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Erisipela: o que é, sintomas, causas e tratamento


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Erisipela é uma doença infecciosa da pele bastante comum que se manifesta através de lesões bem avermelhadas, endurecidas e dolorosas. Estas lesões, em forma de placas elevadas com margens bem delimitadas, são geralmente acompanhadas por sintomas como febre alta, calafrios e mal-estar.

P U B L I C I D A D E

Causada principalmente pela bactéria Streptococcus pyogenes, a erisipela ataca as camadas mais superficiais da pele, podendo se estender até os vasos linfáticos cutâneos superficiais. Apesar de ser uma infecção, é importante salientar que a erisipela não é contagiosa.

Frequentemente ocorrendo nas pernas e no rosto, a erisipela pode, no entanto, se manifestar em outras partes do corpo. Embora possa afetar pessoas de qualquer idade, é mais comum em indivíduos que possuem condições como diabetes, obesidade ou má-circulação nas veias dos membros inferiores.

Na linguagem popular, a erisipela pode ser conhecida por diversos nomes, como ‘esipra’, ‘mal-da-praia’, ‘mal-do-monte’, ‘maldita’ ou ‘febre-de-santo-antônio’. Independentemente de como é chamada, a erisipela é uma condição médica que requer atenção e compreensão.

Este artigo visa oferecer uma revisão abrangente sobre a erisipela, em linguagem simples, explorando suas causas, sintomas, opções de tratamento e medidas preventivas. Nosso objetivo é fornecer informações valiosas para aqueles que buscam entender melhor esta condição médica, seja para gerir a própria doença ou para ajudar a cuidar de alguém que a tenha.

Papel protetor da pele

A pele é o maior órgão do corpo humano e desempenha um papel vital na proteção contra a invasão de germes do meio ambiente. Como uma muralha de fortaleza, mantém nosso interior isolado e defendido.

Imagine por um momento um mundo sem a pele. Nossos órgãos, tecidos profundos, nervos e vasos sanguíneos estariam em contato direto com os micróbios ambientais, tornando-nos incrivelmente vulneráveis a infecções. Não é surpreendente, portanto, que todos os seres vivos complexos tenham evoluído com algum tipo de tecido protetor semelhante à pele.

Ao mesmo tempo, a pele, por estar em constante contato com o ambiente, se torna um lar para bilhões de bactérias, fungos e vírus. Esses microorganismos, que formam a microbiota natural da pele, são geralmente inofensivos e muitos têm um papel benéfico, auxiliando em funções como a prevenção de infecções por patógenos mais agressivos.

No entanto, a situação muda quando a integridade da pele é comprometida, como em caso de feridas. Mesmo uma lesão pequena pode quebrar a barreira de proteção, dando a esses germes a oportunidade de invadir nossos tecidos subcutâneos. Esta é a origem das infecções de pele mais comuns, muitas vezes causadas por bactérias que vivem naturalmente na nossa pele.

A gravidade da infecção geralmente depende da profundidade com que os germes conseguem penetrar na pele. Dependendo deste fator, diferentes síndromes clínicas podem surgir, cada uma requerendo seu próprio tipo de tratamento.

Tipos de infecção da pele

São vários os tipos de infecção da pele, alguns deles já abordadas em outros artigos aqui em nosso website, como micoses de pele, foliculite, impetigo, furúnculo, erisipela, celulite, ectima, abscessos, fasciíte necrotizante e osteomielite.

Repare na ilustração abaixo sobre as camadas da pele. Note que a erisipela é a infecção bacteriana da camada mais superficial da derme. Ela é mais profunda que o impetigo, mas mais superficial que a celulite.

 

Infecções da pele conforme sua profundidade: foliculite, impetigo, furúnculo, erisipela, celulite, ectima, abscessos, fasciíte necrotizante e osteomielite.

Diferenças entre erisipela e celulite

Neste artigo, o foco é a erisipela, mas é importante também diferenciar essa doença de outra condição semelhante, conhecida como celulite. Ambas são infecções da pele, mas existem diferenças cruciais entre elas que valem a pena discutir.

O termo “celulite” pode causar alguma confusão, já que se refere a duas condições distintas. Primeiramente, existe a celulite mais conhecida, que é a de ordem estética – aquelas ondulações na pele resultantes do acúmulo de líquido e gordura, principalmente em mulheres. Essa condição é conhecida na medicina como hidrolipodistrofia ginóide, e temos um artigo separado dedicado a ela: Celulite: causas e tratamento.

No entanto, a celulite à qual nos referimos aqui é uma infecção bacteriana. Ela afeta as camadas mais profundas da derme e da hipoderme, também conhecida como tecido subcutâneo.

