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“Estou vivendo cada segundo; não movo uma palha pela reeleição”


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Prestes a completar dois anos de gestão, o prefeito cuiabano Emanuel Pinheiro (MDB) desconversa quando o assunto é reeleição.

P U B L I C I D A D E

Despachando da obra do novo Pronto-Socorro, onde montou seu gabinete, ele afirma que está focado no mandato: “Estou vivendo cada segundo deste mandato, sem a mínima preocupação com a reeleição. Nem lembro que vai ter a reeleição. Não movo uma palha pela reeleição.”

Em conversa com o MidiaNews, nesta semana, Emanuel fez um balanço de sua gestão, falou sobre a vitória de Mauro Mendes (DEM) e avaliou a gestão de Pedro Taques (PSDB) – que, para ele, deve continuar na vida pública.

O prefeito também falou sobre suas principais ações e do impacto do chamado Escândalo do Paletó, quando foi flagrado pegando maços de dinheiro no Palácio Paiaguás, ainda na gestão de Silval Barbosa. 

“Eu tenho a convicção, e vou provar, que não tenho nada a ver com esse mar de lama que colocaram meu nome”, disse.

Leia os principais trechos da entrevista:

MidiaNews – O senhor tem negado que será candidato à reeleição, até para não antecipar o processo, o que é comum na política. Mas essa possibilidade é natural. O senhor será candidato?

Emanuel Pinheiro – Todo chefe de Executivo que está no cargo é um candidato natural à reeleição, mas eu não penso isso. Se fosse para dar uma resposta hoje, diria que não seria, porque sou a favor da alternância de poder, de se debater novos quadros a cada quatro anos. Então, sempre pensei assim. Sempre fui contra o princípio da reeleição, porque defendo a alternância de poder. E falava muito isso nas aulas como professor de Direito Constitucional.

E eu estou tão envolvido, tão apaixonado, tão em lua de mel com o mandato, que não quero perder um dia desse mandato. Se dependesse da minha esposa, era só um abraço, passo a faixa e não dou nem entrevista. Meu único objetivo, e te falo isso de corpo e alma, é ser lembrado como um dos maiores prefeitos da História de Cuiabá. Esse é meu desejo. Meu sonho era ser prefeito e achava que não seria mais.

Fico vendo as pessoas brigando e falando: podem preparar [o sucessor]. É natural que o partido lance fulano, beltrano e ciclano. Eu já sou [prefeito]. Sou um homem realizado de poder ser o prefeito da minha cidade nos 300 anos. Quando em minha vida iria imaginar isso? Achava que Deus já tinha me tirado essa possibilidade de ser prefeito da minha cidade. Então, nesse ponto, estou longe desses debates. Estou vivendo cada segundo deste mandato, sem a mínima preocupação com a reeleição. Nem lembro que vai ter a reeleição. Não movo uma palha pela reeleição. Tudo o que faço é pensando em melhorar Cuiabá, a vida das pessoas.

MidiaNews – Como os políticos dizem: “Mas, lá na frente, se a população desejar…”.

Emanuel Pinheiro – Eu, sinceramente, não penso nisso. Vejo companheiros falando… Até por conta das experiências. O segundo mandato tem que ser muito bem avaliado. Assim que Fernando Henrique Cardoso lançou em 1997 o instituto da reeleição, naquele primeiro momento era bom, era um ponto favorável, mas com o tempo passou a ser um tiro no pé.

MidiaNews – Isso é relativo, depende do gestor.

Emanuel Pinheiro – Concordo que é relativo, mas acho que a reeleição quebra um dos princípios da democracia, que é a alternância de poder. Você pode não querer usar a máquina, mas o grupo pode usar, a tentação de usar… Você pode acabar gerando muitos problemas. A menos que renuncie ao cargo, como [o ex-governador de São Paulo] Mario Covas fez. Mas acho que é um descompromisso com a população. Eu fiz um compromisso para quatro anos de mandato. Quando eu sou provocado a pensar, como estou sendo agora, começo a sopesar isso tudo. Então, prefiro pensar o que sinto hoje, que é a resposta mais verdadeira: não penso, não estou preocupado, já sou prefeito e sou o homem mais feliz, mais realizado na vida pública. E não penso em reeleição, se tiver que pensar, estou inclinado a não ser candidato.

O futuro a Deus pertence. Se eu, de forma desarmada, fizer um grande trabalho, continuar trabalhando, trabalhando, tudo é um processo natural. Desde que fui eleito vereador, na idade do Emanuelzinho, há 30 anos, eu queria ser prefeito aos 35, governador aos 40 e presidente da República aos 50 anos. Eu achava que era o cara e que o mundo girava em torno de mim.

Aí, coloquei a cara e ganhei, com 27 fui reeleito, sendo o mais votado. Com 29 anos, fui eleito deputado. Com 33 anos, fui reeleito com uma grande votação. Achei que era o cara. Saí a prefeito contra o [Roberto] França e tomei uma saraivada, fiquei em último lugar, com 3% dos votos. Eu tinha colocado na cabeça que tinha que ser prefeito de Cuiabá. E toda eleição eu colocava meu nome de alguma forma, mesmo quando estava sem mandato. Tentei de todo jeito, mas de alguma forma eu era preterido. Quando consegui ser, que atropelei meio mundo, foi um fiasco, me abandonaram e eu fui o último. Eu que ajudei o França a ganhar no primeiro turno, pela péssima votação que fiz. Depois, larguei. Fui reeleito deputado em 2014 e quis ser presidente da Assembleia, porque em 2017 faria 50 anos que o meu pai foi presidente. E eu sou muito ligado a datas. E dia 1º de fevereiro de 2017, quando tomaria posse o próximo presidente, completaria 50 anos que meu pai foi presidente. E coloquei na cabeça que queria ser presidente. E me preparei. Larguei a Prefeitura de Cuiabá, estava na mão de Deus se seria Mauro Mendes ou outro, porque eu não seria. Virei prefeito de Cuiabá.

