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Com internet móvel ruim, cidade do Pará tem filas para pagamento em comércios; ‘mais fácil ir na casa da pessoa que esperar mensagem chegar’


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Enquanto a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) realiza nesta quinta-feira (4) o leilão do 5G, moradores de Santa Maria das Barreiras, no sul do Pará, ainda esperam por melhorias nos sistemas de 3G e 4G. A cidade paraense está entre as 10 brasileiras com menor cobertura nas zonas urbanas, segundo a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) – veja a lista mais abaixo.

P U B L I C I D A D E

 

A abrangência da internet no município é de apenas 17,88%. Somente 22,12% dos moradores da cidade possuem acesso à internet. Os que têm acesso enfrentam oscilações que interferem na rotina dos moradores e comerciantes.

“Semana passada, fiquei a manhã inteira sem internet, fechei as portas até voltar. A gente usa muito a internet, só que às vezes é mais fácil ir na casa da pessoa falar com ela do que esperar uma mensagem chegar”, afirma Clodomir Fontenelle, dono de um supermercado na cidade.

 

Ele explica que, além da instabilidade da rede móvel, a internet por fibra óptica também não trouxe grandes benefícios. “Também dá muito problema (fibra óptica) e não supre a necessidade que a gente tem”.

Com a dificuldade de internet, o sistema de pagamento não funciona, assim como o de recebimento por cartão.

“As filas nos mercados são enormes porque a internet é lenta, tem vezes que cai três, quatro vezes no dia e, se demora a voltar, o cliente desiste, vai embora e a gente perde a venda”, conta o comerciante.

 

Com 22,4 mil habitantes, Santa Maria das Barreiras é dividida entre a sede, área urbana e os distritos, localizados na zona rural do município. Há distritos mais populosos que o próprio centro e que possuem dificuldades de acesso à internet. Até hoje existe internet via rádio em Santa Maria.

Segundo a Secretaria de Administração da cidade, as grandes distâncias estão entre as maiores dificuldades no local. A cidade possui cerca de 300 km de uma ponta a outra. Um dos distritos de Santa Maria das Barreiras é a Casa de Tábua, que possui 120 km de extensão, onde não havia sinal de telefone até o ano passado. O único acesso de comunicação era através da antena via rádio.

Estabelecimentos comerciais sofrem com baixa cobertura de internet em Santa Maria das Barreiras, no sul do Pará. — Foto: Clodomir Fontenelle/Arquivo pessoal

Estabelecimentos comerciais sofrem com baixa cobertura de internet em Santa Maria das Barreiras, no sul do Pará. — Foto: Clodomir Fontenelle/Arquivo pessoal

Problema com internet na pandemia

 

Durante a pandemia, quando a internet funcionava, o supermercado de Clodomir recebia os pedidos por aplicativo de mensagens, mas a maioria das encomendas era feita por ligação.

“Não temos outra alternativa. Então, vamos fazendo como dá”, lamenta.

 

Os problemas foram sentidos também na educação. Com as escolas fechadas no ano passado e parte deste ano e a recomendação de isolamento social, alguns estudantes de Santa Maria precisaram se deslocar para outros municípios para ter acesso às aulas on-line, segundo um dos vereadores da cidade Linjandelson Alves Mundoca.

“O aluno que precisava da internet não teve. Por isso, muita gente saiu da cidade e foi para municípios próximos, como Redenção. Para pagar conta na sede, se cai a internet de manhã, o jeito é voltar à tarde e aí tem 30, 40 pessoas na fila. Se a gente chamar um profissional que saiba medir o sinal da internet, sempre ‘tá lá embaixo’ e pagamos muito caro pela internet aqui e não funciona”, relata.

A situação de quem não tinha internet foi mais difícil, mas quem possui acesso sentiu impacto com as constantes oscilações, segundo Marcos de Oliveira, morador de Santa Maria que acompanhou os estudos da filha de 14 anos.

