No primeiro escrito cristão, Paulo suplica que aprendam sempre mais (1Ts 4,1) e a amar (ágape) mais e mais (1Ts 4,9-10). Sua Bíblia não diz, mas o original fala em andar, o que faz sentido, já que não existia o conceito de Cristianismo, mas do "Caminho". Para compreender a Bíblia, devemos estuda-la utilizando todo o ferramental disponível.
Em artigo anterior, apresentei as descobertas em Nuzi (Mesopotâmia) e Elefantina (Egito) que o doutor biblista Padre Raymond E. Brown apresenta no livro "Recent discoveries and the Biblical world", que mostram que as práticas estranhas de Abraão eram comuns naquela região.
O conhecimento da Bíblia cresceu com as descobertas de escritos, como cópias mais antigas de livros bíblicos (como os Manuscritos do Mar Morto e os Papiros Bodmer) ou de obras "bíblicas" que não foram aceitas no cânon sagrado (como os de Nag Hammadi).
Essas descobertas mostram como os povos bíblicos viviam, as línguas e estilos de escrita usados, como em Ebla, Ugarit, Mari e Nuzi. Impérios, povos e cidades antes pouco conhecidos deixaram registros, como os hititas, hurritas e as cartas de Amarna, preenchendo o pano de fundo da história bíblica.
Uma descoberta recente revelou um importante centro do terceiro milênio na Síria (localizado entre Hama e Aleppo), mais próximo geográfica e linguisticamente de Canaã do que as civilizações suméria, acadiana e egípcia conhecidas até então. As línguas semíticas são frequentemente divididas em nordeste-semíticas (acadiano, assírio, babilônico) e sudeste-semíticas (arábico do sul, etiópico), em contraste com as noroeste-semíticas (amorita, cananeia, aramaico) e sudoeste-semíticas (arábico). Dentro do ramo cananeu, incluem-se o ugarítico, o hebraico e o fenício.
Uma equipe arqueológica italiana da Universidade de Roma escava Tell Mardikh (a antiga Ebla), uma cidade que supostamente tinha 250 mil habitantes e foi destruída por Naram-Sin da Acádia, um governante já conhecido por descobertas. Entre 1974 e 1976, os arquivos de Ebla foram divulgados, uma descoberta impressionante mesopotâmicas de mais de 16.500 itens catalogados, datados de 2400 a 2250 a.C.
Cerca de 80% das tabuinhas estão em sumério (uma língua não semítica), enquanto 20% estão em uma língua semítica (que foi chamada de eblaíta), aparentemente do mesmo ramo noroeste- semítico que o hebraico. Mais de 10.000 nomes aparecem nessas tabuinhas (em sua maioria documentos comerciais), e alguns eram somente encontrados na Bíblia, como Adão, Eva, Jabal, Noé, Hagar, Bila, Miguel e Israel. Aparecem também palavras raras no hebraico, cerca de 1.700 palavras que aparecem apenas uma vez nos textos hebraicos anteriores a 70 d.C.. O emprego dessas palavras dão novos significados sobre as passagens bíblicas.
É importante lembrar que a poesia, incluindo a hebraica, frequentemente preserva vocabulário e sintaxe arcaicos. Assim, documentos em uma língua semítica relacionada, mesmo escritos 1.500 anos antes do texto bíblico, podem esclarecer fenômenos linguísticos esquecidos em períodos posteriores. Seguiremos aprendendo mais e mais.
Mario Eugenio Saturno (fb. com/Mario.Eugenio.Saturno) é Tecnologista Sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e congregado mariano
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