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Manuscritos do Mar Morto anteciparam temas da atualidade – Por Eugenio Goussinsk


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Uma ampla e moderna área, em uma região arborizada de Jerusalém, abriga uma das relíquias mais importantes da civilização judaico-cristã. Enquanto carros percorrem a larga Derech Rumpkin, rumo à Universidade Hebraica, em Givat Ram, os Manuscritos do Mar Morto repousam no interior do Museu de Israel, por trás de um vidro em torno de uma coluna. 

P U B L I C I D A D E

O Museu de Israel é mesmo, como diria Cazuza, um museu de grandes novidades. Passado e presente interagem em forma de história e arte, com exposições permanentes e temporárias. A arquitetura tem como intenção se inserir à vida da cidade.

Uma trilha central, com largos degraus, foi desenhada como uma continuidade da avenida de fora. Ao lado, está exposta uma contemporânea escultura do chinês Ai Weiwei sobre uma árvore da vida.

Da maquete de Jerusalém, se vê o Knesset (ao fundo)

Da maquete de Jerusalém, se vê o Knesset (ao fundo)

Eugenio Goussinsky/R7

Do lado de fora, há uma maquete da Jerusalém antiga, de onde se pode ver o Knesset, parlamento israelense, situado no outro lado da avenida.

Em meio à natureza e à modernidade, os manuscritos resistem. São compostos de textos, alguns fragmentados, encontrados em cavernas de Qumran, no Mar Morto, em 1947, e depois na década de 1950.

São apenas trechos de um exemplar antiquíssimo do Velho Testamento, em papiro. No total, são cerca de 900 manuscritos, muitos deles espalhados pelo mundo.

Os Dez Mandamentos foram entregues por Moisés ao povo judeu por volta de no ano 1250 a.c.. Algo como 1 mil anos (pouco mais de 2 mil anos atrás) depois foi escrita a compilação dos livros, o Tanakh, que conta a história da bíblia e é um acrônimo dos nomes Torá (que significa instrução), Neviim (Profetas) e Ketuvim (Escritos). Tais manuscritos são os primeiros exemplares deste livro.

Quando descobertos, os trechos foram vendidos inicialmente por um preço baixo, perto de algumas centenas de dólares. E, muitos deles, conforme conta a guia do local, Deborah, estão em local desconhecido.

“Possivelmente há manuscritos nas mãos de pessoas que nem temos ideia de quem sejam. Trechos foram comercializados por valores baixos nos anos 50 e isso abre margem para uma boa quantidade de pessoas tê-los em mãos.”

Estado de interação

Ao se entrar no salão dos manuscritos, sente-se um clima de reverência. Pelo vidro, as letras impressas em hebraico antigo parecem brilhar junto com a luz artificial da vitrine.

O jato iluminado deixa o tom enegrecido mais reluzente, como se fosse dourado. Um instante em que essa imagem é contemplada conta a história de milênios.

O estado de interação de quem se aproxima do documento é tão grande, que as palavras escritas parecem sussurrar as frases no ouvido.

É impossível não comparar situação tão instintiva com a tecnologia atual, que já desenvolveu um dispositivo em óculos, que fala o que está escrito, nos ouvidos da pessoa, após um toque no texto. 

A comparação imediata revela a forte convicção de que essa tecnologia nada mais é do que a concretização em números e algoritmos de algo que sempre existiu, desde o início da humanidade. E que apenas se manifestava de forma subjetiva, mas real.

No fim, a guia Deborah ilustra como esse elo tecido de lembranças e testemunhos antigos existe de verdade. Para isso, destaca o fato de trechos bíblicos serem mesmo atuais.

Ela cita como exemplo uma passagem em que o profeta Isaías fala sobre a importância de um mundo pleno de paz, da superação de interesses mesquinhos em busca de uma sociedade mais solidária. Um discurso que se encaixa perfeitamente aos nossos tempos.

E que foi feito em tempos nos quais a guerra costumava ser a única alternativa para a preservação de um povo, diante da ameaça de invasores. Por isso, Deborah afirma:

“É impressionante ter, por meio dos manuscritos, a noção exata de como era global a visão de Isaías. Não era à toa que ele foi considerado um profeta, acertando em cheio e já passando uma mensagem para a nossa sociedade atual, de lá do passado.”

* O jornalista viajou a Israel a convite do Ministério das Relações Exteriores israelense

 

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