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Rastros e relatos de viúvas sobre os impactos da 2ª Guerra em Cuiabá, veja vídeo


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Quem atravessa uma das principais avenidas do bairro CPA 4, ao avistar um memorial, nem imagina que o aglomerado de concreto, com acabamento em mármore, possa representar tantas lembranças de mais um capítulo da história de Cuiabá, que completa 300 anos em 8 de abril.

P U B L I C I D A D E

Rodinei Crescencio

Memorial de soldados mato-grossenses que foram para Segunda Guerra

Memorial de soldados mato-grossenses que foram para a Segunda Guerra fica no CPA 4

Neste caso, em especial, aos soldados que foram lutar na Segunda Guerra Mundial, na década de 40. O embate, embora longe das terras cuiabanas, não passou desapercebido. Foi tema de várias reportagens e marcou a vida de pessoas – veja galeria de fotos.

Os mato-grossenses fizeram parte deste momento político e sangrento que tumultuou nações de todo o mundo. A reportagem, ciente de que próximo ao memorial existe a residência de algumas famílias destes expedicionários, bateu de porta em porta com o clássico chamariz, “ô de casa”. A primeira personagem, sem se esquivar, se apresenta e convida a equipe para entrar. 

Ao narrar suas lembranças, dona Laurita diz ser viúva de Benedito Flávio Martins, cuiabano e soldado que sobreviveu à Segunda Guerra Mundial. Ele ficou um ano e nove meses na Itália, guerreando contra os nazistas. “Só contava sofrimento. Chegou da guerra e só depois o conheci. Nossas famílias já se conheciam, mas ainda não tínhamos sido apresentados”, lembra. 

Combinamos de fugir para que um padre fizesse o casamento em Cuiabá. No civil nós só casamos após o terceiro filho

Viúva Laurita Martins

Flávio faleceu aos 62 anos, no início da década de oitenta. Laurita acredita que ele tenha partido cedo pelo excesso de traumas e nervosismo que carregava após a temporada que guerreou contra os nazistas. Eles se casaram na igreja São Gonçalo, após fugirem, em uma madrugada, de Poxoréu, cidade em que a família baiana de Laurita residia.

Moça, aos 15 anos, havia sido prometida a um primo, mas não aceitava a união arranjada. “Ele virou amigo do meu pai. Depois, organizou minha festa de debutante e, sem podermos namorar, falávamos pouco. Combinamos de fugir para que um padre fizesse o casamento em Cuiabá. No civil, nós só casamos após o terceiro filho”, detalha.

Rodinei Crescencio

Laurita Santos Martins vi�va do expedicion�rio Benedito Flavio

Laurita Santos Martins é viúva do expedicionário Benedito Flávio e relata sofrimentos dele

O matrimônio ocorreu um ano após o soldado voltar da guerra, em 1946. À época, ele completava seus 26 anos. A viúva lembra que o marido era muito nervoso e, às vezes, brigava muito com ela e com os filhos, além de acordar, no meio da noite, dizendo ouvir tiros e bombardeios.

Segundo ela, o marido dizia que os soldados da linha de frente morriam ou ficavam alejados. “Quando meu esposo estava na linha de frente, um sargento chamado João Caruso o tirava dali e mandava ele para outro lugar. Foi assim que ele foi e voltou sem nenhum machucado”, acredita.

Segundo a viúva, o marido também chegou doente com diabete e pressão alta e, no fim da vida, tinha doenças nas pernas. “Um colega que foi com ele para guerra entrava debaixo da cama e gritava (vem tiro) repetidamente. Dizia que era para eu me esconder. O que eu conto, todas as esposas e viúvas de expedicionários contam da mesma forma”, memora.

A maioria dos soldados faleceram com o tempo, mas havia uma sede da Associação Nacional dos Veteranos da Força Expedicionária Brasileira (ANVFEB), que ainda tem a matriz no Rio de Janeiro, em Cuiabá. Por conta do antigo espaço e seus frequentadores, o memorial com o nome dos 118 soldados mato-grossenses que foram para Segunda Guerra foi transferida do bairro Porto para o CPA 4. 

Rodinei Crescencio

Vi�va Margarida conta momentos traum�ticos do marido

Margarida conta momentos traumáticos do marido, guarda fotos e medalhas da 2° guerra

Próximo ao monumento, outra viúva acolhe a reportagem em sua casa. Dessa vez, é dona Margarida, 83 anos, esposa do soldado Feliciano Moreira da Costa.

Ela se esforça para dar alguns detalhes, mas a mente falha. A casa tem inúmeros santos que se misturam às placas e medalhas de honraria que o marido recebeu após a guerra. 

Margarida vai todos os dias à igreja, com um crucifixo no pescoço e usa uma camiseta como mais um detalhe de sua devoção à Nossa Senhora. “Ele falava pouco sobre a guerra, mas tinha uma expressão triste quando alguém buscava suas lembranças. Não voltou machucado de lá, mas viu muita gente morrendo”.

A casa tem muitos símbolos na parede. Entre as honrarias do esposo, há uma foto antiga com uma criança italiana no fim da Segunda Guerra. Há também registros com outras autoridades e filhos fardados. A viúva diz que Feliciano, apesar de todo o sofrimento, falava em tom de orgulho do dia da vitória e de quando voltou de navio ao Brasil.

