a ligação de artistas como Geraldo de Barros, Hércules Barsotti e Willys de Castro com as experiências da cidade, em especial suas produções de cartazes e móveis”, declara o curador.

“Geometria em Síntese” reúne 38 trabalhos dos artistas: Amalia Giacomini, Amilcar de Castro, Daniel Feingold, Eduardo Coimbra, Geraldo de Barros, German Lorca, Hélio Oiticica, Hércules Barsotti, José Oiticica Filho, Luiz Sacilotto, Maria Laet, Mira Schendel, Paulo Roberto Leal, Ricardo Alcaide, Ruben Ludolf, Sergio Camargo, Wanda Pimentele Willys de Castro.

Contexto histórico, por Felipe Scovino

“As experiências construtivas no Brasil têm sido objetos constantes de exposições, livros e ensaios nos últimos tempos. Coloco-as no plural porque são inúmeras as especificidades desses trabalhos que foram desenvolvidos com maior densidade entre os anos 1950 e 1970. Definitivamente não houve um projeto construtivo, mas uma vontade plural em rever os caminhos da arte.

Passado o modernismo e o seu desejo de construir e discutir uma identidade nacional pautada no indivíduo antropófago que se voltava simultaneamente às suas origens, ao contágio estrangeiro e ao tempo presente, as experiências construtivas se veem localizadas no bojo de um tempo, que, por um lado, se constituía de forma rápida, dinâmica e desenvolvimentista, e, por outro, era marcado por demandas sociais e políticas, envolvendo especialmente o que poderíamos definir como políticas do corpo – o movimento hippie, o ‘Flower Power’, as ‘Panteras Negras’, o ‘Maio de 68’, movimentos reivindicando o direito das mulheres, etc, se constituem no panorama desse período. É o ambiente para a aparição do neoconcretismo, por excelência.

Contudo, no início dos anos 1950, em meio à construção de Brasília, ao plano de Metas de JK, à industrialização e ao desenvolvimento da ciência, no plano das artes, em específico, é o momento em que a institucionalização da arte constrói uma nova ideia de espaço moderno, como pode ser observado na fundação dos museus de arte moderna no Rio e em São Paulo, além da criação do MASP e da Bienal de São Paulo.”

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