Vice-presidente da Sociedade Goiana de Oftalmologia relata sintomas que devem ser observados

Desde o início de setembro, autoridades de São Paulo estão investigando dezenas de casos de contaminação que estariam associadas ao consumo de bebidas adulteradas com metanol. Nos últimos dias, o número de notificações vem aumentando paulatinamente, a cada boletim divulgado. As suspeitas já ultrapassam o território do estado mais populoso do país e chegaram a Pernambuco.

 

Até a tarde de quinta-feira (02), uma morte foi confirmada e cinco estão sob investigação.  Há relatos de complicações graves, incluindo ao menos uma pessoa que perdeu completamente a visão após beber. O metanol é um álcool usado industrialmente em solventes e outros produtos químicos, é altamente perigoso quando ingerido. Inicialmente, ataca o fígado, que o transforma em substâncias tóxicas que comprometem a medula, o cérebro e o nervo óptico, podendo causar cegueira, coma e até morte. 

 

O vice-presidente da Sociedade Goiana de Oftalmologia (SGO), Leiser Franco, comenta sobre o consumo desse produto. “Existe um período de latência, de 6 a 12 horas após a ingestão e a intoxicação e, obviamente, é diretamente proporcional à quantidade de metanol que foi ingerido. Inicialmente, o paciente pode ter um pouco de dor de cabeça, confusão mental, dores abdominais, o quadro neurológico pode evoluir com uma confusão mais intensa e turvação da visão”, elenca.

O risco de perda da visão está relacionado à forma como o organismo processa essa substância. Quando o metanol é ingerido, ele é metabolizado pelo fígado e transformado em formaldeído e ácido fórmico, extremamente tóxicos. Esse último interfere diretamente na produção de energia das mitocôndrias, estruturas celulares fundamentais para o funcionamento das células nervosas do nervo óptico. Sem energia suficiente, essas células não funcionam corretamente e podem entrar em colapso, causando inchaço e pressão dentro do nervo.

Leiser Franco cita alguns sintomas que podem ser observados nos pacientes. “Depois que o metanol é metabolizado, ele forma seus produtos tóxicos para o organismo e tem uma predileção por uma lesão no nervo óptico, levando a uma turvação da visão, um embaçamento da visão. Alguns pacientes relatam a percepção de uma névoa e também a perda de visão definitiva em casos mais graves. Nos casos neurológicos, esse quadro de confusão mental se acentua, podendo evoluir para coma e, se não tratada, até a morte”.

Pessoas que tenham consumido bebidas alcoólicas e manifestem qualquer um dos sintomas associados à intoxicação por metanol devem buscar imediatamente algum serviço de emergência médica. “O diagnóstico do grau de lesão do nervo óptico envolve exames como a acuidade visual, que mede a capacidade de enxergar detalhes; a avaliação do campo visual, que verifica a visão periférica ou “de canto de olho”; e testes de resposta da pupila à luz e percepção de cores. Leiser explica ainda que, se possível, é importante guardar as embalagens ´- já que o metanol passa despercebido e só pode ser identificado via laboratorial.