MidiaNews – Acha que é destino?

Emanuel Pinheiro – Destino. Apesar de Antônio Carlos Magalhães ter dito que prefeito e governador eram trabalho, e presidente da República era destino. Mas acredito que comigo foi destino. Porque eu larguei. Todas as eleições eu trabalhava para ser, mas não dava certo. Essa eu tinha largado de mão. Sempre falo para o Emanuelzinho que na idade dele eu trabalhava já pensando nas próximas eleições, eu não vivia o mandato. Hoje, os ensinamentos da vida e esse episódio me ensinaram a me dedicar de corpo e alma àquilo que você conquistou. Deixa que o resto seja consequência natural. Se eu fizer um grande trabalho, será uma consequência natural.

“Primeiro, acredito que Cuiabá precisa criar um conceito de dar sequência a boas obras dos gestores. Você não tem o direito de parar aquela obra porque foi o outro que começou

MidiaNews – O senhor assumiu a Prefeitura após uma gestão bem-sucedida de Mauro Mendes, segundo a opinião pública, com vários projetos que se mostraram corretos e que o senhor está dando continuidade. Houve algumas trocas de farpas no período eleitoral. Qual sua expectativa em relação à gestão dele no Governo, em especial em relação a Cuiabá?

Emanuel Pinheiro – Primeiro, acredito que Cuiabá precisa criar um conceito de dar sequência a boas obras dos gestores. Você não tem o direito de parar aquela obra porque foi o outro que começou. Então, acho que isso já vinha seguindo, principalmente do Chico [Galindo] para cá. O [Roberto] França com o Wilson Santos foi mais ou menos, mas o Chico manteve e melhorou, o Mauro com o Chico e eu com o Mauro. Isso não é nenhum demérito. Não é ruim pegar aquilo que está dando certo e melhorar, ampliar, é o bem-estar da população, bom para cidade e você se valoriza. Que bom que os últimos gestores se nivelaram por cima. Um padrão de aprovação de 70% para cima não é bom para a cidade, independente de quem é o gestor? Então, é ótimo que seja dessa forma.

E nesta linha, eu só posso ter a melhor das perspectivas com o Mauro Mendes, porque ele foi prefeito de Cuiabá. Ele conhece a cidade, os problemas, sabe o dia a dia da gestão pública, conhece as dificuldades da gestão. Tenho uma expectativa altamente positiva, uma relação institucional para melhorar a nossa cidade, a vida das pessoas, fazer grandes parcerias por Cuiabá. O que depender de mim, nesse sentido, vou fazer e já estou fazendo, só estou dando um tempo para ele. Um grupo de prefeitos até me ligou e me convidou para ir lá sentar com o governador. Eu falei: “Deixa o homem, ele está levantando agora a realidade do Estado, agora que está ficando mais íntimo da realidade do Estado. Só vai ter o conhecimento de fato quando sentar lá. Dá um tempo para ele”.

MidiaNews – Vocês conversaram após a eleição?

Emanuel Pinheiro – Só parabenizando. Liguei para parabenizá-lo, me colocando à disposição e no momento que ele achar oportuno, vai me chamar. Mas não é agora, atropelando. Agora, que ele está com a equipe de transição andando, recebendo as primeiras informações oficiais. Tem que esperar ele tomar posse, tem que dar um tempo. Depois é a hora de sentarmos, porque vai ter condições de saber. Então, tenho uma convicção de que vai ser boa a relação. Nossa convivência vai ser positiva.

MidiaNews – Qual o peso de uma parceria dessas para Cuiabá

Emanuel Pinheiro – É preponderante, principalmente pela capacidade de investimento muito limitada. Não obstante os recursos próprios terem dado uma boa reagida na minha gestão, a gente prezou por isso, sem botar a faca no pescoço do contribuinte. Atacamos muito a sonegação e a inadimplência. Estamos avançando muito nessa área. Mas temos atrasos em algumas verbas do Estado, alguns problemas aqui ou acolá, e isso acaba nos deixando com capacidade limitadíssima de investimento. Então, o Estado é muito importante. A União é fundamental. Por isso o prefeito tem que ser um grande agregador.

MidiaNews – Dentro da atual conjuntura econômica, pode-se dizer que o governador Pedro Taques tem sido um bom parceiro?

Emanuel Pinheiro – Dentro das limitações, porque ele enfrentou muitas crises, ele foi um bom parceiro. E falei isso para ele. Estive com ele após as eleições, me solidarizando. Ele é jovem, já foi senador, governador, tem tudo pela frente. Ele vai ser julgado lá na frente, ninguém julga agora. Agora é paixão política. Com o tempo é que vão julgar o que ele fez ou deixou de fazer. Agora, é trabalhar, bola para frente. O que ele pôde fazer por Cuiabá, fez. Eu tenho até uma ponta de ciúmes, porque ele fez muito mais com o Mauro do que comigo. Mas ele fez.

