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Crítica: “Amor de Mãe” é lançado e encanta por ser poderoso e poético – Por Marcos Souza


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Filme foi lançado na noite de ontem (31), no Cine Veneza

P U B L I C I D A D E

Na noite de sexta-feira (31) o Cine Veneza, localizado na região central de Porto Velho, estava aberto para uma noite de gala, de festa, a avant-premiére do filme “Amor de Mãe”, produção rondoniense com roteiro do jornalista e empresário Paulo Andreoli e direção do ator e diretor Anselmo Vasconcellos.

Só faltaram os holofotes de luz infinita focados no céu e um tapete vermelho que percorresse a calçada, mas os sorrisos, brilhos nos olhos de todos envolvidos nessa produção, desde os idealizadores e realizadores até a equipe técnica e auxiliares, dispensavam o luxo para dar a poesia da felicidade por esse momento singular.

O mantenedor, o maestro, o que arregimentou toda essa festa áudio visual foi Paulo Andreoli, que tem o poder de unir laços por uma ideia, seguir um sonho e dar estrutura, razão de acontecer e motivar. Esse esforço fica nítido na tela do cinema quando ocorre o arrebatamento visceral de imagens poderosas, com outras delicadas, na suavidade do vento que bate do rio às folhas da floresta com o canto do pássaro.

Quando a sala fica escura e a retina acolhe as primeira imagens, os ouvidos apurados são tomados pela poesia que delinea o que virá pela frente, as imagens – em 4 k – saturam em alguns momento e enchem os olhos com a beleza plástica da floresta, o velho rio Madeira em sua pujância, a narrativa cadenciada como a batida de tambor, ora vem, ora vai, cortes delicados e outros precisos.

A luz linda da Amazônia que encanta em suas tomadas que plastificam a visão ribeirinha, na imagem da chuva, do barco que singra o rio, a rezadeira que acolhe o “filho” e o amor metafórico do Boto pela Cuniã Poranga, une a urgência da folia e a sutileza do toque e da sensualidade, sem ousadia, mas predisposto a apaixonar.

No roteiro de Paulo e na visão de Anselmo, a história, não linear, mostra o jornalista em busca da história que cultua o rio, que tolhe as rimas, o ritmo da lenda amazônica, a mãe universal e encanto do conto nas palavras da velha moça, rodeada pelo seu povo, a sua gente, todos atentos, impressionados.

Em dado momento o comandante do navio não deixa de emocionar ao contar que o pirata, o homem que se torna o anarquista do rio, o “Coringa” ou o Chico Boto, que rouba o encanto da índia, que semeia a sua raiz e dá o mote ao amor.

É um filme telúrico, quase zen, se não fosse por uma ou outra ação envolvendo armamento, violência, mas no contraponto da busca da pureza do que a vida pode oferecer e transformar, como a mata é e a referência dos costumes, o encanto da selva. É um tudo esmiuçado em regionalismo novo.

No aspecto técnico é irrepreensível. Fotografia linda, como cabe a delicadeza das tomadas aéreas ou no cerne da floresta, no navegar no rio. O apuro do refino das filigranas da iluminação ou na trilha que não tem crescento, mas branda e precisa, dando o tom do filme e que marca.

“Amor de Mãe” não é um filme para se ver numa tacada e já sair com uma opinião formada, mas um filme delicado, de camadas, que proporciona surpresas e encantos.

A interpretação e direção sensível de Anselmo Vasconcellos ponteia a narrativa, que te leva a imagens comuns ao largo da beira do rio Madeira e a sua população rica em lendas – como a do Boto – e na preservação de suas tradições, tão poderosa quanto necessária.

O filme deve ser lançado em streaming também, se possível assista mais de uma vez, a primeira vista aquilo que pode parecer apenas forma e visual, vai ganhando o corpo de uma história delicada, mas poderosa.

“Amor de Mãe” traz um respiro para o cinema regional, produzido em Rondônia, e é louvável que os envolvidos tenham entregue um trabalho tão bonito, gostoso de ver e extremamente profissional. Vai ganhar e é merecedor de prêmios.

Em dado momento no discurso antes da exibição do filme, quando o jornalista Domingues Júnior falou a respeito de sonhos, lembrei que fazer filme na Amazônia pode ser como a força de uma determinação de um Fitzcarraldo, quando ele, no filme do diretor alemão, Werner Herzog, consegue no meio da floresta subir um barco num barranco, contrariando a física e em determinado momento, na agonia desse esforço ele, Fitzcarraldo, em um diálogo com um caboclo, ribeirinho amazonense, diz:

– Você não é um camponês infeliz! É o melhor bêbado que houve nesta terra! Mas esquecemos algo. Caruso. Enrico Caruso!

Entra a voz de Caruso e assistimos perplexos aquela embarcação grande e pesada subindo, no estalar das toras no meio, mas é no meio da floresta amazônica e fica o impossível se tornando possível, o impensável se transformando em algo concreto. (Veja essa cena clicando AQUI)

“Amor de Mãe” não é uma obra prima, mas é um filme de responsabilidade coletiva entre os seus envolvidos e deixa uma marca pioneira de entrega, determinação e um sonho virando realidade. Rondônia também é terra de fazer filme, e filme muito bom.

 

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