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Silêncio que gera palavra, escuta e discernimento


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Paradoxalmente, ao falarmos do silêncio, usamos as palavras e, de algum modo, temos a sensação de que estamos rompendo com ele. Contudo, entendemos que o silêncio é bem mais do que algo que rescinde com o ato de falar e ou de escrever: é elemento que os completa, pois é também uma linguagem implícita. Assim, embora pareça um oximoro, não seria inapropriado repetirmos uníssonos, aquele conhecido adágio que ensina que o “silêncio fala”.

P U B L I C I D A D E

Além da eloquente fala que o silêncio porta, ele também se apresenta como um lugar. Silêncio, não é, portanto, um fim em si mesmo ou um bem absoluto, só Deus assim o é. Ele apresenta-se como caminho a ser trilhado, mesmo numa sociedade e num mundo absortos pelo ruído e pelo barulho. Desse modo, pode-se dizer que o silêncio é capaz de gerar em nós palavra, escuta e discernimento.

O silêncio é aquele que gera as palavras. É impossível não admitir que os vocábulos, mesmo para os mais falantes, não tenham sido precedidos do silêncio. Incluso a conhecida narrativa bíblica da origem do mundo, descrita no primeiro Livro do Pentateuco, interrompe o silêncio primordial com a palavra criadora de Deus. De fato, o silêncio antecede a palavra. Viver o silêncio, desse modo, pode abrir caminho para que a verdade se revele. Assim, as palavras serão mais prenhes de uma verdade profunda, se gestadas no silêncio da consciência.

Gerador de escuta, também é o silêncio. Do ponto de vista religioso, quase todas as grandes escolas de espiritualidade são unânimes em atestar que o silêncio é caminho para a escuta. Só ouve bem, quem é capaz de calar, silenciar. Trata-se de uma medição para a escuta. Ouve-se num mergulho no abismo do silêncio a voz da própria consciência, nos encontramos. Em última análise e numa abertura mais profunda, escuta-se a voz de Deus, numa espécie de auditus fidei que nos remete a uma especulação sobre aquilo que acreditamos e nos faz aderir, obedecer às palavras que ouvimos como divinamente inspiradas: obedientia fidei.

O silêncio, outrossim, é espaço privilegiado para o discernimento. Discernir “é um exercício de experimentar, perceber, entender, avaliar, decidir e agir”. Não é um ato açodado. São ações que são experimentadas que necessitam de espaço, tempo e sobretudo de silêncio. Esse fato para que vozes alheias ao nosso sentir e inteligir, não interfiram no processo e nos façam discernir por algo estranho a nossa vontade e, em última análise, à vontade de Deus. Portanto, o silêncio é lugar para discernir.

Por fim, é claro que o silêncio não é antagônico à palavra, antes a fecunda. Igualmente, ele é condição essencial para ouvir, e quiçá para obedecer na fé e para facilitar o discernimento, consequência imediata de quem obedece e age regido pela fé.

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