MidiaNews –  Qual sua avaliação em relação à derrota de Taques? O que faltou a ele?

A má articulação política cega as pessoas. Coloca uma cortina de fumaça nos seus olhos. Ninguém gosta de ser destratado, não ouvido, ignorado

Emanuel Pinheiro – Articulação política. As pessoas, às vezes, confundem política com politicagem. Mas é política nobre, com ‘p’ maiúsculo. Articulação com os segmentos políticos, com as forças políticas, com a sociedade como um todo, com os segmentos organizados da sociedade, do servidor público, construindo pontes, não paredes, nesses contatos. A má articulação política cega as pessoas. Coloca uma cortina de fumaça nos seus olhos. Ninguém gosta de ser destratado, não ouvido, ignorado. Às vezes, se passou isso e se dificultou muito a construção de uma relação saudável entre o governador e vários segmentos da sociedade, Poderes e instituições.

Construiu-se muitas paredes nessa relação ao longo de quatro anos e pouquíssimas pontes. Os assessores mais diretos não viram isso, não se atentaram, e foi cavando um buraco cada vez maior nessa relação, a ponto de ninguém conseguir enxergar os feitos do governador Pedro Taques. Só consegue enxergar os defeitos. Todo governo tem defeitos e qualidades e na sua articulação você potencializa um ou outro. Então, ele potencializou e muito e perdeu a mão nos defeitos. Ninguém consegue descrever agora os feitos do governo Pedro Taques. Mas vai aparecer.

Tanto é que ele conseguiu derrubar a rejeição dele, fazendo 90 mil votos em Cuiabá [Taques teve 82,7 mil votos em Cuiabá e ficou em segundo lugar]. Quase a mesma votação do Wilson Santos. Isso significa 30% dos votos válidos da Capital. Do jeito que ele estava, essa votação me assombrou. Isso mostra que ele tem uma semente plantada, mas como vai ser regada essa semente, depende muito dele daqui para frente. Mas acho que ele vai ter seu reconhecimento.

Todo mundo busca a estabilidade, mas o Pedro fomentava muito o enfrentamento, o conflito. Eu falava muito isso quando era deputado. Mas para governar bem, precisa criar estabilidade. Essa falta de estabilidade, fomentada com a inexperiência política do começo da gestão, dele e do grupo em torno, é que ocasionou essa ruptura entre ele e a sociedade em um primeiro momento. Quando ele acordou, ainda conseguiu ter uma avaliação razoável. O desdobramento disso vai depender dele.

Foi o mesmo fenômeno que ocorreu comigo no começo da carreira. Ganhou, ganhou… Ele colocou a cara, em uma coragem violenta, e ganhou para o Senado. Quatro anos depois, furou a fila de várias pessoas e ganhou no primeiro turno para o Governo. Se você não tem uma estrutura política, emocional e assessores que te orientem, você tende a achar que tudo o que você fizer vai dar certo e que o mundo gravita em torno de você. Eu gosto do Pedro, acho que ele teve feitos que serão reconhecidos lá na frente. Fomos grandes adversários, não viramos aliados, mas viramos adversários de respeito, por Cuiabá, o que nos aproximou no diálogo institucional. Mas acho que o que houve fundamentalmente para ele foi uma falta de articulação política que poucas vezes eu vi na minha vida pública.

MidiaNews – O senhor defende que Taques continue na vida pública?

Emanuel Pinheiro – Defendo. Ele foi senador da República, governador do Estado. Tem 50 anos. Pedro Taques é jovem e tem uma experiência muito grande. Deixa o povo decidir. Mato Grosso não pode deixar de contar com um talento político e administrativo como Pedro Taques.

MidiaNews – Qual cargo?

Emanuel Pinheiro – Depois que você é governador, está credenciado para qualquer cargo. E deixa o povo decidir, avaliar.

MidiaNews – Ele já falou em ser prefeito de Cuiabá.

Emanuel Pinheiro – [Risos] É uma boa opção. Ele teve 90 mil votos aqui e seria um candidato forte. Tem que ser julgado. Ele tem muito o que falar, muito o que mostrar e enriquecer o debate. Eu só acho que um homem com o currículo dele… Não podemos prescindir de talentos políticos assim, independente do nível de aceitação momentânea. Há uma máxima que diz que não há derrota permanente, nem vitória permanente. Você tem que estar preparado para toda derrota ser a antecipação de uma vitória, porque ela vai vir. E ele tem esse currículo.

MidiaNews – Acha, então, que ele teria viabilidade para uma eventual candidatura à Prefeitura?

Ele saiu com uma boa imagem como prefeito de Cuiabá. Saiu bem avaliado. Construiu, ao seu estilo, com sorte e talento, o projeto para o Governo do Estado. Deu certo. E teve méritos para isso

Emanuel Pinheiro – Não estou lançando-o à Prefeitura [risos]. É diferente. Eu acho que a partir do momento que você foi governador do Estado, está credenciado a ocupar qualquer cargo. Eu só acho que não podemos perder bons nomes por paixão, seja Pedro Taques, Wellington Fagundes, Mauro Mendes e tantos outros. São nomes de valor, de peso.

MidiaNews – E como analisa a vitória do Mauro Mendes, que teve uma expressiva votação e conseguiu 58,6% dos votos válidos?

