A falta de oxigenação no sangue leva à queda da pressão arterial, afeta o metabolismo e, se contínuo, começa a gerar morte celular.

O senador Flávio Bolsonaro (PL) afirmou que seu pai, Jair Bolsonaro, chegou a ficar “quase 10 segundos sem respirar” antes de ser levado para o hospital nesta semana. O ex-presidente chegou a ficar internado, mas já teve alta e retornou para sua casa nesta quarta-feira, 17, onde cumpre prisão domiciliar. Mas, afinal, qual o impacto de ficar esse tempo sem respirar?

Flávio disse, em entrevista à imprensa, que Bolsonaro estava tendo uma crise de soluço e a situação "trava" seu diafragma, como relatou. Nisso, ele teria ficado sem conseguir respirar por alguns segundos, e a forma que encontrou de retomar à normalidade foi vomitando. Tudo isso com tontura e pressão baixa.

Para além do caso específico de Jair Bolsonaro, ao Terra, o cardiologista Fernando Ribas, da Beneficência Portuguesa de São Paulo, explicou que dez segundos sem respirar é pouco tempo para que eventuais complicações venham a surgir.

Segundo ele, é comum que as pessoas saudáveis aguentem ficar cerca de 2 minutos sem respirar sem causar impactos significativos em sua saúde. Porém, ele ressalta que não há ‘tempo seguro’, pois varia muito de corpo para corpo, considerando as características sanguíneas e comorbidades.

Ribas explica que quando a pessoa fica sem respirar, os níveis de pressão arterial de oxigenação caem, até que chega um momento em que as células começam a precisar de outras formas de energia – afetando o metabolismo. “Por fim, uma vez que não se consegue mais oxigênio e também já utilizou as outras formas de energia, começa a haver morte celular”, afirma o especialista.

Quando se trata, por exemplo, de uma parada cardiorrespiratória completa, sem oxigenação e circulação de 3 a 5 minutos, as lesões podem ser irreversíveis no cérebro. 

O especialista explica que há diversas causas que podem levar a uma parada respiratória. A principal, segundo ele, é a asfixia – quando há algum bloqueio da via aérea. Outra forma comum é devido a reações alérgicas que, em casos graves, podem gerar um choque anafilático, ou anafilaxia, com a obstrução da glote pelo próprio edema.

Ele cita ainda afogamento, traumas (como bater a cabeça, podendo fazer com que o cérebro perca o reflexo momentaneamente), lesão torácica extensa e choque (que pode provocar uma paralisia muscular momentânea que venha a interromper a respiração).


Mais sobre a situação de Bolsonaro

Bolsonaro deu entrada no hospital DF Star, em Brasília, por volta das 16h desta terça-feira, 16, após ter falta de ar e episódios de vômito. Ele foi levado ao local acompanhado da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e ficou internado sob observação da equipe médica. O médico Cláudio Birolini, diretor de cirurgia geral do Hospital das Clínicas da USP e médico pessoal do ex-presidente, viajou à capital federal para acompanhar o tratamento.

Ainda na terça-feira, Bolsonaro passou por bateria de exames, foi medicado e recebeu a indicação de não ingerir alimentos sólidos. O diagnóstico que levou Bolsonaro ao hospital foi um quadro de pré-sincopal, que acontece quando há queda de pressão arterial. Bolsonaro também apresentou quadro de anemia, desidratação e alteração da função renal.

Flávio Bolsonaro visitou o pai no dia da internação e atribuiu o mal estar à decisão da Primeira Turma do Supremo Tribunal federal (STF) que condenou Bolsonaro a 27 anos de prisão pela trama golpista. Também pediu "trégua" ao ministro Alexandre de Moraes, relator do processo, a quem se referiu como "terrorista".

Nesta quarta-feira, 17, o ex-presidente deixou o hospital no começo da tarde -- e, em paralelo, também saíram os resultados do procedimento que ele realizou no último domingo, quando removeu lesões na pele. O resultado foi de câncer de pele.

Além disso, o médico disse que Bolsonaro continua tendo episódios de soluço, às vezes mais intensos. "E quando ele tem esses soluços mais intensos, uma das coisas que acontece é que ele fica meio engasgado, vamos dizer assim. Aí ele tem um vômito reflexo", completou.


TERRA