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Publicitária cuiabana Yandra Pascoal afirma que homens detêm o poder e feminismo é luta precisa


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pós polêmicas sobre o feminicídio, Dia da Mulher e outras questões que visam frisar a luta das mulheres, o foi buscar entender um pouco melhor desse movimento com a feminista e publicitária Yandra Pascoal. Ela, que na adolescência ainda se assustava com o termo feminismo, buscou mais informações e com muita pesquisa percebeu o quão ampla a luta das mulheres pode ser, além de necessária. Por este motivo, nos últimos tempos resolveu se empenhar a um projeto de nível nacional chamado Íris. Ele atende, inclusive, mulheres em diferentes níveis de vunerabilidade. Yandra comenta que, normalmente, quem segue com alguns esteriótipos errôneos sobre o feminismo é na tentativa de tratá-lo com tom perjorativo, tentando desqualificar o movimento. A entrevistada fala da necessidade da coletiviade no movimento feminista, apesar de diferentes vertentes, para mudar os rumos das desigualdades sociais.

P U B L I C I D A D E

Confira os melhores trechos da entrevista:

Quando começou a ter consciência da luta de gênero? Em sua opinião, existe algum tipo de equívoco em relação ao termo feminismo?

A primeira vez que eu comecei a refletir de maneira crítica sobre o que era ser mulher na sociedade eu tinha 14 anos. E, infelizmente a origem da minha luta veio de um episódio criminoso e traumático para toda minha família e que mantém sequelas até hoje. Nesse dia, lembro de ter entendido que quando se nasce mulher, o mundo é um ambiente hostil. Conversei com professoras, com amigas, busquei em revistas e um nome que gerava medo, feminismo. Bastou estudar, ouvir e conhecer para entender que o feminismo é necessário, é justo e luta pelo bem de todos. Não vejo qualquer equívoco. Às vezes ouvimos que o feminismo já não é necessário, pois no papel homens e mulheres são iguais. Mas a gente bem sabe que a realidade é outra, o Brasil é o 5º país que mais mata mulheres no mundo, segundo a ONU, e essa é só um dos milhares de dados que esboçam nossa realidade. Então, é sempre importante lembrar que feminismo não é o contrário de machismo. O feminismo empodera, o machismo mata. O feminismo é um movimento social e político que procura construir condições de igualdade em direitos e oportunidades entre todos os gêneros. Mulheres ainda são as mais afetadas pela sociedade dominada pelo machismo estrutural. Quando não existir mais o machismo, também não precisaremos do termo feminismo. Pois, finalmente teremos conquistado a nossa tão sonhada equidade e liberdade.

Quais são as vertentes do movimento feminista e qual mais representa suas idéias? Acredita que a compreensão dessa luta é importante em um aspecto social?

Falar de vertentes é sempre muito proveitoso e ao mesmo tempo delicado. É necessário estudo, um pouco de conhecimento histórico e bastante dedicação para se encontrar em meio às diferentes propostas. É importante lembrar que feminismo é, antes de tudo, um movimento político que luta pela libertação das mulheres. Ao longo da sua história, as pautas feministas foram se diversificando e se organizando em torno das diferentes demandas identificadas em grupos específicos. Para organizar e abranger todas elas dentro do pensamento teórico e político surgiram às vertentes, que seguem como um norte para as ações de determinado grupo. Atualmente, a corrente que mais me identifico é o feminismo interseccional, que procura a intersecção entre os tipos de opressão, seja de gênero, de raça e de classe social. Porque assim como essa vertente, acredito que toda mulher, independente da condição de gênero, etnia, sexualidade, faixa etária, peso, altura, classe social, sofre com os pilares do patriarcado. Porém, nem toda mulher sofre com outros sistemas estruturais e opressores da sociedade. Logo universalizar vivências e colocar todas num mesmo pacote de opressão é silenciador na medida em que não se estão reconhecendo privilégios que mulheres podem ter, sejam de etnia, de classe, de orientação sexual e tantos outros.

Atualmente, a corrente que mais me identifico é o feminismo interseccional, que procura a intersecção entre os tipos de opressão

Yandra Pascoal

Há quem se refira sobre o movimento como “feministas de sofá” ou “militante de internet”. Isso faz sentido? Como é possível ir além dos debates e transformar realidade de mulheres?

A expressão ativismo de sofá é geralmente usada para designar de forma pejorativa quem se dedica a denunciar o que lhe parece incorreto, ou escrever sobre o que lhe parece correto. O mundo atual é conectado, não existem mais barreiras entre o real e o virtual, principalmente quando tratamos da geração Millenial, que é a nascida entre 1980 e 2000 ou da Gen Z, nascida entre 1995 e 2010, então, nada mais natural que os debates tenham a internet e as redes sociais como ambiente principal. Eu acredito que toda voz é válida e que silenciar, mais segrega e enfraquece, que ajuda. Então, os gritos e movimentos que chegam “do sofá” podem sim fazer uma grande diferença no comportamento e nos rumos que a sociedade toma. Para ir além dos debates basta agir onde puder. Gosto de lembrar que o feminismo começa com um exercício de empatia: olhe ao redor e veja como as mulheres estão sendo representadas, pense como pode fazer diferente, observe a rotina da sua casa, da sua família, detalhes do seu próprio dia a dia. Mude suas atitudes diariamente para que elas sejam cada vez mais inclusivas e libertadora para todas as mulheres. Às vezes a gente pensa que é preciso fazer algo grandioso, participar de um grupo ou de um movimento. Mas, na verdade, agir com um olhar atento e justiça dentro dos seus próprios ambientes de circulação também geram grandes impactos.