Emanuel Pinheiro – Ele saiu com uma boa imagem como prefeito de Cuiabá. Saiu bem avaliado. Construiu, ao seu estilo, com sorte e talento, o projeto para o Governo do Estado. Deu certo. E teve méritos para isso. Soube unir um grupo que não foi de oposição, era uma dissidência do grupo que elegeu Pedro Taques, e ele conseguiu passar esse recado como se de oposição fosse. Foi muito talento, habilidade e articulação dele e do grupo. O momento era dele e ele soube aproveitar esse bom momento.

Somado a isso veio a total desestruturação do Pedro e uma desestruturação também do Wellington. Eles não montaram a candidatura. Eles não tinham campanha, não tinham estrutura política, não tinham nada. Na região Oeste, o pessoal ligava dizendo que não tinha nem santinho do Wellington. Isso também afetou. Parece que a campanha estava só em Cuiabá, na Baixada. Talvez, a nova legislatura eleitoral acabou fazendo isso. O problema do Taques foi desestruturação política, a do Wellington foi eleitoral.

MidiaNews – Não percebe que o Wellington teve dificuldades em se estabelecer como oposição?

Emanuel Pinheiro – Sim, a ponto de o Mauro ter assumido a postura de candidatura de oposição, quando na verdade o grupo dele era dissidente do Taques. Mérito para ele [Mauro Mendes], que teve essa competência, soube agregar.

MidiaNews – Não esperava que o Wellington fosse empolgar mais?

Emanuel Pinheiro – Ele foi bem, não tinha campanha. Acho que tanto ele quanto Pedro foram bem demais. Não tinha campanha, a não ser em Cuiabá, que eu entrei depois, dando uma ajuda. E eu deixei bem claro: não fui contra o Mauro, fui a favor do Wellington. Falei isso na campanha. Entramos aqui e organizamos mais ou menos a campanha dele. Mas no Estado inteiro estava assim. O que ele teve foi a projeção, uma força política grande que ele tem por seus 30 anos de mandato.

MidiaNews – É natural com a vitória que o Mauro Mendes se organize para ter um candidato em Cuiabá. Um dos nomes citados é do Fabio Garcia. O senhor tem essa expetativa? Está pronto para enfrentar um candidato dele?

Emanuel Pinheiro – É aquilo que falei… É natural e acho bom que nomes surjam, apareçam, que possam colaborar com o fortalecimento da política na Capital e no Estado. Sou a favor da renovação. Qual foi a maior renovação da política este ano? Foram poucas. Tivemos o [Nelson] Barbudo, fruto de um momento, e o Emanuelzinho. Foram as duas novidades políticas, além de algumas novidades pontuais na Assembleia Legislativa, mas que também foram fruto do momento da política nacional. Eu torço que essas renovações no Parlamento Estadual se transformem em forças políticas, para o bem de Cuiabá e do Estado. Então, acho natural que ele, como governador, e seu grupo, se organize. O segundo poder político do Estado é a Capital e é natural de quem está no Governo querer avançar. E depende muito do nosso trabalho, da nossa luta, para fazer frente a isso.

MidiaNews – As urnas deste ano deram alguns recados, não só em relação à renovação, mas aqueles envolvidos em denúncia acabaram varridos. Nesse sentido, no seu caso, a denúncia que ficou conhecida como “Escândalo do Paletó” pode ser um impeditivo para uma eventual reeleição e até para sua carreira política?

Eu tenho a convicção, e vou provar, que não tenho nada a ver com esse mar de lama que colocaram meu nome. Esse é um ponto. O outro é que meu trabalho por Cuiabá é tão intenso, tão apaixonado, tão espontâneo, tão natural, que tenho certeza que a população está vendo isso

Emanuel Pinheiro – Eu tenho a convicção, e vou provar, que não tenho nada a ver com esse mar de lama que colocaram meu nome. Esse é um ponto. O outro é que meu trabalho por Cuiabá é tão intenso, tão apaixonado, tão espontâneo, tão natural, que tenho certeza que a população está vendo isso. Veja a eleição do Emanuelzinho. O único prefeito de Capital, dos sete que lançaram, que teve o filho eleito. Se eu não tivesse essa credibilidade, esse apoio da população cuiabana, ele poderia ter sido afetado. Mas se somou aí o prestígio político do nosso grupo, que é muito forte, a tradição da família, vindo do avô dele, e a renovação que ele representa. Ele somou tudo isso.

MidiaNews – Acha, então, que da eleição do Emanuelzinho pode ser feita uma análise do impacto do episódio do paletó? Foi um teste?

Emanuel Pinheiro – Uma eleição é igual Copa do Mundo, tem a cada quatro anos, mas uma não tem nada a ver com a outra. Então, cada eleição é um momento, um processo.

MidiaNews – Mas não pode ser um indicativo do ânimo do eleitorado em relação a esse episódio?

Emanuel Pinheiro – Eu creio que sim. E claro que o esclarecimento de tudo isso é essencial, mas creio que sim. Nosso grupo político é muito forte, estamos trabalhando muito por Cuiabá, pela Baixada Cuiabana. E Emanuelzinho é a renovação desse grupo. Ele é um novo quadro e outros vão surgir, também, para, junto com ele, reoxigenar esse grupo, manter viva a tradição da família, prestar serviços a Cuiabá e ao Estado e liderar esse grupo, que é forte e as urnas mostraram.

