O nutrólogo Dr. Marcelo Silva, especialista em emagrecimento e prevenção do efeito sanfona, comenta proposta polêmica do governo americano e alerta para os riscos de transformar uma questão de saúde pública em exclusão social

Uma nova proposta do governo de Donald Trump vem gerando polêmica e dividindo opiniões em todo o mundo. O ex-presidente e atual candidato republicano à Casa Branca anunciou a intenção de ampliar os critérios de concessão de vistos para estrangeiros, podendo barrar a entrada de pessoas com obesidade, diabetes e outros vícios considerados de “alto custo” para o sistema de saúde americano.

A medida, segundo o governo, teria como objetivo reduzir os gastos públicos com saúde e priorizar a entrada de imigrantes “aptos e produtivos”. Mas, na prática, a decisão reacende uma discussão sensível: até que ponto o Estado pode usar critérios de saúde para limitar o acesso de pessoas?

Para o nutrólogo Dr. Marcelo Silva, especialista em emagrecimento e prevenção do efeito sanfona, a questão vai além da política — envolve também ética, moralidade e saúde pública.

“Existe uma questão de saúde e existe uma questão moral nisso. Do ponto de vista da saúde pública, é fato que a obesidade e o diabetes representam um alto custo para qualquer sistema de saúde. Mas barrar pessoas com base nisso não resolve o problema, o ideal seria tratá-las e oferecer acesso a medicamentos e programas de prevenção”, explica o médico.

Dr. Marcelo lembra que a obesidade está diretamente relacionada a uma série de doenças graves e potencialmente fatais.

“A obesidade aumenta o risco em mais de 14 tipos de câncer, além de elevar as chances de infarto, AVC, trombose e até doenças autoimunes. Tudo isso gera um custo altíssimo com internações, medicações e, principalmente, com as UTIs, que são a parte mais cara dos hospitais”, destaca.

O nutrólogo também chama atenção para o impacto do diabetes, condição que costuma caminhar ao lado da obesidade.

“O diabetes aumenta o risco de amputações, de cegueira e de diversas complicações graves. Quando cresce o número de pessoas obesas e diabéticas, o custo com o sistema de saúde explode, seja com medicamentos, seja com atendimentos e cirurgias. É uma reação em cadeia muito cara”, alerta.

Apesar de reconhecer o impacto financeiro das doenças crônicas, o especialista defende que o caminho não deve ser a exclusão, mas sim o acolhimento.

“Olhando por um lado, entende-se a preocupação com os custos. Mas o caminho mais inteligente seria investir em prevenção e tratamento, reduzindo o preço das medicações e oferecendo suporte em saúde pública. Isso, sim, ajudaria a equilibrar os recursos e liberar verba para outras áreas, como educação, segurança e infraestrutura”, avalia.

Para o médico, a proposta do governo Trump reflete uma visão superficial sobre o que realmente causa a obesidade.

“A obesidade é uma condição multifatorial, que envolve hormônios, ambiente, falta de vitaminas, alimentação e até saúde mental. Tratar o paciente obeso como alguém que deve ser excluído é um erro. O combate deve começar com acolhimento, informação e acesso ao tratamento adequado, não com barreiras e preconceito”, conclui o Dr. Marcelo, que também é especialista em equilíbrio hormonal.

A proposta ainda será analisada e deve enfrentar forte resistência tanto no Congresso quanto em tribunais americanos. Enquanto isso, o debate sobre saúde, moralidade e direitos humanos segue ganhando força no cenário internacional.