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Baixo índice de vacinação em Mato Grosso preocupa


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A professora Sônia Elias dos Santos, 46 anos, aprendeu a falar somente aos cinco anos. Os primeiros passos dela foram somente aos oito. O atraso tem um motivo: ela teve poliomelite, conhecida popularmente como paralisia infantil, quando tinha poucos meses de vida.

P U B L I C I D A D E

Sônia Santos poliomielite

Sônia está entre as vítimas que a doença fez na década de 70. Ela passou três meses internada em uma UTI e foi desenganada pelos médicos. Na época, ela chegou a ser vacinada, porém ainda assim contraiu a doença, causada pela infecção do poliovírus. A mazela pode se espalhar pelo contato de pessoa a pessoa e também em contato com muco, catarro ou fezes infectadas.

Atualmente, convive com algumas dificuldades ocasionadas pela doença e por conta da experiência que viveu com a poliomelite, tornou-se uma entusiasta da vacinação. “Se eu não tivesse sido vacinada, sei que a doença viria ainda mais forte e eu poderia ter morrido”, diz.

Nos últimos anos, a poliomelite, erradicada no Brasil desde 1990, passou a preocupar as autoridades. Em comunicado divulgado no início deste mês, o Ministério da Saúde admitiu que há alto risco de retorno da doença em, ao menos, 312 cidades brasileiras. Na lista, há sete municípios mato-grossenses: Jauru, Denise, Nova Brasilândia, Nobres, Reserva do Cabaçal, Pedra Preta, Vale de São Domingos.

Rodinei Crescêncio

Vacinas

 Ministério da Saúde divulga lista de cidades onde os indicadores são mais preocupantes e MT tem 7 municípios discriminados. Jauru está em pior situação

O alerta do Ministério da Saúde tem um motivo: a cobertura vacinal nas cidades mencionadas na lista está abaixo dos 50% entre crianças menores de um ano. Conforme a pasta, tal índice é “muito, muito baixo”.

Entre os números de Mato Grosso sobre a vacina contra a poliomelite, chama a atenção o índice em Jauru. Na cidade, a cobertura vacinal é correspondente a 3,36% das crianças menores de um ano. O município possui o sétimo pior índice em todo o Brasil. O caso mais grave, em todo o País, é em Ribeirão do Pombal, na Bahia, cuja cobertura corresponde a apenas 0,50% entre os recém-nascidos.

O levantamento do Ministério da Saúde reacende uma questão que nos anos recentes tem preocupados médicos e estudiosos da área da saúde: os números de pessoas que aderem às vacinações, principalmente crianças, têm reduzido cada vez mais.

Marcelo Sandrin

Médico Marcelo Sandrin vê despreocupação com controle de doenças como um absurdo

Em Mato Grosso, a Secretaria Estadual de Saúde (SES) afirmou que a média das coberturas em todas as vacinas está em torno de 60% da população. O número ideal seria que as vacinações atingissem 95% dos moradores do Estado.

O clínico-geral Marcelo Sandrin classifica como “absurdo” a redução na taxa de vacinação no Estado. “As vacinas são como uma dádiva de Deus, porque conseguiram extinguir muitas doenças graves. Elas aumentaram a sobrevivência das pessoas e a qualidade de vida”, disse ao .

Queda na vacinação

Entre os fatores que afetam a redução no número de vacinações estão a falta de atenção de alguns pais, ausência de divulgação sobre a importância das vacinas ou até mesmo grupos que são contrários à imunização, por acreditarem que elas não tragam benefícios.

A coordenadora do Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde (PNI), Carla Domingues, afirma que as vacinações são completamente seguras. “Em alguns casos, as vacinas podem levar a eventos adversos, assim como ocorre com os medicamentos, mas são infinitamente menores que os malefícios trazidos pelas doenças. As vacinas são seguras e passam por um rígido processo de validação”.

Para Marcelo Sandrim, deve haver punição severa aos pais que não vacinam os filhos. “Como o brasileiro foge da vacina e não acontece nada? Na Austrália, os pais podem ser presos por isso. Na Inglaterra, pais que fazem isso são proibidos de usar a saúde pública, apenas a particular. E se a criança contrair a doença para a qual não foi vacinada, os pais poderão ser presos ou perder a guarda do filho”, diz.