MidiaNews – Então, acredita que mesmo com o impacto negativo desse caso, seu trabalho, sua gestão e suas entregas podem ter peso fundamental para amenizar o que aconteceu?

Emanuel Pinheiro – Eu acho que é o trabalho. Tenho que trabalhar, que é o compromisso com a população cuiabana. Tudo vai se esclarecer na esfera judicial. Isso vai ser mostrado, que não tenho nada a ver com esse mar de lama que tentaram me jogar. E paralelo a isso, sou prefeito da Capital e tenho compromisso com a população e tenho que fazer a entrega de obras, ações, projetos que melhorem a vida das pessoas. E vejo que a população está enxergando isso. Tenho trabalhado diuturnamente para que sejam alcançadas essas metas.

MidiaNews – Há alguns questionamentos, inclusive de aliados, no sentido de uma demora ou falta de efetividade no contraponto à denúncia. Isso se dá em função de uma priorização da esfera jurídica em detrimento da opinião pública?

Emanuel Pinheiro – Tudo tem seu tempo e é claro que a priorização da esfera jurídica é fundamental, estamos mexendo com minha vida, meu nome. Me anseio por isso, mas é necessário a priorização da esfera jurídica, que tem seu tempo, seja necessária, para que isso seja esclarecido. Vai ter o seu momento, assim que definido pelo Supremo Tribunal Federal, em que eu confio. Confio no trabalho do Ministério Público Federal e Estadual, que estão à frente de todo esse processo.

MidiaNews – A programação dos 300 anos pode ser considerada bastante ousada. De todos aqueles projetos anunciados, vai ser possível cumprir a maior parte?

Eu tenho convicção que o Emanuelzinho vai ser um dos maiores políticos deste Estado. Jovem de tudo, foi um grande candidato, soube atrair a tradição, a força política do avô, a força política do grupo e soube liderar esse momento de uma maneira extraordinária

Emanuel Pinheiro – Eu até brinco, porque as pessoas já estão vivendo a gestão dos 300 anos e não estão se dando conta. A Avenida Mato Grosso é a gestão dos 300 anos; a licitação do complexo do Porto é a gestão dos 300 anos; a licitação dos viadutos é a gestão dos 300 anos; os parques das Nascentes e da Família são a gestão dos 300 anos; os 200 quilômetros de asfalto de Cuiabá são os 300 anos; os R$ 228 milhões, dos quais R$ 110 milhões já estão sendo investidos no saneamento básico, fazendo de Cuiabá um canteiro de obras, são os 300 anos; a licitação dos ônibus é os 300 anos; a construção do novo Pronto Socorro é os 300 anos. Está tudo em andamento, estamos vivendo a gestão dos 300 anos. Estamos dentro dela e só vamos nos dar conta de tudo no final, porque meu compromisso é de quatro anos.

Eu fico vendo as declarações e parece que o mundo vai acabar no dia 8 de abril, que é o fim do meu mandato. Não. O dia 8 de abril é a cereja do bolo, a festa, o momento, o apogeu, a glória, da data, mas a gestão é dos 300 anos. Tanto é que a Sec300 vai até 31 de dezembro de 2020. Sai junto comigo da Prefeitura de Cuiabá. Até porque seria impossível fazer tudo em dois anos e meio.

MidiaNews – Diante da sua negativa, ou reticência, em relação à reeleição, seria possível o lançamento do Emanuelzinho como candidato a prefeito?

Emanuel Pinheiro – Eu tenho convicção que o Emanuelzinho vai ser um dos maiores políticos deste Estado. Jovem de tudo, foi um grande candidato, soube atrair a tradição, a força política do avô, a força política do grupo e soube liderar esse momento de uma maneira extraordinária. O Emanuelzinho é meu melhor amigo, tem a opinião dele e faço questão que tenha. Ele não tem que pensar igual a mim. A gente conversa muito, ele me ouve muito, mas ele tem as ideias dele, os posicionamentos dele, que não precisam ser iguais aos meus. O que importa é que somos muitos ligados um ao outro. Ele e o Elvis [filho mais novo] são meus melhores amigos. E politicamente a gente conversa muito. Na eleição para prefeito, em especial no segundo turno, ele foi meu braço direito. O que posso dizer é que tudo tem seu tempo. Ele tem 23 anos. Vai ser um dos maiores políticos desta geração. Tem um futuro brilhante e tenho certeza que vai dar muita alegria a Cuiabá, Mato Grosso e Brasil. Falar em Prefeitura agora, só se for destino, coisa de Deus. Mas tudo tem seu tempo e não tenho dúvida de que o céu é o limite para força política do meu filho.

O Wilson Santos me disse que pesquisou na história política de Mato Grosso – ele é historiador. Nunca houve três gerações na política em nível estadual. A primeira é esta, com Emanuel Pinheiro da Silva Primo, meu pai, que começou em 1962 como deputado estadual mais votado, foi reeleito em 1966. Foi duas vezes presidente da Assembleia Legislativa e depois deputado federal. Aí, vem eu, depois o Emanuelzinho. Pai, filho e neto.

MidiaNews – Gostaria que o senhor falasse a respeito do Pronto Socorro. O senhor trouxe o gabinete para cá, inclusive houve alguns comentários de que seria uma jogada de marketing. 

