O aumento da obesidade entre crianças e adolescentes chama atenção para os riscos cardiovasculares precoces e as consequências emocionais. Dados do SUS mostram que, entre 2014 e 2024, os casos de sobrepeso na faixa etária de 10 a 19 anos cresceram mais de 30%, reforçando a importância do acompanhamento clínico e de exames de perfil lipídico desde cedo.
A obesidade é, hoje, um dos maiores desafios de saúde pública. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), está entre as principais causas de morte no mundo, sendo associada não apenas a doenças metabólicas e cardiovasculares, mas também ao bem-estar mental e à qualidade de vida.
No Brasil, um estudo conduzido pela Dasa, líder em medicina diagnóstica, em parceria com outras instituições e publicado no MedScape, avaliou mais de 115 mil adultos e mostrou que cerca de 18% possuem Lp(a) elevada, um marcador hereditário associado ao aumento do risco de doenças do coração, independentemente dos níveis de LDL. Além disso, estima-se que dois terços da população adulta apresentem excesso de peso — e o alerta se estende às crianças, cuja taxa de obesidade cresce rapidamente.
Entre 2014 e 2024, os casos de obesidade infantil atendidos pelo SUS quase triplicaram, passando de 394 para 1.168, segundo dados do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan). Entre adolescentes de 10 a 19 anos, o aumento foi de 31,3%, subindo de 1.096 para 1.439 casos — representando 41% dos jovens acompanhados pela rede pública.
Para a dra. Maria Helane Gurgel, endocrinologista do Exame, laboratório da Dasa no Distrito Federal, o cenário é um alerta claro: “A obesidade infantil é um marcador precoce de risco. Quando não controlada, pode evoluir para doenças crônicas como diabetes, hipertensão, dislipidemia (colesterol alto e/ou triglicerídeos elevados e/ou HDL baixo) e problemas cardíacos ou renais, exigindo uso prolongado de medicamentos. Por isso, a prevenção deve começar na infância, com acompanhamento clínico e laboratorial regular”, explica.
Exames que ajudam na prevenção
Segundo a especialista, exames de perfil lipídico são essenciais para detectar alterações metabólicas precocemente em crianças e adolescentes, especialmente naquelas que convivem com sobrepeso ou obesidade. No entanto, é importante ressaltar que a dislipidemia pode ocorrer em pacientes com peso normal ou abaixo do esperado. O perfil lipídico avalia colesterol total, HDL, LDL e triglicerídeos, permitindo identificar dislipidemias que aumentam o risco de doenças cardiovasculares.
Sociedades médicas nacionais e internacionais recomendam que todas as crianças com fatores de risco conhecidos, como obesidade, hipertensão, uso crônico de medicamentos ou histórico familiar, tenham seu perfil lipídico avaliado assim que essas condições forem identificadas. Para crianças e adolescentes saudáveis, há a recomendação de que a
avaliação do primeiro perfil lipídico aconteça antes da puberdade, por volta dos 8 a 10 anos de idade.
“Mesmo em crianças e adolescentes com o perfil lipídico normal, o acompanhamento regular ajuda a monitorar tendências e prevenir complicações futuras. O foco deve ser a detecção precoce de alterações e a orientação sobre hábitos de vida saudáveis”, acrescenta a dra. Helane.
Impactos além do físico
As consequências da obesidade vão além do metabolismo. “A obesidade não surge de repente — é resultado de fatores ambientais, alimentares e psicológicos. Além disso, crianças com sobrepeso frequentemente enfrentam situações de bullying e isolamento social, que podem levar à compensação emocional pela comida, criando um ciclo vicioso”, reforça a médica.
A obesidade infantil é uma condição complexa, mas também uma oportunidade de intervenção precoce. “Quanto mais cedo identificamos alterações metabólicas e orientamos hábitos equilibrados, maiores são as chances de garantir uma vida adulta mais saudável e de prevenir doenças cardiovasculares no futuro”, conclui a dra. Helane.