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Polícia desarticula esquema de venda de CNHs


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Um esquema de fraudes na obtenção da Carteira Nacional de Habilitação (CNH) virou alvo da operação “Mão Dupla”, deflagrada desde as primeiras horas desta última quarta-feira (05), pela Delegacia Especializada de Crimes Fazendários e Contra a Administração Pública (Defaz), ligada à Polícia Civil (PC). Os crimes de corrupção ativa e passiva, inserção de dados falsos no sistema Detrannet e organização criminosa, para venda ilícita de carteiras, eram operados de dentro do Departamento Estadual de Trânsito de Mato Grosso (Detran-MT).

P U B L I C I D A D E

Por meio de nota, o Detran informou que a operação teve início após informações que partiram do próprio órgão estadual. As informações são compartilhadas com a polícia desde 2016. Conforme as investigações, os candidatos pagavam entre R$ 1 mil a R$ 4 mil para serem aprovados sem a necessidade de realizar as provas do Detran. A quadrilha atuava há pelo menos 10 anos. “Com relação ao que nós já apuramos nos levantamentos a participação de pelo menos 30 pessoas”, informou o delegado Sylvio do Vale Ferreira Junior.

Alusiva aos dois sentidos de uma via, a operação “Mão Dupla” cumpriu 60 ordens judiciais, sendo 25 mandados de prisão preventiva e 35 buscas e apreensões nas cidades de Cuiabá, Várzea Grande, São Félix do Araguaia, Chapada dos Guimarães, Campo Verde, Tangará da Serra, Juína e Rondonópolis.

Do total, 20 contra servidores do Detran, em Cuiabá e Tangará da Serra, e 15 contra particulares em colaboração, que são instrutores e donos de autoescola, com atuação conjunta de servidores que montaram um “verdadeiro balcão de negócios” dentro do órgão para o comércio de CNHs. Os mandados foram expedidos pela 7ª Vara Criminal da capital.

Entre os detidos está o servidor Silvio Bueno, que seria o responsável pelo esquema montando dentro do Detran. Ele ocupava o cargo que definia as planilhas de trabalho, quando havia bancas de avaliação. As investigações do inquérito policial (210/2017) iniciaram com informações repassadas pela Coordenadoria de Fiscalização de Credenciados do órgão estadual de trânsito e denúncias que chegaram à Especializada, sobre a venda ilícita do documento. “A organização criminosa operava no agenciamento de candidatos que não detém capacidade técnica, para serem aprovados nos exames práticos e teóricos de direção veicular”, informou a PC.

De acordo com as investigações, esses candidatos eram cooptados a fazer o pagamento da CNH, sem necessidade de realizar os testes, apenas assinavam as listas de presença e os laudos de provas. Após, eles iam embora sem realizá-los. Durante os trabalhos investigativos foram juntadas aos autos 21 confissões de candidatos que confirmaram o pagamento de valores que variavam de R$ 1 mil a R$ 4 mil, para serem aprovados sem a necessidade de realizar as provas do Detran.

Os valores, que podiam variar de acordo com a condição financeira do candidato, eram pagos aos representantes das autoescolas, que por sua vez repassavam aos servidores da banca examinadora do Detran.

Segundo a apuração, os examinadores usavam proprietários ou instrutores de centros de formação de condutores (autoescolas) como intermediários, os quais ofertavam os serviços para os clientes, fazendo a arrecadação do dinheiro, e, em alguns casos, repassando a parcela do examinador, “agindo de forma organizada e estruturada para o cometimento das fraudes apuradas, desrespeitando as regras e os procedimentos necessários para a obtenção da CNH”.

Com base nas confissões e outros elementos de prova, a apuração confirmou que 30 candidatos foram beneficiados com as fraudes. Com a operação, a Polícia Civil espera chegar a um número maior de beneficiados.

Segundo o delegado, foi revelado a existência de corrupção sistêmica, praticada por servidores do Detran-MT, refletindo na segurança das vias terrestres com proporções no território estadual e nacional. “Nenhum mato-grossense fica imune às ações dessa organização criminosa, haja visto que todos utilizam as vias terrestres brasileiras e mato-grossenses e estão sujeitos a serem vítimas de condutores incapacitados para trafegar pelas vias em veículos automotores”, destacou.

A Polícia Civil observa ainda que Mato Grosso ocupa o terceiro lugar no ranking em mortes no trânsito, segundo dados do Observatório Nacional de Segurança Viária (OBNSV), motivo que pode estar relacionado com a inabilidade dos condutores de veículos que trafegam nas estradas mato-grossenses, colocando em risco a própria vida e a de outras pessoas.

Participaram da operação 180 policiais, entre delegados, investigadores, escrivães de unidades da região metropolitana, com apoio das Regionais das cidades com mandados expedidos.

Em nota, o Detran-MT esclarece que todas as denúncias formalizadas ao órgão serão apuradas e, se confirmadas, serão instaurados procedimentos administrativos. “Com a deflagração da operação, o Detran-MT continuará colaborando com as investigações, na medida em que a autarquia preza pelo combate à corrupção e lisura dos procedimentos para obtenção da CNH e demais processos, em todos os setores”, afirmou.

Os servidores envolvidos no suposto esquema serão afastados de suas funções e responderão a procedimentos administrativos disciplinares (PAD), que, caso sejam comprovadas as irregularidades, poderão ser penalizados, inclusive, com exoneração. Em relação às empresas credenciadas junto ao órgão, o Detran, assim que notificado formalmente, deverá instruir procedimento administrativo para apurar as denúncias. “Em caso de comprovação das supostas fraudes, os profissionais e Centros de Formação de Condutores (CFCs) envolvidos serão descredenciados e impedidos de realizar novo credenciamento por até cinco anos, conforme rege a lei”, informou.

EXAMES – Como alguns dos envolvidos no suposto esquema faziam parte da banca de examinadores dos exames práticos de direção veicular, as provas que seriam realizadas nesta quarta-feira foram suspensas em todo o Estado. No total, 230 exames para obtenção de CNH para carro e moto foram suspensos.

O Detran informou que nenhum candidato será prejudicado e os exames, em Cuiabá, serão realizados nesta quinta-feira (06). No interior, as escalas serão remanejadas e as provas remarcadas, sem prejuízo aos candidatos.

OUTRAS OPERAÇÕES – Operações semelhantes foram realizadas ano de 2013 e 2014. A operação “Fraus” da Regional de Barra do Garças (2013) indiciou 125 pessoas no esquema de fraudes na obtenção e emissão de CNH. A operação Narted (2014) da Delegacia Fazendária indiciou 17 suspeitos envolvidos (servidores, ex-servidor, beneficiários, dono e ex-funcionários de autoescolas) no esquema de venda de CNH.

“Ainda assim as práticas ilícitas continuaram ocorrendo de forma persistente”, analisa a delegada titular da Defaz, Maria Alice Barros Martins Amorim.

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