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Ensinando a corrupção para os filhos – Por João Carlos Biagini


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Algum tempo atrás, eu voltava de Atibaia, uma linda cidade, pela Rodovia Fernão Dias e, tranquilamente, ouvia o rádio.  Era um programa evangélico do Pastor Gê, que não conheço nem sei a qual denominação pertence. Mas me chamou a atenção e fiquei ouvindo sua pregação.

P U B L I C I D A D E

O tema era corrupção.  Dizia ele que nós ensinamos nossos filhos a serem corruptos. E exemplificava: quando você propõe a troca de uma bicicleta pelo sucesso no ano letivo, você está corrompendo seu filho. Nós estamos vinculando uma obrigação, a de passar de ano, à única atividade dele a uma venda e compra.  Para fazer a obrigação dele, os pais oferecem ao filho uma recompensa ou um suborno.

Trocas simples, como se você não almoçar não ganha chocolate, fazem parte desse processo de corrupção. Na idade adulta, nas relações que o filho tiver com o mundo dos negócios e de todas as atividades que se envolver, desejará sempre ser recompensado de alguma forma para cumprir a sua obrigação.

Por exemplo, um comprador de empresa, que recebe salário para executar a sua função, pode passar a exigir uma recompensa do fornecedor de materiais para efetuar a compra dele. O exemplo da moda: um político que exige dinheiro para votar a favor de uma lei, ou para quebrar um galho junto à administração pública.

Diante da colocação do Pastor Gê, passei a refletir sobre o assunto: primeiro, quis saber desde quando há registro na Bíblia sobre a corrupção e, em segundo, quis saber sobre o meu comportamento e o de minha esposa no trato com os 4 filhos.

Na Bíblia, encontrei várias passagens sobre corrupção, desde os primeiros registros: em Êxodo, 23:8 – “Não aceitarás presentes, porque os presentes cegam até os perspicazes e pervertem as palavras dos justos”;  em Provérbios, 17:23: O ímpio aceita suborno debaixo do manto, para distorcer o direito”; em Eclesiastes, 7:7: “E isso também e vaidade, que a opressão enlouqueça o sábio e um suborno extravie o coração”; em Isaías, 1:23: “Teus príncipes são rebeldes, companheiros de ladrões, todos são ávidos por subornos e correm atrás de presentes”; em Amós, 5:12: “Eles hostilizam o justo, aceitam suborno e repelem os indigentes à porta”.  Há  outras passagens que mostram a tendência do ser humano de se adaptar ao mal, mesmo sabendo que irá prejudicar muitos semelhantes.

Na análise sobre o nosso comportamento, meu e de minha esposa, fiquei bastante feliz.  Descobri que sempre agimos corretamente. Nunca oferecemos subornos para nossos filhos passarem de ano ou fazerem alguma atividade.

E, curiosamente, nossos filhos sempre reclamavam de nosso comportamento. Diziam que seus amigos e amigas ganhavam coisas de seus pais. Nós dizíamos que era obrigação deles passarem de ano e o progresso deles beneficiaria a eles mesmos, no futuro pessoal e profissional.

Há até uma frase que ficou marcada na família.  Às vezes, para forçar a concordância com a intenção deles, diziam para minha esposa que a mãe de “todo mundo” tinha dado algum presente ou permitido alguma atividade desnecessária. Minha esposa perguntava: “Eu sou a mãe de todo mundo? Você é todo mundo?”

Só recentemente, já adultos, eles entenderam e aprovaram nosso comportamento. E ela até recebeu uma caneca de presente, com a frase “Você não é todo mundo”.

João Carlos Biagini, advogado sênior na Advocacia Biagini, bacharel em Letras e em Direito. Coautor no livro Imunidades das Instituições Religiosas, coordenado pelos profs. Drs. Ives Gandra da Silva Martins e Paulo de Barros Carvalho (Noeses, 2015) e autor do livro “Aborto, cristãos e o ativismo do STF” (AllPrint, 2017).

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