Emanuel Pinheiro – Bem, como disse quando foi anunciado, o olho do dono é que engorda a boiada. Então o grande responsável para se tocar essa obra e entregá-la à população cuiabana e mato-grossense é o prefeito. Então eu não poderia deixar em segundo plano uma obra dessa envergadura, uma obra dessa magnitude, dessa importância na vida das pessoas, principalmente depois que eu consegui o recurso totalmente inesperado, numa articulação política direta do ministro Blairo Maggi e do senador Wellington Fagundes, em pleno processo eleitoral agora deste ano.

Bem, como disse quando foi anunciado, o olho do dono é que engorda a boiada. Então o grande responsável para se tocar essa obra e entregá-la à população cuiabana e mato-grossense é o prefeito

Então a liberação desse recurso – são R$ 100 milhões para a conclusão dessa obra – estava ligada diretamente à entrega desta obra no mês de dezembro desse ano pelo programa Chave de Ouro, criado pelo presidente Michel Temer, que pegaria obras de grande importância nas principais capitais ou cidades brasileiras e o governo ajudaria a concluir. Para isso, essas obras teriam que ser entregues, totalmente ou maior parte delas, no mês de dezembro com a presença do presidente da República – e nós conseguimos. 

Então quando veio a notícia, que foi um bálsamo para todos nós, porque o governo do Estado, eu sei a dificuldade do governo de liberar os R$ 82 milhões, então eu estava buscando alternativa. Aquele dinheiro foi usado para o custeio da saúde pública de todo o Estado, que não está bem. Então graças a Deus, nós conseguimos esse recurso. E eu tinha que fazer minha parte, ou seja, entregar esta obra ou maior parte dela em pleno funcionamento em dezembro deste ano com a presença do presidente da República.

A obra ganhou um ritmo alucinante neste mês de novembro. Já respondendo à pergunta, chegaremos na virada, dia 30 de novembro, a 90% da obra física concluída, como vocês puderam ver, fiz questão de mostrar. Estamos no acabamento final e 90% dessa obra já estará concluída. Já começamos a receber, tivemos um processo extraordinário, em tempo recorde, no dia 31 de outubro, finalizamos todos os processos licitatórios. Mais de 45 processos licitatórios foram colocados na praça, envolvendo em torno de R$ 60 milhões. Nenhuma denúncia, nenhuma ação na Justiça, nenhuma impugnação, a não ser as impugnações de praxe, daquelas empresas que perderam e acabaram aceitando pela lisura e transparência do processo.

De todo esse processo licitatório, tivemos aí envolvidas 150 empresas do Brasil inteiro, mostrando a amplitude e transparência do processo. E no certame final saíram vencedoras cerca de 50 empresas, a maioria em nível nacional. 

MidiaNews – Deve ficar em quanto o custo final da obra física, mais os equipamentos?

Emanuel Pinheiro – O custo inicial era R$ 50 milhões do Estado e R$ 35 milhões da Prefeitura, o que daria R$ 85 milhões. O Estado está completando os R$ 50 milhões dele até mês que vem. Já está em R$ 38 milhões. Aí esse mês passa mais R$ 6 milhões e mês que vem passa mais R$ 6 milhões e aí o Estado conclui os R$ 50 milhões conveniados em 2015 para a obra física. Entretanto sobrou para o Município toda a diferença: o aditivo, os realinhamentos, as adequações financeiras. Então o que vai levar aí o investimento do Município. Não tenho o número exato ainda, mas o Município deve investir em torno de R$ 60, R$ 65 milhões.

MidiaNews – Fora os R$ 100 milhões…

Emanuel Pinheiro – Fora os R$ 100 milhões. Os R$ 100 milhões é para equipamento e conclusão da obra física. O equipamento é daquela emenda da bancada federal. Então isso mostra todo o comprometimento e a preocupação, a cautela, a prioridade com que tratamos todas obras e ações do PS. Determinei a economicidade e o cuidado nas licitações. Dos R$ 60 milhões licitados, já posso afirmar que na homologação das licitações os preços caíram. Vamos economizar de R$ 10 milhões a R$ 15 milhões e sem prejuízo nenhum da qualidade do material. Pelo contrário, vocês viram a tecnologia de ponta e o material de primeira grandeza. Aqui eu quebro aquele paradigma de que “é público, tem que ser ruim”, “o que é público tem que ser mais ou menos”. Não! O que é público tem que ser bom! Tem que ser de primeira linha, tem que ser melhor até que o privado. Nós temos que mudar esse quadro, até em respeito à população e aos recursos públicos. Nós vamos economizar mais ou menos em torno de R$ 10 a R$ 15 milhões no custo final dos equipamentos, o que vai nos possibilitar investir em novos equipamentos. Esse recurso ou eu uso em equipamento ou eu tenho que devolver para o Ministério da Saúde. Não vou perder oportunidade de avançar na aquisição de novos equipamentos para modernizar mais ainda o atendimento no nosso novo PS.

MidiaNews – Para o novo Pronto Socorro funcionar de fato, há quadro de funcionários suficiente para dar conta da demanda? São necessários quantos funcionários?

Emanuel Pinheiro –  Mais ou menos o mesmo que existe hoje. No atual Pronto Socorro, nós temos 1.260 servidores. Aqui vai dar mais ou menos em torno de 1.000 a 1.100, um pouco menos.

MidiaNews – Desse total, quantos são médicos?