Por que acredita que essa realidade ainda é tão presente e naturalizada entre as pessoas? Há resistência de se debater sobre o tema?

Tudo começa com o patriarcado, esse sistema sociopolítico em que o gênero masculino e a heterossexualidade têm supremacia sobre outros gêneros e sobre outras orientações sexuais. A sociedade atual, apesar de já ter começado a despertar, ainda considera o homem como um símbolo superior e dominante. Hoje mesmo passei por um outdoor sobre cursos de desenvolvimento pessoal que carregava a mensagem “Você pronto para o sucesso”. Com um homem estampado na foto. Para mim, essa imagem é um retrato social, acredita-se que homens são capazes, que homens estão prontos, que homens trabalham mais e melhor, que homens detêm o poder sobre todas as esferas da sociedade e isso inclui, inclusive, outros corpos, o que acaba legitimando a violência contra mulheres. É muito triste saber que isso ainda é naturalizado e presente entre nós. Enquanto não abrirmos espaços de conhecimento e informação acessíveis a todas as pessoas e enquanto não debatermos a raíz do problema de maneira ética, diversa e inclusiva, infelizmente teremos lentos avanços.    

A luta de gênero, em sua opinião, é atrelada a outras lutas que buscam equidade social? Como acredita que isso pode ocorrer?

Sim. Eu acredito que para falar sobre feminismo é extremamente importante levar em consideração a complexidade social. Precisamos falar sobre classe, precisamos falar sobre raça, sobre acesso e sobre oportunidades. Como disse  antes, me identifico com a vertente interseccional, que leva todos esses recortes em consideração na hora de lutar pela equidade. Mas, é importante lembrar que é necessário respeitar o lugar de fala, jamais podemos nos sobrepor a vivência de outras mulheres com teorias ou estudos acadêmicos. O movimento pode e deve estar dentro dos mais diversos campos da sociedade e acredito que disseminar o conhecimento para as comunidades com políticas públicas e inclusivas seja um bom primeiro passo para começar a transformar tudo isso.

Arquivo Pessoal

Yandra Pascoal

Yandra em encontro do Projeto Íris, em SP, no mâs passado; ela é embaixadora e representa a região Centro Oeste

Como embaixadora do projeto Iris, você acredita que pode contribuir efetivamente para algumas mudanças sociais em Mato Grosso? Como isso está sendo pensado e feito?

Para mim é uma grande honra e desafio trazer o Projeto Íris para Cuiabá. Sempre pensei que Mato Grosso merecia estar no mapa enquanto criador e promotor de novas realidades para o Brasil e que nós temos grandes potenciais criativos para oferecer ao mundo. Nosso estado tem uma incrível diversidade étnica e cultural, possui inúmeros projetos fortes, inclusivos, tecnológicos e inovadores. Portanto temos um potencial incrível de contribuir,  sim, com a transformação da realidade brasileira num ambiente muito melhor para nós, mulheres. Gostamos de falar, principalmente em tempos difíceis como o que estamos passando,  da importância de resistir. Mas, muito pouco falamos sobre a importância de construir a realidade que queremos.  Resistir também significa lutar e para lutar é importante acreditar que um futuro melhor é possível e mais que isso, precisamos ter a consciência que podemos ser protagonistas desse futuro. O projeto Íris tem três objetivos bem definidos, que são, transformar o Brasil em um país seguro para as mulheres, fomentar a equidade de gênero nas ruas, casas, escolas e ambientes de trabalho, e desenhar um futuro desejável para a liberdade do feminino no Brasil. Por meio de uma metodologia de inovação social chamada design de futuros desejáveis, vamos co-criar um mapa dos  futuros que queremos para o país, através da igualdade de gênero.  O objetivo é que ao final do projeto tenhamos criado de maneira participativa e colaborativa soluções de impacto capazes de entregar essa nova realidade para toda a sociedade, começando por atitudes que podemos tomar agora.

Se alguém quiser participar do projeto Íris, seja ajudando outras mulheres ou sendo ajudada, o que precisa fazer?

Em breve vai acontecer na cidade, o primeiro workshop de ativação do Projeto ÍRIS. O evento será gratuito e a data + local serão divulgados através do instagram do projeto irisliberdadedofeminino e meu instagram @yandrapascoal ou   nas redes sociais do Coletivo Publicitárias, grande apoiador desse evento aqui em Cuiabá. Todos podem participar! O projeto é aberto a todos os gêneros, além de compartilhado e colaborativo.

Acredita que um dia será possível as mulheres serem livres e alcançarem essa equidade em todos os setores da vida? Seja no mercado ou sem sofrer preconceito e violências?

Acredito. Digo mais, acredito que essa nova sociedade está bem aí e que juntas vamos construir esse futuro que tanto merecemos. O futuro pode ser bem melhor do que costumamos imaginar, basta colocar nele uma intenção ética, diversa e colaborativa para que possamos lutar numa mesma direção. Afinal, gosto de pensar que o futuro é sempre uma possibilidade.

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