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Religião

O Evangelho e a justiça social: Jesus não é contra a política, mas é superior a ela – Por Marisa Lobo


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“A injustiça social destaca-se como o inimigo principal tanto dos homens como de Deus. Deve ser combatida ferozmente, com todas as armas que dispomos. Entre as mais poderosas, encontra-se a religião” (Russell P. Shedd).

P U B L I C I D A D E

Com esta citação do saudoso e brilhante pastor Russell Shedd, inicio essa pequena reflexão que tem como objetivo demonstrar a perfeita compatibilidade entre a política e o Evangelho de Cristo, porém, desde que não exista confusão entre uma coisa e outra, mas que no lugar disso às Escrituras Sagradas sejam postas no seu devido lugar de verdade absoluta diante da humanidade, sendo a luta por uma sociedade mais justa uma consequência natural de pessoas que tiveram seu caráter transformado pela ação do Espírito Santo de Deus.

O papel social das igrejas evangélicas

As igrejas evangélicas possuem um papel fundamental na luta por uma sociedade mais justa, apesar de muitos enxergarem apenas o lado espiritual dessas instituições. Mas a verdade é que isso vai muito além da questão religiosa, atingindo também a qualidade de vida das pessoas e até a economia de um bairro, cidade ou mesmo de um país inteiro.

Aqui mesmo no Gospel+ foi publicada uma matéria que traz o relato de alguns pesquisadores, destacando o quanto igrejas pentecostais são mais produtivas do que ONGs humanitárias, por exemplo, na África. Essa constatação não é fruto de líderes religiosos, mas de uma cientista social, a escritora Dena Freeman, da London School of Economics. Ela publicou um livro onde afirma que as igrejas “são excepcionalmente eficazes em promover a transformação pessoal e o empoderamento, fornecem a legitimidade moral para um conjunto de mudanças de comportamento e reconstroem radicalmente as famílias e comunidades para apoiar novos valores e novos comportamentos”.

Esse relato pode ser facilmente verificado em qualquer comunidade carente dos estados brasileiros, onde a realidade não é muito diferente de alguns contextos africanos e onde o papel das igrejas na luta contra a dependência química, o tráfico de drogas e o mundo do crime em geral, por exemplo, é fundamental na libertação dos jovens que não encontram no Estado apoio suficiente para conseguir ter um futuro mais digno. São igrejas que oferecem cursos de artesanato, oficinas de arte, aulas de música, costura, artes marciais e outras atividades que dão esperança para muitas famílias, servindo de referência positiva para elas.

Existem grandes projetos de alcance nacional, como a Cristolândia, mantida pela Convenção Batista Brasileira, e também pequenos projetos locais que atuam nos bairros, como através da simples distribuição de sopa, banho para os moradores de rua e oferta de alguns serviços como corte de cabelo e exames médicos em dias específicos. Em todos esses casos a igreja cumpre o seu papel na luta por uma sociedade mais justa, realizando o ide de Cristo, também, através da ação social de forma mais prática e interventiva.

Jesus não é contra a política, mas é superior a ela

A igreja quando se engaja em ações sociais está realizando um trabalho que também é de natureza política. Sempre que uma ação afeta o estilo de vida das pessoas, ela diz respeito à política, porém, não no sentido partidário, mas sim administrativo. Por exemplo, quando retiramos um usuário de drogas das ruas, impactamos a saúde e a segurança pública no hospital e na delegacia. Quando oferecemos oficinas de conscientização contra o aborto, estamos impactando a vida emocional de uma mulher que futuramente precisaria de terapia para lidar com o trauma de tirar a vida do próprio filho. Ou seja, é inevitável que a igreja não tenha alguma participação política na sociedade, pois ela faz parte da sociedade, sendo também responsável pela forma como essa sociedade vive. Porém, há uma diferença significativa, entre o Evangelho de Cristo e a política, que precisamos falar.

Aqui eu retorno às palavras do pastor Shedd em seu livro A Justiça Social e a Interpretação da Bíblia, publicado pela primeira vez em 1984. Ele faz uma distinção riquíssima entre a luta por uma justiça social como fruto do Evangelho de Cristo, e a mesma luta como resultado das ideologias humanas, deixando claro que nenhuma filosofia política foi capaz de resolver o problema da desigualdade social. O pastor escreveu o seguinte:

“Apesar do ativismo e das vozes agudas da esquerda política, a justiça social parece ser hoje tanto uma miragem como o era há duzentos anos atrás, quando o humanismo radical fez sentir sua presença na revolução francesa. Mais tarde, Marx e Nietzsche desenvolveram e disseminaram os germes das ideologias comunista e fascista. As conflagrações subseqüentes das guerras e massacres do século vinte são suficientemente familiares. O impacto das teorias humanista e evolutiva deixou graves cicatrizes e uma perigosa divisão na opinião mundial”.

O que o pastor Shedd escreveu há 34 anos foi um alerta contra a idolatria política que hoje vemos em muitas denominações e líderes cristãos, que em nome de algumas paixões partidárias abandonaram o ensino puro e simples do Evangelho para lutar nas trincheiras de uma teologia segundo Karl Marx. O pastor deixa claro que muito antes de qualquer leitura política da desigualdade humana, o Evangelho de Cristo já havia proposto a solução. Porém, uma solução que obrigatoriamente deve passar por Cristo, e somente Ele. Assim, encerro essa reflexão novamente com as palavras do pastor, ao concluir que uma mensagem de justiça que não carrega em si a necessidade de arrependimento e reconhecimento do sacrifício vicário de Cristo, tende a ser vazia, infrutífera e falida:

“A única esperança da humanidade é o arrependimento, a regeneração e a restauração à sua responsabilidade bíblica diante de Deus e amor pelo próximo”. Os interesses da justiça social devem, portanto, ser sempre mantidos numa relação subordinada ao evangelismo, que é o meio utilizado por Deus para restaurar a imagem divina através da habitação interior de Cristo (Cl 3:10)”.

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