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Manicure se livra de marido abusivo e vira empresária de sucesso


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“Começou com xingamentos, depois foi para os empurrões. Quando percebi, eu já apanhava praticamente todos os dias”. A declaração é da mato-grossense Cláudia Ferreira, de 43 anos, que foi agredida por cerca de sete anos pelo ex-marido quando era casada.

P U B L I C I D A D E

Apesar de todo o sofrimento, ela encontrou forças e conseguiu reconstruir a sua vida novamente. Hoje, ela é empresária, dona do “Studio Claudinha Ferreira”, localizado na frente de um shopping no Bairro Duque de Caxias, em Cuiabá.

Especialista em alongamento de unhas, ela inaugurou recentemente uma loja de produtos para manicure, no Shopping Popular, no Bairro Porto.

A história da empresária se mistura com a de muitas outras que surgem diariamente. De acordo com a Secretaria de Estado e Segurança Pública (Sesp), apenas em 2018 foram registradas 7.884 ocorrências de lesão corporal, envolvendo mulheres como vítimas.

Neste ano, até o mês de junho, já são 4.927 ocorrências, além de 21 feminicídios. O número de assassinatos representa redução foi de 16% se comparado ao mesmo período de 2018, quando 25 mortes foram registradas.

Os dados alarmantes só chamam atenção para o descaso da população com esse tipo de crime e o medo que as vítimas sentem de denunciarem o agressor. Claudinha, como gosta de ser chamada, foi uma das que optou por não denunciar o ex-marido à Polícia por medo. Hoje, ela carrega as cicatrizes “no corpo e na alma”, como ela mesma diz.

Claudinha Ferreira Studio

Alair Ribeiro/MidiaNews

“Eu tinha medo, porque eu tinha três filhas pequenas para cuidar”, relembrou a empresária

Em entrevista ao MidiaNews, a empresária conta que, por conta de sua escolha no passado, atualmente busca ajudar mulheres que passaram ou passam pelo mesmo tipo de violência doméstica que ela já viveu, dando palestras e contando a sua história, para motivar e dar forças a quem precisa sair do ciclo ao qual ela se encontrou presa por tantos anos.

“Na época, eu era leiga e meu pai era o meu protetor. Depois que ele morreu, eu não tinha mais uma casa pra morar se eu me separasse. Então, eu tinha medo, porque eu tinha três filhas pequenas para cuidar”, relatou.

Segundo Claudinha, foi após a morte do pai, que as agressões ficaram piores e mais constantes.

“Começou com xingamentos, depois foi para os empurrões. Quando percebi, eu já apanhava praticamente todos os dias. Se eu saísse e ele chegasse em casa primeiro, eu apanhava. Ele falava que eu estava com outra pessoa e aí me batia. Eu já apanhei de facão, já apanhei até desmaiar”, contou.

A empresária relata que tentou, por várias vezes, esconder os hematomas dos irmãos mais novos e das filhas, e que decidiu dar um basta, após considerar que a vida de seus familiares estava em risco.

Não muito diferente das outras histórias de agressões dentro do casamento, a empresária afirma que acreditava quando o marido pedia desculpa e que não iria mais bater nela. No entanto, com o tempo, o sentimento mudou e ela passou a ter medo de enfrentar a vida.

“Ele sempre ameaçava minha família. O meu maior medo era de não conseguir me sustentar. Sempre pensava o que ia comer, onde ia morar, porque até então eu não tinha um emprego fixo. Eu sabia fazer unhas e era de vez em quando, uma ali, outra aqui, mas não era nada fixo”, relembra.

Mudança de vida

A última surra que Claudinha levou foi de facão. Esse também foi o ápice para dar um basta no relacionamento abusivo.

Claudinha Ferreira Studio

Alair Ribeiro/MidiaNews

Claudinha é dona de um Studio, no Bairro Duque de Caxias, na Capital

“Fui casada por sete anos e as agressões eram constantes. Mas no outro dia, ele sempre me pedia desculpa e eu acreditava nele. No começo era porque eu amava, mas depois de um tempo era por medo de não conseguir sobreviver, medo de enfrentar a vida. Foi quando encontrei refúgio no mundo das unhas, que foi o que me tirou desse mundo que vivia. E daí eu tive de onde tirar meu sustento”, disse.

Livre das amarras do passado, a empresária se mudou com as três filhas e foi morar de aluguel, passando a pagar as contas com o trabalho de manicure, que até então era sempre incerto.

Sua vida começou a mudar para melhor quando um de seus irmãos a indicou para trabalhar em um salão de beleza, na região central de Cuiabá. Na época, a moda era fazer desenhos nas unhas, e essa arte a mato-grossense dominava com maestria.

A partir daí, ela foi indicada para trabalhar em outro salão mais “badalado”, onde conheceu o atual marido.

Após um tempo juntos, os dois decidiram tentar investir na venda de produtos para alongamento de unha – técnica que Claudinha estava se especializando.

“No começo a gente batia de porta em porta para vender os produtos e com isso eu consegui ir até o Rio de Janeiro para me especializar na técnica de alongamento de unhas. E ele foi comigo em todos os cursos”, diz.

Recentemente, a empresária foi até a Rússia para fazer outro curso de especialização em alongamento de unhas, onde passou 15 dias.

Apesar da experiência, hoje em dia, a empresária que tem cerca de 12 funcionários em seu estúdio, diz que faz pouco o trabalho de manicure, apenas quando é solicitada. Agora, além de oferecer cursos para quem quer se especializar com a técnica que aprendeu, ela busca dar palestras sobre violência doméstica.

“O meu maior medo era de não conseguir me sustentar. Sempre pensava o que ia comer, onde ia morar, porque até então eu não tinha um emprego fixo”

“O que eu busquei mesmo na Rússia foi conhecimento para eu passar para as pessoas. Porque todas as vezes que eu dou curso, tenho a oportunidade de contar a minha história. E todas as vezes, não existe uma pessoa que não se emocione ou que não tenha passado pelo mesmo que já passei”.

“O que me deixa feliz é poder ajudar, porque só eu sei o que eu passei. Eu estou focando nas palestras que quero fazer contra a violência doméstica, porque eu percebi que muitas mulheres ainda sofrem. E esse tipo de violência não tem classe social, está em todos os meios”, diz, emocionada.

Sobre o atual relacionamento, Claudinha se considera feliz e diz que, apesar de todo sofrimento que passou, não tem medo de se arriscar em confiar novamente.

“Sou feliz porque posso ajudar as pessoas. Eu posso dar uma profissão para essas mulheres. Muitas meninas que fizeram cursos comigo se espelham em mim, querendo alcançar o que alcancei”, afirmou.

“Dificilmente você vai me ver triste. Eu sempre tive uma confiança de que tudo iria dar certo e sempre deu”.

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