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Soda cáustica: veja riscos de usar o produto químico jogado contra médico em ataque no Cemetron


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A soda cáustica é comumente usada para desentupir pias. Além disso, é um importante ingrediente para a fabricação de sabão, por exemplo. Porém, segundo especialistas, se manuseada de maneira incorreta e sem a proteção devida, pode ser fatal para a pele e ao organismo.

P U B L I C I D A D E

O produto químico é tóxico e pode provocar queimaduras severas e danos graves aos olhos. Isso é o que aponta a Ficha de Informações de Segurança de Produto Químico (FISPQ), que trata do hidróxido de sódio no formato líquido – nome científico da soda cáustica.

Ainda com base na ficha, quando inalada, a soda cáustica também “pode provocar sintomas alérgicos, de asma ou dificuldades respiratórias”, bem como “penetrar nas vias respiratórias”.

Soda cáustica é um ingrediente fundamental à fabricação de sabão.  — Foto: Reprodução/TV Gazeta

Soda cáustica é um ingrediente fundamental à fabricação de sabão. — Foto: Reprodução/TV Gazeta

“Quem usa de forma artesanal, por exemplo, precisa ter cuidado, pois (a soda cáustica) aquece espontaneamente em contato com a água. Ela queima, irrita a pele, destrói as células. Ela tem esse poder, mesmo que em pequenas quantidades. Para manusear esse produto, a pessoa precisa ser habilitada”, disse o engenheiro químico Antônio Almeida Pereira.

O produto químico é registrado na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) como um “saneante corrosivo”. Segundo o médico Cleiton Bach, a soda cáustica é extremamente forte.

“Para o organismo, é bem pior que o ácido. É bem mais agressiva”, reforçou.

Cuidados

Pelo risco de corrosão, a Anvisa diz que a soda cáustica, além de outros produtos químicos do tipo, precisa estar em uma embalagem plástica rígida e fechada com uma tampa de dupla segurança, tanto na forma sólida quanto na líquida. O objetivo é dificultar a abertura.

“A soda cáustica, que é uma base, é agressiva nas mucosas. Então, geralmente corre toda a parte interna do nariz, perde todas as membranas, corrói septo nasal, faringe e esôfago. Ou seja, por onde passa, corrói”, explicou Cleiton Bach.

Produto químico é facilmente encontrado nos supermercados e comércios.  — Foto: Mayara Subtil/G1

Produto químico é facilmente encontrado nos supermercados e comércios. — Foto: Mayara Subtil/G1

Para o médico Cleiton Bach, o que preocupa é a facilidade de acesso ao produto, já que é encontrado à venda em prateleiras de comércios e supermercados.

“Geralmente se deixa em cima ou em lugares mais baixos exatamente por ser corrosivo. E criança tem muito acesso. Como essas barrilhas parecem doce, é comum as crianças pegarem. Acidentes com soda cáustica são muito mais comuns do que se imagina, infelizmente”, complementou Cleiton.

Por isso, o engenheiro químico Antônio Almeida Pereira alerta que é preciso muita proteção para mexer com a soda cáustica.

“Tem que usar luvas, máscaras e óculos de segurança. São os equipamentos de proteção individual indispensáveis para o uso do produto, seja líquido ou sólido”.

Veja detalhadamente os equipamentos de proteção necessários, segundo a FISPQ:

  • Proteção dos olhos/rosto: é obrigatório o uso de óculos de segurança ou protetor facial.
  • Proteção da pele e do corpo: avental, calça e sapatos/botas (recomenda-se borracha ou em PVC).
  • Proteção das mãos: luvas impermeáveis resistentes ao produto, como botas (recomenda-se borracha ou em PVC). As luvas devem ser inspecionadas antes da utilização.
  • Proteção respiratória: sob condições normais, não há necessidade. Porém, em situações especiais, usar máscara (semi-facial) com filtro contra poeiras, máscara facial inteira com linha de ar ou ainda conjunto autônomo de ar respirável.
  • Perigos térmicos: usar a proteção pessoal no manuseio da substância aquecida e seguir os procedimentos de trabalho e de pausas nos trabalhos em ambientes quentes.

