P U B L I C I D A D E

Em um período incomum como o atual, em que a vida cotidiana foi revolucionada pela crise global do coronavírus, os idosos são ainda mais afetados. Como vítimas preferenciais da covid-19, precisam ficar em isolamento domiciliar. Isso exige esforço de familiares (mas também de amigos e vizinhos) para que suas necessidades básicas do dia a dia sejam atendidas. Veja, a seguir, algumas recomendações de especialistas sobre como estender a mão aos mais velhos durante o afastamento do restante da sociedade para o bem da própria saúde.

Cuide da saúde mental dele

Os sintomas mais conhecidos da covid-19 são tosse e febre, mas há um outro impacto, menos badalado mas igualmente importante, capaz de afetar até mesmo quem não foi contaminado pelo coronavírus. Especialistas alertam que o isolamento social imposto aos mais velhos tende a aumentar o risco de depressão entre eles – que, no Brasil, já costumam sofrer mais com essa doença do que outras faixas etárias. Por esse motivo, uma das principais obrigações de filhos, netos ou amigos de idosos é se esforçar para se fazer presentes e enviar sinais de solidariedade mesmo a distância.

A Pesquisa Nacional de Saúde realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2013 identificou que a faixa entre 60 e 64 anos é a mais atingida pela depressão no país, com 11,1% dos idosos afetados por esse problema. Na média de toda a população brasileira com mais de 18 anos, esse índice fica em 7,6%, conforme o levantamento. Há razões físicas e psicológicas para esse cenário, segundo o geriatra João Senger, presidente da seção gaúcha da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia.

— Há questões orgânicas, como a diminuição de neurotransmissores como cerotonina e dopamina, e e perdas comuns da vida, como a da visão, da audição, de amigos ou parentes — analisa Senger.

Como resultado, ao se verem em isolamento, principalmente quando estavam acostumados a conviver com outras pessoas, o risco de enfrentarem um quadro depressivo tende a ser maior do que em outras faixas etárias. A maneira de evitar isso é fazer contato frequente, se possível diário, com os mais velhos, seja por meio de telefonemas ou contato via aplicativo. É importante deixar claro que o afastamento é uma necessidade de saúde pública, uma estratégia temporária, e não significa que o idoso está largado à própria sorte. É fundamental também acompanhar suas necessidades, providenciar alimentação e eventuais medicações.

Dicas
– Procure entrar em contato diariamente com o idoso, seja por telefone ou aplicativo que inclua ligações por vídeo como WhatsApp ou Messenger

– Deixe claro de que o afastamento é temporário e motivado por uma estratégia de saúde pública
– Se o idoso morar em apartamento, procure deixar seus contatos com algum vizinho ou porteiro, se houver, para qualquer eventualidade

Como falar sobre isolamento

Um dos desafios no enfrentamento ao coronavírus é convencer uma parcela dos idosos – principal grupo de risco para a doença – a permanecer em casa e tomar todas as medidas de precaução necessárias. Para facilitar esse trabalho, é importante escolher a maneira certa de abordar o assunto e conversar de forma que não se sintam desprezados ou subestimados.

O geriatra João Senger lembra que muitos idosos costumam ter hábitos arraigados – o que pode incluir comportamentos como sair a uma determinada hora do dia para um passeio, fazer compras ou encontrar amigos. Mudar isso de uma hora para outra é difícil.

— O idoso, por natureza, é mais conservador, no sentido de fazer as mesmas coisas. Chegam a vestir as mesmas roupas, ou costumam usar sempre roupas de cores semelhantes. De uma hora para outra, pedimos para mudar tudo na vida deles? Muitos não aceitam bem — analisa Senger.

Por isso, o primeiro passo é destacar a gravidade da crise que todos estão enfrentando e que o coronavírus é especialmente letal entre os mais velhos. Outro caminho é sempre ressaltar que se trata de uma medida temporária, mas capaz de prevenir uma alternativa muito pior: passar por uma longa internação em um hospital.

O geriatra lembra que, em alguns casos, a idade pode vir acompanhada de algum déficit cognitivo. Nesse caso, mesmo contra a vontade do familiar, é preciso tomar uma medida mais drástica para garantir que ele não saia de casa. Em situações desse tipo, pode ser necessário contar com alguém que faça companhia e garanta a segurança dele – tomando as precauções devidas para evitar contaminações. Outra dica é não falar com eles de maneira condescendente, dando a impressão de que não têm autonomia ou capacidade de se manterem por conta própria. De maneira firme, mas carinhosa, deve-se tentar explicar que a quarentena é apenas uma prevenção contra um vírus que tem como particularidade agravar a saúde de quem tem mais idade.

Como ajudar no dia a dia

A impossibilidade de sair de casa durante a pandemia traz uma série de problemas práticos para o idoso, como abastecer a geladeira ou comprar eventuais medicações de uso contínuo. Por isso, as famílias precisam se organizar para dar conta das necessidades dos mais velhos, garantindo, ao mesmo tempo, a segurança de todos diante da ameaça do coronavírus.

Uma das contribuições mais importantes é fazer compras. Para isso, vale seguir algumas regras de segurança. O ideal é ter o mínimo contato possível com o familiar para evitar uma contaminação. Se não houver outra possibilidade, a recomendação é não entrar na casa do idoso com o sapato usado na rua, trocar de roupa ou colocar um avental grande, lavar bem as mãos e o rosto e não se aproximar muito. As compras devem ser higienizadas com um pano limpo umedecido com álcool gel 70%. Outra recomendação importante, segundo a nutricionista Raquel Lupion, é cuidar o tipo de alimentação que será comprada. Em épocas como essa, aumenta o apelo por alimentos congelados – mas o ideal é evitá-los pela presença excessiva de conservantes e elementos como sal ou açúcar. Quanto mais alimentos frescos e vegetais, melhor.

Remédios também são necessidades frequentes, e é preciso conseguir a receita no caso de medicamentos de venda controlada. O idoso precisa, ainda, de acompanhamento mesmo a distância para algumas questões prosaicas do dia a dia, mas nem por isso menos importantes – como, por exemplo, beber água. Idosos, lembra o geriatra João Senger, por razões naturais, geralmente sentem bem menos sede. Por isso, deve-se lembrar os mais velhos de se hidratarem com frequência.

Dicas
– Ao fazer compras para o idoso, evite alimentos congelados ou ultraprocessados. Dê preferência para alimentos frescos, frutas e verduras

– Evite ao máximo contato com o idoso. Caso necessário, não entre na casa dele com o mesmo sapato da rua. Procure trocar de roupa ou usar um avental grande, lave bem as mãos e o rosto. Mantenha distância de pelo menos 1,5 metro
– Verifique como está o estoque de medicamentos de uso contínuo. Em caso de medicação controlada, providencie a receita para comprar
– Idosos sentem menos sede, mas é muito importante que se mantenham hidratados. Mesmo a distância, lembre-os com frequência de beber água

Fonte:https://gauchazh.clicrbs.com.br/