Valor da saca de arroz volta a patamares da pandemia
O preço do arroz segue em queda no Brasil, trazendo forte preocupação para produtores e indústrias, especialmente em Santa Catarina. A saca de 50kg iniciou setembro cotada a R$ 65, já abaixo do custo de produção, e algumas indústrias já registram valores próximos de R$ 58,00 – preço que não era observado desde a pandemia de Covid-19.
A desvalorização é resultado do aumento da oferta interna, impulsionada pelo recorde de produção da Safra 2024/25, somada às oscilações no mercado internacional e aos estoques elevados nos países do Mercosul.
Custos altos e margens apertadas
De acordo com o presidente do Sindicato das Indústrias de Arroz de Santa Catarina (SindArroz-SC), Walmir Rampinelli, e com o presidente da Cooperja e da OCESC, Vanir Zanatta, a situação desestimula a cadeia produtiva.
Enquanto os custos fixos de cultivo, colheita e beneficiamento permanecem elevados, os preços das embalagens continuam subindo, pressionando ainda mais a margem de lucro. “Esse desequilíbrio compromete a sustentabilidade da cadeia e desmotiva quem está na base da produção. Se a crise persistir, os impactos podem ser ainda mais graves, afetando empregos e a continuidade das atividades”, alerta Rampinelli.
Importações agravam a crise do arroz
Para o presidente da Coopersulca, Arlindo Manenti, a crise se intensifica com a isenção do imposto de importação do arroz, que reduz a competitividade da indústria nacional e dificulta o escoamento dos estoques brasileiros.
Segundo ele, para que o setor conseguisse cobrir os custos e obter lucro, a saca de 50kg deveria ser vendida entre R$ 80 e R$ 85. Manenti acrescenta que o momento exige cautela dos pequenos produtores, que dependem da cultura para sobreviver: “Orientamos a evitar investimentos altos, como compra de maquinário. O Governo Federal precisa intervir para que não tenhamos um ano ainda mais difícil pela frente.”
Ações governamentais ainda são insuficientes
Em agosto, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) promoveu leilões de Contrato de Opção de Venda (COV), negociando 109,2 mil toneladas de arroz. No entanto, para Rampinelli, a medida foi insuficiente.
Ele defende que o governo adquira pelo menos 2 milhões de toneladas para o estoque regulador, sendo que 1 milhão já ajudaria a equilibrar o mercado. Manenti, por sua vez, acredita que a solução passa por políticas de exportação mais favoráveis, incluindo a isenção de subsídios e o retorno da taxação do arroz importado.
Consumo em queda no Brasil
Apesar de ser alimento básico, o consumo interno de arroz tem registrado retração. Segundo a Conab, o consumo passou de 10,8 milhões de toneladas em 2018/19 para 10,5 milhões em 2023/24, queda de 2,8%.
Ao mesmo tempo, a produção nacional atingiu 12,3 milhões de toneladas em 2025, volume superior à demanda interna. “Quando os preços estavam melhores, houve expansão da área plantada, mas o consumo não acompanhou, o que gera excesso de oferta e desvalorização do produto”, explica Zanatta.
Para incentivar o consumo, a Associação Brasileira da Indústria do Arroz (ABIARROZ), em parceria com sindicatos de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, lançou a campanha “Arroz Combina”, que busca estimular a presença do grão no dia a dia das famílias brasileiras.
Perspectivas para a próxima safra
O cenário não é animador para 2025/26. Segundo Zanatta, muitos produtores podem reduzir a área plantada ou substituir o arroz por outras culturas mais rentáveis.
Se o preço da saca permanecer baixo pelos próximos dez meses, o SindArroz-SC estima queda entre 5% e 8% na produção da próxima safra. Além disso, a redução no uso de insumos como adubo e ureia pode comprometer a qualidade do grão, afetando também a geração de empregos e a continuidade da rizicultura em Santa Catarina.
Fonte: Portal do Agronegócio
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