Tanto a erisipela quanto a celulite causam lesões de aparência semelhante, muitas vezes dificultando a distinção entre elas. Ambas se manifestam clinicamente com sinais de infecção da pele, incluindo rubor (vermelhidão), calor local, dor intensa e edema (inchaço).

Porém, existem características distintivas que podem auxiliar no diagnóstico. Como a erisipela é uma infecção mais superficial, as lesões costumam apresentar um discreto relevo e bordas bem definidas. Ao examinar a pele, é possível identificar claramente onde começa e onde termina a infecção – a linha entre a pele doente e a pele sã é bem definida.

Por outro lado, a celulite, que afeta tecidos mais profundos, não apresenta esses limites tão claros. As lesões tendem a ser mais difusas, e muitas vezes é difícil determinar precisamente onde a infecção começa e termina. A imagem a seguir oferece um exemplo claro da diferença entre celulite e erisipela.

 

Diferenças entre erisipela e celulite

Diferenças entre erisipela e celulite.

Na foto acima, selecionamos dois casos em que a distinção entre erisipela e celulite é fácil. Entretanto, na prática clínica, nem sempre as características das lesões são tão nítidas a ponto de nos permitir diagnosticar as duas infecções facilmente. Se houver dúvidas, escolhemos um tratamento que cubra ambas as infecções.

Falamos especificamente da celulite no artigo: Celulite infecciosa: o que é, sintomas e tratamento.

A tabela abaixo resume as principais diferenças entre a erisipela e a celulite.

 

Erisipela Celulite
Camada da pele afetada A erisipela geralmente afeta a derme superficial e o tecido linfático subjacente. A celulite afeta a derme profunda e o tecido subcutâneo.
Sintomas na pele Área de pele afetada claramente definida, vermelha, inchada, quente ao toque, e muitas vezes tem uma superfície elevada e brilhante. Pode também ocorrer formação de bolhas. Área de pele vermelha, inchada e dolorosa, mas as bordas da área afetada são geralmente menos claramente definidas do que na erisipela. A pele pode ter uma aparência mais normal e a textura pode parecer mais dura ou firme ao toque.
Sintomas gerais Calafrios, febre e mal-estar são comuns. Também podem haver febre e calafrios, mas os sintomas sistêmicos costumam surgir de forma mais lenta do que na erisipela.
Causa Geralmente causada pela bactéria Streptococcus pyogenes. Pode ser causada por várias bactérias, mas as mais comuns são Staphylococcus aureus e Streptococcus.
Localização Mais comum nas pernas, mas pode ocorrer em qualquer parte do corpo. Pode ocorrer em qualquer parte do corpo, mas é mais comum nas pernas.
Complicações Se não for tratada, pode levar a problemas graves como septicemia e infecções em outras partes do corpo. A celulite não tratada também pode levar a complicações sérias, como abscessos profundos (coleções de pus) e sepse.

 

Curiosidade: a orelha é um local do corpo que não possui tecido subcutâneo, portanto, uma infecção na pele na região da orelha só pode ser erisipela.

Fatores de risco

Como já referido, qualquer lesão que sirva de porta de entrada para bactérias torna-se um fator de risco para o desenvolvimento de infecções na pele. Entre as mais comuns podemos citar:

  • Cortes e feridas simples.
  • Pé de atleta (frieira).
  • Eczemas.
  • Impetigo.
  • Varicela (catapora) ou outras erupções da pele.
  • Espinhas (acne).
  • Picadas de mosquito.
  • Unha encravada ou qualquer outra lesão da unha.
  • Micose de unha.
  • Uso de drogas endovenosas.
  • Queimaduras.
  • Mordidas de animais.
  • Implantação de piercings.

A quebra da barreira da pele é um fator importante, mas não é único. A maioria das pessoas que com lesão na pele não desenvolve erisipela. Isso porque seus sistemas imunológicos conseguem dar conta das bactérias que invadem a pele através das feridas.

Portanto, além das lesões de pele, existem ainda outros fatores associados a um maior risco de erisipela. São eles:

  • Obesidade.
  • Diabetes mellitus.
  • Uso de corticoides.
  • Imunossupressão.
  • Pacientes com edema crônico dos membros inferiores.
  • Insuficiência venosa dos membros inferiores.
  • Má circulação arterial nos membros inferiores.
  • Alcoolismo.

Bactérias que causam erisipela

A erisipela é, na maioria das vezes, provocada por uma bactéria denominada Streptococcus pyogenes, também conhecida como estreptococo do grupo A. Este microrganismo habita naturalmente a nossa pele e pode aproveitar-se de qualquer ferida, escoriação ou perfuração para invadir e causar uma infecção.

Apesar de o Streptococcus pyogenes ser a bactéria mais frequentemente associada à erisipela, não é a única. Outras bactérias também podem desencadear esta doença, incluindo outros tipos de estreptococos beta-hemolíticos, especialmente dos grupos C e G.

