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Entrevista: Veganismo é coisa de rico?


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Ainda que a premissa do veganismo de proteger a vida dos animais seja admirável, não é todo mundo que adere a esse estilo de vida. As justificativas vão desde “faz mal à saúde” — o que diversos estudos contestam — até “é coisa de rico”. Mas será que abolir os alimentos e produtos de origem animal sai tão caro assim?

P U B L I C I D A D E

De fato, há itens veganos nas prateleiras dos supermercados que pesam no bolso. No entanto, nem só de leite vegetal de caixinha e tofu vive essa turma.

Duvida? Pois inclusive tem gente na internet tentando quebrar essa ideia, como a estudante Carolina Soares, de 29 anos. Cansada de só encontrar receitas à base de ingredientes com preço salgado (e que às vezes nem eram vendidos no nosso país), em 2016 ela criou o grupo “Veganos Pobres Brasil” no Facebook.

Esse espaço virtual pretende mudar a percepção de que o veganismo é um estilo de vida elitizado. A ideia é que os participantes compartilhem receitas saborosas e com ingredientes acessíveis. Hoje, o grupo reúne mais de 90 mil membros.

SAÚDE conversou com Carolina sobre sua iniciativa e o veganismo como um todo. Confira:

SAÚDE: Como você se tornou vegana?

Carolina Soares: Demorei um pouquinho pra chegar ao veganismo em si. Parei de comer carne há dez anos, porque não achava certo consumir animais, pagar para alguém matá-los. Mas como não tinha consciência de que a exploração ia além da carne, fiquei um bom tempo como ovolactovegetariana, só não comendo carne.

Um belo dia, por volta de quatro ou cinco anos atrás, tive um problema de saúde grave. Tenho asma e sofri uma parada respiratória dentro de casa. Morri e minha mãe me ressuscitou. Quando voltei, percebi que havia coisas na vida que não eram tão importantes. Tive uma epifania, sabe? Aí, fiz a transição para o veganismo.

As duas mudanças foram da noite para o dia. Os produtos de marcas que testam em animais, conforme iam acabando, fui trocando.

De onde veio a ideia de criar o grupo?

Eu sou periférica. Se a gente joga veganismo no YouTube ou no Google, só aparecem coisas de alimentação e dieta caras. Aquilo não me representava. Não me sentia representada pela quantidade e pelo preço.

Por causa disso, passei a publicar receitas no meu perfil do Facebook. Tenho um álbum de fotos com receitas chamado “Vivendo de alface”, no qual posto a imagem e a descrição da receita. Quando ele bateu mais de mil curtidas e comentários, percebi que não era só eu que tinha esse problema.

Aí, criei o grupo. Pensei em milhares de nomes, mas nenhum parecia certo. Até que cheguei a “Veganos Pobres”. Só acrescentei o “Brasil” no final por causa dos produtos que vêm de fora. Eu mesma sentia uma carência de coisas baratas no nosso país.

O grupo cresceu muito rápido pela falta de representatividade que a galera periférica tem. Quando aparece alguém, eles já se sentem representados.

Produtos veganos normalmente são mais caros mesmo. Como você lida com isso?

Então, é caro, mas também não é. Muitas marcas não são veganas, mas surfam na ideia e querem vender pelo preço de um rim. [risos]

Existem pequenos produtores que fabricam itens de qualidade por serem artesanais. A gente dribla as grandes empresas e foca neles. Aí, sai mais barato.

Dá para manter uma alimentação bem balanceada baseada em itens mais básicos ou fazer comida em casa com algumas substituições. Eu, particularmente, opto por fazer hambúrguer, coxinha, leite e queijo vegetal porque os industrializados, além de não serem tão saudáveis, muitas vezes a gente não sabe o que tem ali dentro.

Então, dá para ser vegano e gastar pouco, como dá para ser e comer só industrializados. Mas eu optei por consumir apenas aquilo que eu conheço a fabricação ou de pequenos produtores.

Você considera o movimento vegano elitista?

O veganismo não é elitista. Porém, algumas empresas, assim como fazem com os itens para celíacos e intolerantes à lactose, vendem mais caro porque na cabeça deles, se você não comer isso, não come mais nada.

Elas é que tornam os produtos elitizados, mas o veganismo é baseado em uma alimentação simples, como macarrão de sêmola, temperos baratos, legumes de fim de feira, hambúrguer de lentilha ou de grão de bico… A base alimentar do brasileiro é arroz e feijão, por exemplo. O que torna caro são as corporações. Você pode viver só de industrializados ou pode gastar menos com alimentação natural. A gente aprende a economizar comendo tudo do bom e do melhor.

As marcas de outros segmentos que não a alimentação [cosméticos e itens de uso geral do dia a dia] estão se conscientizando também. Há dez anos, não tinha nada barato. Haviam três opções caríssimas, no máximo. Hoje, existem os pequenos produtores e os grandes têm concorrência. Consigo me manter, na questão de cosméticos, gastando pouco.

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