“O programa de vacinação no Brasil é muito bom e custa muito caro. Quem não vacina o filho é irresponsável. Acho que deveriam ser tomadas medidas legais e enérgicas para evitar que isso continue acontecendo”, acrescenta.

Quem não vacina o filho é irresponsável.

Médico Marcelo Sandrin

No Estado, a mais recente campanha de vacinação foi contra a Influenza, no ano passado, e atingiu 85,6% da população, sendo que o objetivo era atingir 90%. Conforme a Secretaria de Estado de Saúde, somente os grupos de idosos e trabalhadores de saúde alcançaram a meta estipulada. “Acredita-se que devido a não vivência das patologias nos dias atuais, muitos pais e até mesmo os profissionais de saúde, deixam de dar importância à vacinação”, informa a SES.

Outra campanha recente foi a Multivacinação, que não possui uma meta e é considerada como uma atualização da caderneta de vacina, para aquelas pessoas que deixaram de tomar alguma dose. Em agosto acontecerá a Campanha contra a Poliomielite e o Sarampo para crianças menores de cinco anos.

Para Sandrin, as campanhas de vacinação deveriam ser mais diretas e explicar melhor os benefícios trazidos pelos medicamentos e os riscos de não tomá-los. “Acho que deveria ter outro tipo de abordagem, porque vacina é coisa séria e custa muito caro”, diz.

Doenças que reapareceram

Outro fato que reacendeu o debate sobre a vacinação foi o reaparecimento, em Mato Grosso, de doenças que até então não eram mais notificadas no Estado. Em junho, o Estado registrou um caso suspeito de coqueluche, outro de febre amarela e dois de sarampo. Segundo a SES, o reaparecimento das mazelas tem relação com a falta de adesão a diversos programas de vacinação.

“O que se percebe é que as pessoas só procuram a vacina quando aparecem as doenças. As mazelas que não se tem casos, não assustam, portanto não há procura. Como exemplo, com os casos da febre amarela em Minas Gerais houve um aumento considerável na procura da vacina aqui em Mato Grosso, mesmo não tendo casos da doença no Estado”, informa a pasta.

O clínico-geral Marcelo Sandrin frisa que o baixo número de pessoas que aderem às campanhas de vacinações favorece diversas formas de contrair doenças que não eram mais registradas. “Mesmo erradicadas, o turismo e o fluxo comercial já fizeram com que aparecessem casos como o de sarampo. Ou seja, quem não está vacinado pode pegar essas doenças”, afirma.

“Na Europa, aconteceu uma epidemia de sarampo quando abriram as fronteiras. Um lado tinha vacinação e outra parte não. Por isso, o sarampo se disseminou”, completa.

Grupos contrários à vacinação

Nas redes sociais, há grupos contrários à vacinação. Um dos argumentos defendidos por eles é o de que algumas vacinas podem causar mal-estar ou auxiliar no contágio de doenças. Sandrim declara que tais afirmações são perigosas. “Quem luta contra a vacinação são pessoas insanas. Há pessoas que dizem que a vacina causa gripe, mas isso é pura mentira”.

“Qual o objetivo das pessoas que propagam que a vacina faz mal? Deveria haver punição para quem faz isso e para os pais que não vacinam os filhos”, diz.

A Secretaria Estadual de Saúde relata que há alguns pontos que podem ajudar no aumento da procura pela vacinação. Entre eles estão atendimentos nos fins de semana, em razão de muitos pais ou responsáveis trabalharem em dias de semana; busca pelos faltosos nas campanhas de vacinação e melhor estrutura nas salas de vacinação.

O movimento contra a vacina e a baixa procura pelo item preocupa também a professora Sônia Elias. Diariamente, ela se recorda da doença que a acometeu na infância, em razão das limitações que possui na perna esquerda, ocasionadas pela mazela. “Eu não posso caminhar rápido ou correr”.

Sônia fez 13 cirurgias ortopédicas para correção do problema e usou aparelho ortopédico, porém ainda assim ficou com dificuldades para caminhar. “Até hoje, uso sapato ortopédico e uma bota articulada na perna direita. Também uso um aparelho móvel na perna esquerda, para evitar que o problema se agrave ainda mais”, explica.

Mesmo com as dificuldades, a professora comemora ter conseguido ter uma rotina comum, em meio às dificuldades. “Eu tenho uma vida normal, tirei até carteira de habilitação. Cada dia é uma luta e novas conquistas sempre acontecem”.

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