De notar que em recém-nascidos, a erisipela é frequentemente causada por estreptococos do grupo B. Além disso, esta mesma bactéria pode ser a responsável por casos de erisipela na região perineal e na parte inferior do tronco em mulheres no período pós-parto.

A celulite costuma ser causada por outra bactéria, chamada Staphylococcus aureus.

Sintomas da erisipela

A erisipela é quase sempre unilateral. As extremidades inferiores estão envolvidas em 70 a 80% dos casos. Braços e face são outros locais possíveis de infecção.

As áreas da pele afetadas pela erisipela costumam estar bem avermelhadas, inchadas, quentes, dolorosas e sensíveis à palpação. Há uma clara demarcação entre o tecido envolvido e o não envolvido, incluindo edema localizado nas áreas afetadas da pele. Muitas vezes, o tecido cutâneo afetado está endurecido, causando uma aparência de “casca de laranja”. O aumento dos linfonodos nas virilhas e edema linfático por linfangite (inflamação dos vasos linfáticos) são comuns.

 

Erisipela do membro inferior esquerdo com edema, intenso rubor e bordas bem delimitadas.

Erisipela do membro inferior esquerdo com edema, intenso rubor e bordas bem delimitadas.

Na erisipela os sintomas sistêmicos, como febre, suores e calafrios costumam aparecer precocemente, assim que surgem os primeiros sinais de infecção na pele. Outros sintomas da infecção podem ser perda do apetite, náuseas, vômitos, mal-estar, inapetência e dor de cabeça.

Alguns sinais de gravidade incluem a formação de bolhas, úlceras e necrose da pele. Quadros graves, com infecções profundas, podem evoluir para osteomielite, que é a infecção do osso. Outra complicação é a endocardite, infecção das válvulas do coração pelas bactérias que migram pela corrente sanguínea.

Se não tratada com antibióticos, a erisipela pode evoluir para um quadro de sepse, com elevado risco de morte para o paciente.

Quando o paciente tem quadros de erisipela frequentemente, a destruição dos vasos linfáticos pode levar a um quadro de edema crônico semelhante ao que ocorre na elefantíase (filariose). É uma lesão muito comum em moradores de rua, principalmente nos mais idosos. O edema linfático é uma complicação típica da erisipela de repetição.

Diagnóstico

Na erisipela clássica, nenhum exame laboratorial é necessário para o diagnóstico ou tratamento. O médico consegue fechar o diagnóstico apenas pelas características da lesão de pele.

Todavia, se análises forem colhidas, leucocitose e elevações da proteína C-reativa (PCR) são comuns. As culturas sangue e de amostras de tecidos não costuma ser solicitadas.

Exames de imagem só são utilizados se houver suspeita de infeção mais grave, com formação de abscesso ou envolvimento de camadas mais profundas.

Tratamento

A maioria dos casos de erisipela pode ser tratada com antibióticos orais em ambiente ambulatorial.

Para pacientes com erisipela inequívoca que não atendem aos critérios para antibióticos por via intravenosa devem ser administrados antibióticos orais empíricos que sejam ativos contra estreptococos beta-hemolíticos. O tratamento costuma durar de 7 a 14 dias, dependendo da velocidade de resposta da infecção.

Os antibióticos mais indicados para tratar erisipela são:

  • Penicilina V potássica 500 mg por via oral a cada 6 horas.
  • Amoxicilina 875 mg por via oral a cada 12 horas.
  • Cefalexina 500 mg por via oral a cada 6 horas.
  • Cefadroxil 500 mg por via oral a cada 12 horas ou 1 g por via oral uma vez ao dia.

A escolha entre antibióticos por via oral ou por via venosa deve ser feita consoante a gravidade do caso. Lesões na face, lesões graves ou em pacientes com imunossupressão devem ser preferencialmente tratadas com antibióticos endovenosos.

A eritromicina, a roxitromicina ou a pristinamicina podem ser usadas em pacientes com alergia à penicilina.

Além dos antibióticos, o repouso e a elevação do membro acometido são importantes pois ajudam a diminuir o edema e aliviam a dor. Compressas frias, analgésicos para aliviar o desconforto local e meias de compressão também ajudam.

Os pacientes normalmente apresentam melhora sintomática dentro de 24 a 48 horas após o início da terapia antimicrobiana, embora a melhora visível das manifestações cutâneas possa levar 72 horas ou mais.

Nos casos de erisipela recorrente em que não se consegue controlar os fatores de risco, pode ser indicado tratamento profilático com uma dose de penicilina benzatina (benzetacil) a cada 4 semanas por 6 a 24 meses.

 

 

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