“Deu muito trabalho, mas sempre conseguiu fazer as tarefas on-line. Aqui na Vila São João Batista tem duas empresas prestadoras de internet, aí, quando uma não dava, a gente, através de jeitinho brasileiro, saía buscando sinal nos vizinhos, pedindo senha do Wifi”.

Dificuldades afetam serviços públicos

 

A problemática da internet na região prejudica a comunicação da população em geral, do atendimento no serviço público ao o agronegócio e o comércio local. A própria prefeitura passa por remodelações de equipamentos e modernização da internet, segundo o secretário de administração da cidade, Vicente Leal Filho.

“Estamos interligando todas as escolas rurais e postos de saúde, e priorizando esse serviço de atendimento à população, no melhoramento do fornecimento da comunicação. Como até ano passado não tinha antena própria de telefonia, os moradores tinham dificuldade, sim, para chamar uma ambulância, a polícia. E, além da questão social, o mercado exige esse desenvolvimento nas empresas, no comércio. Essa questão da comunicação é um fator prioritário, uma luta nossa e precisamos de toda a gestão pública envolvida na busca de soluções”, diz Vicente

Expectativa por soluções

O morador é um dos que estão na expectativa por melhorias. “Aqui a internet é muito ruim, inclusive na minha chácara está três dias sem internet, pois é através de antena via rádio. Seria, sim, necessária a mudança para que possamos usufruir melhor desta tecnologia”, afirma Marcos de Oliveira.

Segundo o secretário de administração da cidade, a prefeitura tem buscado implementar projetos junto às empresas de telefonia.

“Já há um projeto para instalação de telefonia com dados móveis para duas vilas importantes aqui da cidade, a vila de Nova Esperança e Vila Batista, e estamos buscando para outras também. Não tem como desenvolver uma região sem comunicação e aqui o município é baseado no agronegócio, que fica no campo, na zona rural. Então, a gente precisa resolver para que as pessoas consigam se comunicar e fechar negócio”, diz o secretário.

Ele admite que o sinal de internet ainda é fraco e que precisa de melhorias. Porém, não são todas as operadoras que participam de licitações e possuem projetos para o município.

A Anatel sinaliza que pelo menos uma operadora deve fazer o atendimento de municípios com população abaixo de 30 mil habitantes com tecnologia 3G. A cobertura mínima exigida é de 80% da área urbana.

No edital do leilão do 5G, que foi aprovado pela Anatel, está previsto que o 5G deve funcionar nas 26 capitais do Brasil e no Distrito Federal em julho de 2022, mas isso também não significa que essas cidades oferecerão a frequência em todos os lugares.

No ranking brasileiro’Cidades Amigas da Internet 2021′, elaborado pela Associação Brasileira de Infraestrutura para Telecomunicações (Abrintel), Belém, por exemplo, aparece em 81º lugar, em estímulo de oferta de serviços de telecomunicações. Outras grandes cidades paraenses, como Santarém e Ananindeua, aparecerem na 38ª e 47ª posição, respectivamente.

Também procurado pelo g1 Pará, o Governo do Estado informou através da Empresa de Tecnologia da Informação e Comunicação do Estado do Pará (Prodepa) que “trabalha para que todos os municípios paraenses tenham internet nas suas sedes e que agilizou o processo de inclusão em regiões mais carentes de serviços de qualidade, suprindo lacunas deixadas pelas operadoras privadas”.

Ainda segundo a empresa, 92 dos 144 municípios paraenses estão interligados com “internet de qualidade”. “A previsão é que mais 2 municípios sejam conectados até o final deste ano e outros 14, ao longo de 2022”.

A tecnologia 5G, que promete conexão com velocidade ultrarrápida, avanços de tecnologias como carros que dirigem sozinhos, deve leva de 2 a 4 anos para estar disponível em diversos bairros das maiores cidades do país.

G1.globo.com

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