Assista:

 

“Quando voltou da guerra, logo nós nos casamos. A maioria dos nossos filhos também seguiu carreira militar. Quando era vivo, ele e os outros soldados se reuniam muito na associação e se tratavam como irmãos”.  

O Brasil e os soldados enviados à Segunda Guerra Mundial e Carmen Miranda

Com o símbolo da Força Expedicionária Brasileira (FEB) ressurge uma curiosidade sobre o posicionamento do Brasil no período de caos nos seis anos de bombardeio. O desenho de uma cobra fumando era uma alusão irônica ao que se afirmava na época, quando o Brasil tentava se manter neutro. Por um momento, acreditou-se que era mais fácil uma cobra fumar cachimbo do que o Brasil participar da guerra na Europa, o que ocorreu em 1942. 

Entrava de baixo da cama e gritava (vem tiro) repetidamente. Dizia que era para se esconder de baixo da cama

Viúva Laurita Martins

O governo federal, junto ao Exército Brasileiro, afirma que o Brasil participou da campanha enviando 25 mil homens do Exército pela FEB, uma esquadra de navios da Marinha e um grupamento de caças da FAB. Homens e mulheres foram responsáveis pela participação do Brasil ao lado dos aliados nas ações da Itália, em uma de suas últimas fases, que terminou em 1945.  

Arquivo público

Manifesta��o a favor da declara��o de guerra contra o eixo Alemana, It�lia e Jap�o, em frente a antiga Matriz na Capital

Manifestação a favor da declaração de guerra contra o eixo Alemana, Itália e Japão, em frente a antiga Matriz na Capital mato-grossense 

 Em 1939, com o início da Segunda Guerra Mundial, o Brasil era neutro e o então presidente Getúlio Vargas não se definiu por nenhuma das potências. Posição que teve de mudar em 1942, após o governo brasileiro acertar com os Estados Unidos a cessão de bases aéreas na ilha de Fernando de Noronha e, ao longo da costa norte-nordeste brasileira, para o receber bases militares norte-americanas.

Especialistas relatam que, caso as negociações não tivessem dado resultado com Getúlio Vargas, os Estados Unidos planejavam tomar o Nordeste brasileiro. Enquanto isso, avançavam submarinos premeditados por Adolf Hitler em águas brasileiras para intimidar o governo do Brasil a se manter na neutralidade. 

Arquivo pessoal

Soldados brasileiros posam com mo�as europ�ias para sinalizar fim da guerra

Soldados brasileiros posam com moças européias para sinalizar fim da guerra em 1945

No entanto, segundo os diários do político e ministro da propaganda nazista Paul Joseph Goebbels, à adesão do Brasil aos compromissos da Carta do Atlântico, que previa o alinhamento automático com qualquer nação do continente americano que fosse atacada por uma potência extracontinental, tornava sua neutralidade apenas teórica.

Carmen Miranda foi tratada como musa da política de “boa vizinhança”, que consistia em uma maior aproximação dos Estados Unidos com a América Latina.

Protestos e a declaração de guerra

Apesar de meses dos bombardeios de navios mercantes brasileiros, foi apenas após o povo ir às ruas, e exigir a declaração de guerra à Alemanha nazista e à Itália fascista, que o governo brasileiro, por meio do decreto em 31 de agosto de 1942, reconheceu o estado de guerra entre o Brasil e as potências do Eixo em agosto de 1942.

Naquele período, o país ainda tinha a população majoritariamente analfabeta, que vivia no campo e uma economia com foco principal voltado para exportação de commodities. A política internacional tradicionalmente isolacionista, com raros alinhamentos com os ditos perturbadores da ordem e do comércio internacional. 

Rodinei Crescencio

Vi�va Margarida mostra medalhas do marido que foi para Segunda Guerra

Viúva Margarida mostra medalhas do marido que foi para Segunda Guerra Mundial. Casamento ocorreu após o soldado voltar vitorioso da guerra em 1945

A Força Expedicionária Brasileira teve sua formação protelada por um ano, após a declaração de guerra, e o envio de soldados para batalha foi iniciado somente em julho de 1944, quase 2 anos após a declaração.

Hitler veio à América Latina

A pesquisadora Simoni Renée Guerreiro Dias desenvolveu uma tese sobre o nazista Adolf Hitler ter fugido para a América do Sul e não ter se matado, em 1945. Ela relata em seu livro, “Hitler no Brasil – Sua Vida e Sua Morte”, que ele poderia ter escapado da invasão soviética a Berlim no ano em que a guerra se findou e forjado o próprio suicídio. 

Em sua teoria, ele teria vivido e morrido em Mato Grosso, tendo falecido com cerca de 95 anos em Nossa Senhora do Livramento. A dissertação de mestrado em jornalismo de Renée, subverte a versão conhecida do fim do alemão. A pesquisadora ganhou notoriedade da imprensa em 2014, após defender que realizaria um exame de DNA em Israel com um suposto descendente de Adolf.

Alguns trataram com deboche, já outros não descartam a possibilidade já que não se sabe dos restos mortais do ditador e as informações sobre sua morte são limitadas.

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