Emanuel Pinheiro – Mais ou menos 50% são médicos. Até por causa da carga horária, médico é sempre um número maior. Nós vamos ter mais ou menos esse mesmo número de servidores. Por isso não vou tirar os servidores de lá e trazer para cá. Não vou fechar lá. Estou ampliando uma unidade de saúde. Eu não vou fechar o atual Pronto Socorro. O atual, no nosso planejamento, num primeiro momento, assim que eu inaugurar esse aqui, nós começamos a fazer a transição, conforme prometi em campanha. O atual Pronto Socorro começará a ser preparado para ser o novo Hospital Materno-Infantil de Cuiabá e leito de retaguarda do novo Pronto Socorro. Essa é a primeira etapa.

O atual Pronto Socorro começará a ser preparado para ser o novo Hospital Materno-Infantil de Cuiabá e leito de retaguarda do novo Pronto Socorro. Essa é a primeira etapa

A segunda será preparar o atual Pronto Socorro para ser também ampliado, criar uma ala para pessoa idosa e também criar um hospital-dia, que são aqueles hospitais de procedimentos cirúrgicos rápidos que acabam ocupando um espaço muito grande no Pronto Socorro, tirando lugar de uma urgência em virtude de tirar uma verruga, um apêndice, uma vesícula, em que você fica no máximo 24 horas internado e recebe alta. Às vezes você faz cedo a cirurgia e tem alta à tarde. Isso se chama hospital-dia. A ala do idoso e o hospital-dia são a segunda fase. A primeira fase do atual Pronto Socorro é materno-infantil e leito de retaguarda. Isso eu estou levando em consideração a ocupação dos 281 leitos para esses quatro projetos, essas quatro ações, que são o meu compromisso com a população.

MidiaNews – Para começar a funcionar o senhor vai ter que deslocar…

Emanuel Pinheiro – Eu não vou deslocar. Te interrompendo, eu estou esperando a decisão do Conselho Municipal de Saúde. Quero trazer a Empresa Cuiabana de Saúde para a gestão do novo Pronto Socorro, o que é permitido em lei. Ela hoje faz a gestão apenas do Hospital São Benedito, que é também de média e alta complexidade. É um “case” de sucesso. A última pesquisa de satisfação que nós fizemos no São Benedito deu 99% de bom e ótimo para os usuários. E é um “case” de sucesso, [prova de] que o poder público, a empresa pública, pode sim gerir uma saúde pública de qualidade. Então essa mesma excelência no atendimento que o São Benedito oferece aos usuários, eu quero para o novo Pronto Socorro de Cuiabá. O Conselho Municipal autorizando, eu vou trazer a Empresa Cuiabana de Saúde para gerir o novo Pronto Socorro. E vou buscar o processo seletivo para que a gente possa preencher a vaga de pessoal aqui, para que a gente possa resolver o problema de recursos humanos.

MidiaNews – Mas isso leva um tempo, num segundo momento, né?

Emanuel Pinheiro – Mas no primeiro passo tem que fazer emergencial. Porque o compromisso do [programa] Chave de Ouro é o Pronto Socorro funcionando em dezembro. Então para ele funcionar eu tenho que ter pessoal aqui treinado, qualificado, preparado para atender.

MidiaNews – Mas já é daqui um mês…

Emanuel Pinheiro – Mas no emergencial dá. Aí eu faço um emergencial e chamo um seletivo normal, entendeu? Mas eu não posso deixar, eu não posso perder a oportunidade de dar um salto, dar uma virada na página da saúde pública da Capital e dar um salto histórico na qualidade, no atendimento e na humanização da prestação de serviço na saúde pública.

MidiaNews – O senhor está completando agora metade do seu mandato. Qual o balanço desses dois anos de gestão?

Emanuel Pinheiro – Eu só queria concluir a questão do novo Pronto Socorro para vocês entenderem. Até porque vocês são cidadãos, moram aqui, querem o melhor para Cuiabá. Quando eu falo na virada de página, não é apenas a mudança de endereço, é a mudança no conceito no atendimento, na humanização e respeito ao usuário do SUS. Então eu quero deixar como um grande legado de virada de página no setor é a Secretaria de Saúde cuidar da atenção básica e secundária. Hoje eu, como prefeito, na área da saúde, gasto 70% do meu tempo e da minha energia e 40%, 50% do meu recurso tapando buraco e apagando focos de incêndio causados pelo Pronto Socorro, entendeu?

O Pronto Socorro é a grande célula nervosa, é o grande ponto nervoso da gestão, de qualquer gestão. Pela forma da gestão você fica mais tempo cuidando dele, apagando incêndio, resolvendo problemas para evitar uma crise maior, gastando mais energia, tempo e recurso do que pensando e planejando a saúde pública para a Capital. Trazendo o Pronto Socorro para a Empresa Cuiabana de Saúde, que já cuida de uma unidade de alta complexidade que é o São Benedito – e cuida bem, cuida como referência -, eu vou poder preparar a Secretaria Municipal de Saúde para ser secretaria municipal de atenção básica. É lá na ponta que estão os 100% dos cuiabanos, é nas unidades básicas de saúde, nos centros de saúde, nos postos de saúde, na saúde eletiva, nos centros de especialidade. E na saúde preventiva, que está lá na ponta. A maior parte do tempo e do recurso a gente não consegue gastar. Não sou só eu. Desde que eu me conheço por político, há 30 anos – quando fui eleito vereador – é a mesma coisa. Do Frederico [Campos] pro Dante [de Oliveira], do Dante pro [José] Meirelles, do Meirelles pro Roberto [França], do Roberto pro Wilson [Santos], do Wilson pro Chico [Galindo], do Chico pro Mauro [Mendes], do Mauro pro Emanuel… Só que eu não quero ser mais um, porque senão do Emanuel pro outro vai ser sempre a mesma coisa.

