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Saúde

Pesquisadora da UnB testa maconha em tratamento de viciados em crack


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Uma pesquisa desenvolvida na Universidade de Brasília (UnB) testa os efeitos do canabidiol – substância derivada da Cannabis sativa, conhecida como maconha – no tratamento de pessoas viciadas em crack.

P U B L I C I D A D E

Há cerca de três anos, a professora e pesquisadora Andrea Gallassi pediu à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para importar o extrato e testá-lo em dependentes da droga sintética.

Segundo Gallassi, a substância tem potencial para amenizar praticamente todos os sintomas da abstinência, como ansiedade, insônia, falta de apetite e o desejo intenso pelo consumo da droga.

“Hoje a gente não tem um tratamento referência para as dependências químicas. Não temos um medicamento com uma assertividade considerada ideal para essas pessoas interromperem [a droga] e conseguirem controlar os principais sintomas que as fazem voltar ao uso.”

“O grande desafio é desenvolver medicamentos que, de fato, ataquem os principais sintomas de pessoas que têm dependência de crack, de cocaína e álcool.”

Pesquisadores estudam canabidiol — Foto: Reprodução/EPTV

Pesquisadores estudam canabidiol — Foto: Reprodução/EPTV

A pesquisadora disse ao G1 que os tratamentos feitos, hoje, envolvem uma série medicamentos – cada um com efeito distinto. “A pessoa toma vários remédios, como antidepressivos, calmantes, estabilizadores de humor, que foram criados com outras finalidades.”

Com a pesquisa, ela aposta que tudo isso possa se resumir a uma única substância 100% natural, que é o canabidiol. “Seria um medicamento único e não um coquetel”, afirma.

“O canabidiol reúne muitas vantagens do ponto de vista dos efeitos positivos e, também, dos adversos. O máximo que pode fazer é dar sonolência. Ele ainda tem uma toxicidade muito baixa, pro fígado e pros rins, por exemplo.”

Canabidiol é uma substância presente na maconha e é liberado para uso em medicamentos — Foto: Marcelo Brandt/G1

Canabidiol é uma substância presente na maconha e é liberado para uso em medicamentos — Foto: Marcelo Brandt/G1

Além das vantagens apontadas por Gallassi, a pesquisa propõe que o tratamento seja feito sem internações, para que os pacientes consigam abandonar o uso do crack sem abrir mão da própria rotina. “A ideia é que eles sigam a vida normalmente.”

Andrea Gallassi afirma que, antes de começar o processo terapêutico, informa aos pacientes sobre a substância usada, seus efeitos e mitos. “A gente explica pros pacientes que é um medicamento derivado da maconha, mas que não tem o princípio ativo, que é o THC.”

“É também uma forma de combater a desinformação com informações correta, baseadas em evidências científicas.”

A pesquisa

Dependente químico — Foto: Waldson Costa/G1

Dependente químico — Foto: Waldson Costa/G1

O estudo começou há quatro semanas, depois que o primeiro carregamento de canabidiol chegou do exterior. “Foi a primeira importação para fins de pesquisa. Até então, a Anvisa só havia autorizado a compra por pessoas físicas”, explicou Gallassi.

“Eles foram muito dedicados e não mediram esforços, não colocaram nenhum impeditivo. Isso abre um precedente para outras pesquisas.”

Para custear as importações, a pesquisa conta com financiamento da Fundação de Apoio à Pesquisa do DF (FAP-DF) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Óleo canabidiol — Foto: Reprodução/RPC

Óleo canabidiol — Foto: Reprodução/RPC

A pesquisa é desenvolvida em parceria com o Centro de Atenção Psicossocial (CAPs) de Ceilândia. Ao todo, 80 pessoas com dependência de crack passarão pela experiência até outubro – metade receberá o canabidiol e a outra metade, o tratamento convencional. Nenhuma delas será informada sobre os medicamentos ingeridos.

“Não existe o grupo que toma pílula de placebo, todo mundo vai ser tratado. Só que os pacientes não vão saber em qual grupo estão. Eles apenas sabem que a pesquisa envolve o canabidiol e assinam um termo em que declaram não saber o que vão tomar”, explica Andrea Gallassi.

“Recebemos muito contato de familiares, mas a premissa é que a pessoa tem que querer participar da pesquisa e ela mesma deve fazer esse contato.”

Até a publicação desta reportagem, a pesquisa havia recrutado dez pacientes. “Diferente do que se imagina, não é fácil encontrar 80 pessoas com dependência de crack que tenham disponibilidade para fazer o tratamento.”

Por isso, Gallassi e a equipe organizaram o recrutamento em oito etapas, de modo que os pacientes ingressem aos poucos. Para cada um, o tratamento terá duração de dois meses e meio, com encontros presenciais uma vez por semana.

Dependentes de crack — Foto: Reprodução/TV Globo

Dependentes de crack — Foto: Reprodução/TV Globo

O atendimento é feito sempre no CAPs AD 3 de Ceilândia e, para tentar assegurar a continuidade do processo, a equipe de pesquisa mantém contato frequente com os pacientes e familiares.

“Montamos uma rede para acessar essas pessoas e não perdê-las no meio do caminho. Estamos sempre em contato.” Mesmo assim, Gallassi afirma que conta com a possibilidade de desistências. “A perda é esperada, porque esse é o perfil.”

Por enquanto, os pacientes sob análise apresentam reações positivas ao canabidiol, segundo a pesquisadora. “Eles estão dormindo melhor, estão mais calmos e com um bom apetite. É uma análise bem inicial, mas já é animadora.”

Como participar?

Interessados em participar da pesquisa podem telefonar, inclusive à cobrar, ou mandar Whatsapp para o número (61) 9.9996-7060.

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