Conectado por

Mato Grosso

Meio bilhão em anistia: MT discute lei que vai reduzir taxa sobre o desmatamento


Compartilhe:

Publicado por

em

Ele já foi chamado de “PL do Desmatamento” e chegou a ser vetado pelo governo de Mato Grosso. Mas, aparentemente, só por questões de vício de iniciativa. Não poderia ter partido da Assembleia Legislativa e, agora, deve fazer o caminho correto para se tornar lei.

P U B L I C I D A D E

Um grupo de trabalho na Secretaria de Desenvolvimento Econômico (Sedec), formado por diversos setores do agronegócio, formula uma proposta de redução substancial da chamada “taxa florestal”, que é cobrada sobre quem promove o desmatamento de forma legal no Estado.

A alteração também implicará em uma anistia de pelo menos meio bilhão de reais. O valor, segundo dados do MT Floresta, refere-se à taxa já gerada, mas não paga em Mato Grosso, em 2017, conforme levantamento mais recente feito pelo fundo.

Na perspectiva da legislação ambiental, esse montante deveria ser utilizado para combater o desmate ilegal e reflorestar locais que foram degradados irregularmente.

Quem é contra a proposta ainda levanta outra questão: por uma série de fatores – entre eles a dificuldade de se manter uma fiscalização efetiva – quase sempre o desmatamento legal vem acompanhado de um percentual de ilegalidade.

Por isso, o entendimento é de que enquanto as principais empresas do mercado de exportação pressionam o governo federal para combater essas práticas – uma forma de aumentar a credibilidade do país no exterior -, em Mato Grosso, o maior produtor de commodities agrícolas brasileiro discute exatamente o oposto.

Efeito econômico

Imagem ilustrativa (Foto: Pixabay)

Secretário de Desenvolvimento Econômico do Estado, César Miranda deixa clara sua posição em favor das alterações na política florestal e baseia seus argumentos sobre a necessidade de “criar competitividade” para o setor madeireiro.

O produto mais beneficiado, segundo ele, seria a lenha, que tem sido “desperdiçada” em razão do alto de custo fiscal, algo que dificulta a comercializada como fonte bioenergética.

“A lenha que é retirada do desmatamento tem uma taxa tão alta que não vale a pena vende-la. Com isso, acaba sendo queimada. Isso é um crime, não no sentido ambiental, mas no sentido de jogar dinheiro fora, porque é o ativo ambiental do Estado”.

Miranda defende que a revisão da taxa florestal precisa ser feita sob os princípios da “preservação ambiental e viabilidade econômica para o setor de reflorestamento”. O fato, no entanto, é que a proposta também desobriga a reposição florestal por parte daqueles que cometem desmatamento ilegal e isso pode significar um incentivo do próprio Estado para que as práticas irregulares se intensifiquem.

Taxa elevada

De acordo com a  Lei Complementar nº 233, de 21 de dezembro de 2005 – que institui a Política Florestal do Estado de Mato Grosso – a taxa de reflorestamento para a retirada de um metro estéreo de lenha é no valor de 0,75 (setenta e cinco centésimo) Unidade Padrão Fiscal (UPF). Já se essa lenha não tiver destinação comercial, a cobrança é de 0,10 (dez centésimos) UPF.

O metro estéreo é a unidade padrão pela qual se calcula o volume da lenha e sua conversão em metros cúbicos varia de acordo com o tipo da madeira.

Nos valores atuais, para cada estéreo de lenha que é retirado das florestas nativas desmatadas, o valor de taxa a ser pago varia de R$ 15,50 a R$ 116,70. Hoje, uma UPF está cotada em R$ 155,73.

Mas se depender do Fórum Agro, que é liderado pela Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de  Mato Grosso (Famato), esse valor vai ser reduzido a R$ 3,11 por estéreo de lenha retirado das florestas nativas do Estado.

Imagem ilustrativa (Foto: Pixabay)

Consultor do Fórum Agro, o advogado Xisto Bueno repete o argumento do próprio secretário: que a redução do valor da taxa florestal garantirá “competitividade” ao setor e permitirá que a lenha seja utilizada como fonte de matriz energética.

“Estamos pedindo 0,02 de UPF porque a lenha é um material que seria descartado e de difícil manuseio. Não é como a floresta plantada, que passa uma máquina e já faz a colheita toda. A ideia é que, como é um material mais difícil de coletar e o produtor rural vai ter um custo maior para isso, o ideal é que ele possa colocar no mercado com um valor de reposição florestal que não seja absurdo”.

Xisto defende a redução da taxa florestal também sob o argumento de que a cotação da UPF em Mato Grosso é “arbitrária” e que, quando a LC 233 foi criada em 2005, esse indexador estava cotado em R$ 26,27.

E o papel da Sema?

No debate sobre a mudança na lei também há a participação da Secretaria de Meio Ambiente. E embora ela tenha a função institucional de defender o meio ambiente, uma de suas sugestões ao grupo de trabalho da Sedec – a qual o LIVRE teve acesso – é que dos valores arrecadados pela taxa florestal – hoje depositados no fundo MT Floresta – só 40% sejam dedicados à recuperação de áreas degradas e das matas ciliares.

Hoje, 50% dos recursos do MT Floresta são dedicados à essa finalidade.

Por meio da assessoria de imprensa, a Sema nega. Afirma que ainda não possui uma proposta definitiva para a revisão da política florestal do Estado, visto que as discussões ainda estão em curso.

“A Sema se coloca à disposição do debate e reitera seu compromisso com o desenvolvimento sustentável e com a conservação ambiental de Mato Grosso”, diz trecho da nota enviada à reportagem.

O LIVRE

Nossa webrádio parceira: dj90.com.br