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Aquecimento global causará ondas de calor ainda mais intensas do que as vistas neste verão europeu, diz estudo


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Em um mesmo ano, a Alemanha atingiu 42,6ºC no dia 25 de julho, e -18ºC, em 22 de janeiro. As ondas de frio e de calor parecem que são opostas e uma novidade, mas sempre existiram no planeta e são resultado de fenômenos parecidos. O que muda com o aquecimento global é a intensidade e a frequência.

P U B L I C I D A D E

Um estudo publicado nesta segunda-feira (19) pela “Nature Climate Change”, liderado por cientistas da Universidade Humboldt de Berlim, usou análise estatística para prever um cenário 2ºC acima da temperatura média registrada nos anos pré-industriais. Teremos mais calor, mais seca e mais chuvas.

  • Os dias quentes serão mais frequentes;
  • O estudo mostra que a chance de fortes ondas de calor durarem mais do que duas semanas aumenta em 4%;
  • Períodos secos e quentes em um tempo superior a duas semanas serão 10% mais prováveis na América do Norte, principalmente na parte central;
  • O dado mais alarmante está relacionado às chuvas nas zonas temperadas do Norte do planeta: há previsão de uma alta de 26% com relação ao que vemos hoje.

Uma prévia do cenário deste estudo alemão foi sentida nos últimos meses de junho e julho europeus. Pelo menos oito países quebraram a máxima histórica neste verão: Reino Unido (38,7ºC), Alemanha (41,7ºC), Bélgica (41,8ºC), França (45,9ºC), Luxemburgo (40,8ºC), Países Baixos (40,7ºC), Holanda (40,4ºC) e Escócia (31,6º). Portugal teve a temperatura mais alta registrada em 26 verões. Em Lisboa, foram 44ºC. Em Alvega, no distrito de Santarém, os termômetros chegaram a marcar 46,8ºC.

“O que estamos vendo é uma perturbação de uma máquina termodinâmica e a Terra está respondendo com comportamentos anormais, um aquecimento progressivo e, além disso, uma alta dos eventos extremos, de calor e de frio”, disse a pesquisadora María José Sanz, diretora-científica do Basque Centre for Climate Change (BC3), na Espanha.

Mais calor

O aumento da temperatura é real. Os dados do gráfico acima apontam uma alta de 0,91°C a 0,96ºC na Terra entre 2009 e 2018, uma comparação entre o monitoramento da Nasa e da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos Estados Unidos (NOAA). Os valores são uma média. Por isso, eventos de frio isolados não podem ser usados como argumento para negar o aquecimento do planeta. Já eventos extremos e mais frequentes, sim, de acordo com os especialistas ouvidos pelo G1.

No caso do continente europeu, a Agência Europeia do Ambiente (EEA, em inglês) revela uma alta de 1,6ºC a 1,7ºC acima dos registros do período pré-industrial no mesmo período. A Europa experimentou ondas de calor em 2003, 2006, 2010, 2014, 2015, 2017, 2018 e neste ano.

“Podemos esperar impactos extremos crescentes no clima durante o verão e em níveis mais altos de aquecimento. Nossa pesquisa mostra que limitar a 1,5ºC, como o que foi decidido entre os países no Acordo de Paris, reduziria esses impactos. O que temos em mente, no entanto, é que no atual ritmo de emissões temos um mundo a caminho de 3ºC”, disse Carl-Friedrich, um dos autores do estudo publicado nesta segunda-feira.

Os fatores relacionados às mudanças do clima aceleram as ocorrências desses fenômenos no hemisfério Norte – por isso os países da região têm uma temperatura média mais alta do que a global. O primeiro deles, que está documentado no último relatório especial publicado pelo IPCC, é que as áreas continentais têm um aumento mais acentuado do calor do que as oceânicas. Basta olhar o mapa mundi para entender que a parte norte da Terra tem um território terrestre maior.

Há, ainda, o que aconteceu especificamente no mês de julho de 2019, verão na parte Norte do planeta. Os gases do efeito estufa, emitidos pelo Brasil principalmente devido a uma alta de 278% nos alertas de desmatamento no mês de julho, foram liberados junto a uma série de incêndios florestais: a agência espacial americana (Nasa) aponta mais de 2,7 milhões de hectares na Sibéria; na Espanha, o sistema de monitoramento Copernicus, apoiado pela agência espacial europeia (ESA), registrou a pior série de incêndios florestais em 20 anos; artigo publicado no Financial Times na sexta-feira (16) diz que a Alemanha perdeu 110 mil hectares em florestas por causa do calor.

A foto, de 29 de julho, mostra o incêndio na floresta na região de Krasnoyarsk, no leste da Rússia. O fogo já atingiu 30 mil quilômetros quadrados na Sibéria e no leste russo. — Foto: Russian Federal Agency of Forestry via AP

A foto, de 29 de julho, mostra o incêndio na floresta na região de Krasnoyarsk, no leste da Rússia. O fogo já atingiu 30 mil quilômetros quadrados na Sibéria e no leste russo. — Foto: Russian Federal Agency of Forestry via AP

O fogo também atingiu as florestas nos Estados Unidos, no Canadá, em Israel, no Brasil. O estado do Maranhão, por exemplo, registrou 1.045 focos de incêndio nos primeiros cinco meses deste ano, de acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Em Roraima, foram 4.600.

Emissões de gases

No meio de tudo isso, os incêndios não são o fator líder em emissões de CO² no mundo – são a queima de combustíveis fósseis, a agropecuária e as mudanças do uso da terra (desmatamento, por exemplo). É importante entender que é o excesso do gás carbônico, e outros gases em menor quantidade, que gera o aquecimento, o tal do efeito estufa. Em Vênus, nosso vizinho no Sistema Solar, a atmosfera é 96% composta por CO² e a temperatura passa dos 400ºC.

As emissões bateram recorde em 2018, na contramão das metas internacionais para diminuir a temperatura da Terra. A Sociedade Americana de Meteorologia mostra que a liberação de gás carbônico e outros gases, como metano e dióxido nitroso, continua aumentando. A consequência: um efeito de aquecimento 43% maior do que em 1990.

Efeito cascata

As emissões causam o aquecimento, que leva aos eventos extremos. Parece também contraditório o fato de os fenômenos existirem, na verdade, porque são uma tentativa de equilíbrio da Terra – o que sempre aconteceu, mas em menor intensidade.

A tal “máquina termodinâmica” dita pela pesquisadora María José são os jatos de vento que descem do polo Norte para a Europa e sofrem com o bloqueio de um sistema de alta pressão sobre a região. O mesmo acontece com os jatos que passam pelo Saara no verão. O vento se movimenta para manter a temperatura terrestre em dia. Quanto maior desequilíbrio, também será a frequência.

Impacto dos ventos do Saara — Foto: Wagner Magalhães/G1

Impacto dos ventos do Saara — Foto: Wagner Magalhães/G1

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