A pauta é a mesma. A Secretaria Municipal de Saúde vai cuidar da atenção básica, da saúde preventiva. Estruturar, modernizar, equipar e humanizar o atendimento lá na ponta, na saúde preventiva ao lado dos agentes comunitários de saúde de endemia. No Pronto Socorro eu tenho 40% dos cuiabanos e várzea-grandenses, 60% do interior e até de fora. Não tem problema, eu tenho que atender. Só que hoje a pirâmide está invertida. Na verdade eu tenho que inverter esse cenário, tenho que inverter essa pirâmide social. A base tem que ser a básica, a secundária está aqui [no meio] e no topo a terciária. E nós vamos conseguir dessa forma, destinando, fazendo com que a Secretaria Municipal de Saúde, que é administração direta, volte toda sua energia, seu recurso, sua carga, toda a sua estrutura e todo o seu planejamento, para o fortalecimento da atenção básica da saúde preventiva da população. E deixa para a Empresa Cuiabana de Saúde o atendimento na urgência e emergência, na saúde terciária.

MidiaNews – O senhor afirma que fez 200 quilômetros de asfalto e o ex-prefeito Mauro Mendes questionou com veemência esses números. Por quê?

Emanuel Pinheiro – Eu não sei, eu não sei, não posso falar. Está tudo aqui [mostra um documento]. Está tudo levantado. A maioria, a base da equipe técnica toda é a mesma do período dele, eu não mexi. Se está dando certo, se está sendo bom para a cidade, eu não fico com aquela politicagem. A equipe é a mesma, está aqui, a equipe base é toda a mesma. Infraestrutura urbana: 332 quilômetros faltam para pavimentar 100% da Capital do Estado de Mato Grosso.

Isso significa mais ou menos o investimento de R$ 350 milhões. Nós estamos atrás desse recurso através de financiamentos. Então isso aí na saúde eu estou mostrando para vocês o que eu estou fazendo em relação ao Pronto Socorro e à mudança do conceito de gestão, para botar o dedo na ferida e virar a página da saúde pública na Capital, voltando a administração direta para a atenção básica e secundária e deixando para a Empresa Cuiabana de Saúde a gestão das unidades de alta complexidade.

MidiaNews – Coincidentemente recebemos uma mensagem de um médico, que atende no Pronto Socorro. Ele colocou que o “Pronto Socorro está sem cirurgião pediatra. O crônico atraso de 90 dias, sempre”.

Emanuel Pinheiro – Eu acho que ele está falando dos extras. É, deve ser do pagamento de horas extras e também da própria contratualização com o Município. É fruto da situação que a gente já conhece: o Estado deve em média R$ 50 milhões para a saúde pública da Capital e a gente mata dez elefantes por dia trocando o pneu com o carro em movimento.

MidiaNews – Esses R$ 50 milhões são referentes há quanto tempo?

Emanuel Pinheiro – Já vem desde o tempo do Mauro. Ele já me passou em torno de R$ 35 milhões [em dívida do governo]. Já é um histórico devido à crise na saúde.

MidiaNews – Governo do Estado?

Então nós estamos tendo que trocar pneu com o carro em movimento, estabelecendo prioridades, às vezes nem sempre conseguindo ser justos, mas equilibrando o sistema

Emanuel Pinheiro – É, governo do Estado. Já chegou a R$ 60 e poucos milhões, já baixou para R$ 50 [milhões], aí cada mês vence um contrato, vence uma outra coisa, aí aumenta R$ 2 milhões, R$ 3 milhões. Hoje está em torno de R$ 54 milhões. Crise, não tem recurso. Então nós estamos tendo que trocar pneu com o carro em movimento, estabelecendo prioridades, às vezes nem sempre conseguindo ser justos, mas equilibrando o sistema. E agora nós precisamos organizá-lo numa estrutura condizente a um atendimento digno e humanizado à população, para a partir daí os recursos começarem a ser melhor investidos. É esse o sistema que eu estou colocando para você. Mas o médico tem razão.

MidiaNews – Pode-se dizer que o grande gargalo de Cuiabá ainda é a saúde?

Emanuel Pinheiro – É, pelo sistema em si, né? Na Capital você tem o recurso para atender a Capital, atender o Estado inteiro e até às vezes países vizinhos. E você tem que atender, é SUS, é universal. Então eu não posso ficar selecionando paciente. O que eu posso agora, organizando o sistema, que eu pretendo e estou agindo para organizar, tendo como mote esse momento único, histórico e emblemático que é a entrega do novo Pronto Socorro de Cuiabá. Aí nós podemos mudar o nosso diálogo. Eu quero fazer uma reunião com os 140 prefeitos de todo o Estado, quero reunir os 140 prefeitos na AMM [Associação Mato-Grossense dos Municípios], quero pedir o apoio da AMM.

Vamos começar a discutir saúde pública e como funcionam essas unidades na Capital. O dinheiro tem que vir de algum lugar. Você não consegue fazer o atendimento, por mais que você queira, por mais humanizado que você seja, a gente sabe que é um caso de pura humanização, mas você não tem recurso para atender a contento. É humanamente impossível você atender o Estado inteiro com uma estrutura para atender um Município.

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