Água: primeiro socorro

Correr para a água em abundância, seja em torneira ou chuveiro, é o primeiro passo a ser dado para eliminar o resíduo da soda cáustica.  — Foto: Marion Berard/AFP

Correr para a água em abundância, seja em torneira ou chuveiro, é o primeiro passo a ser dado para eliminar o resíduo da soda cáustica. — Foto: Marion Berard/AFP

Em caso de contato com a soda cáustica, os especialistas dizem que lavar o local atingido pelo produto por 20 minutos em água contínua, em média, é imprescindível. O intuito é eliminar todo e qualquer resíduo da soda cáustica.

“O que vai melhorar a situação é a lavagem corrente. Vai arder, pois está sem o anestésico, mas é o que salva”, disse o médico Cleiton Bach.

“O importante é que se tente ao máximo neutralizar o produto no organismo”, complementou o engenheiro químico Antônio Almeida Pereira.

Quando a soda cáustica entra em contato com os olhos, por exemplo, é importante que a pessoa olhe para todos os lados possíveis durante a lavagem, a fim de garantir a eliminação do tóxico. Após isso, seguir imediatamente a um pronto socorro.

Em outros casos apontados pelo FISPQ, como por exemplo:

  • Inalação: remova a pessoa para local arejado e a mantenha em repouso numa posição que não dificulte a respiração. Se não houver respiração, aplicar respiração artificial.
  • Ingestão: não provoque vômito. Porém, caso ocorra espontaneamente, deite o paciente de lado para evitar que aspire resíduos. Se a vítima estiver consciente, lavar a sua boca com água limpa em abundância. Em seguida, procurar orientação médica imediatamente.

Ataque

No último dia 6 de março, o médico infectologista sofreu um atentado depois de ser atacado no estacionamento do Cemetron, em Porto Velho. Ele chegava para o plantão no momento do ataque. O rosto da vítima ficou queimado.

A soda cáustica na forma líquida foi usada pelo agente penitenciário Oziel Araújo Fernandes, de 41 anos, contra o rosto do infectologista Gladson Siqueira, de 49 anos, conforme apontam as primeiras investigações da Polícia Civil.

O agente penitenciário Oziel Araújo Fernandes, suspeito do crime, se apresentou à polícia no mesmo dia. O homem confessou ter jogado o produto químico no rosto do médico, que está internado em um hospital da capital.

Médico estava chegando para plantão no Cemetron quando foi abordado pelo suspeito  — Foto: Pedro Bentes/ G1

Médico estava chegando para plantão no Cemetron quando foi abordado pelo suspeito — Foto: Pedro Bentes/ G1

Segundo Leisaloma Carvalho, da Delegacia de Homicídios, o crime foi motivado por ciúmes. Oziel foi encaminhado ao Presídio Vale do Guaporé, em Porto Velho, destinado a servidores da segurança pública.

Como consequência, Gladson, que permanece internado em um hospital da capital, teve lesão ocular e o rosto queimado.

Médico Gladson Siqueira foi atacado com soda cáustica na manhã da quarta-feira (6).  — Foto: Reprodução/Rede Amazônica

Médico Gladson Siqueira foi atacado com soda cáustica na manhã da quarta-feira (6). — Foto: Reprodução/Rede Amazônica

As vias aéreas do médico também foram atingidas pela soda e, com isso, ele passou por traqueostomia – cirurgia que consiste em fazer uma abertura na traqueia para facilitar a entrada de oxigênio. “Qualquer gota é terrível”, disse Cleiton Bach.

“Entendo que possa ter sido uma ação instantânea, uma represália. Se você usa um produto desse que apresenta toxicidade aguda, seja por inalação, via oral ou dermal, então a intenção dele (Oziel) foi de agredir”, opinou o engenheiro químico Antônio Almeida Pereira.

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