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Deus pode se arrepender?


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Meus diletos leitores, recentemente, conversando com minha esposa, senti-me impulsionado a escrever sobre o título em tela. Confesso que a resposta a esta indagação não é tão simples assim. Porém, nestas poucas palavras, tentarei esclarecê-los.

P U B L I C I D A D E

Quando lemos Gênesis 6.6 e Números 23.19, parece-nos que há uma contradição bíblica. Na primeira referência, está escrito: “então, se arrependeu o SENHOR de ter feito o homem na terra, e isso lhe pesou no coração” (ARA)[1]. Enquanto a segunda diz: “Deus não é homem, para que minta; nem filho de homem, para que se arrependa”. Então, Deus arrepende-se ou não?

Para responder a essa aparente incoerência escriturística, precisamos compreender o que são antropomorfismo e antropopatismo. De acordo com o Dicionário Bíblico Wycliffe, “antropomorfismo normalmente significa a atribuição da forma humana a Deus, e o antropopatismo significa a atribuição dos sentimentos, das paixões, das emoções e dos sofrimentos humanos a Deus”[2]. Entre os teólogos é ponto pacífico que essas expressões são metafóricas.

Todos nós carecemos entender de que Deus não é humano. Ele é espírito (Jo 4.24). Logo, por ser “espírito”, para transmitir verdades eternas a seres terrenos como nós, o Eterno lançou mão de recursos didático-linguísticos para facilitar o nosso conhecimento acerca dEle. E alguns desses recursos são o antropomorfismo e o antropopatismo.

A Bíblia de Estudo Palavras-Chave Hebraico e Grego, em sua nota sobre Gênesis 6.6, diz-nos o seguinte:

Este versículo desconcertou estudiosos da Bíblia por muitos anos. A sentença “arrependeu-se o Senhor” não significa que Deus mude (Nm 23.19; 1 Sm 15.29; Ml 3.6; Tg 1.17), ou que Ele seja afetado por tristeza ou sentimentos que são comuns à humanidade. Porém, era necessário que os autores bíblicos inspirados usassem termos que fossem compreensíveis à mente dos seres humanos. Uma pessoa não pode conceber Deus, exceto em termos e conceitos humanos.[3]

Aproveitando essa explicação, ao lermos João 3.10, 12, podemos identificar uma importante revelação que Jesus faz a Nicodemos: “Tu és mestre em Israel e não compreendes estas coisas? Se, tratando de coisas terrenas, não me credes, como crereis, se vos falar das celestiais?”. Observamos nestas palavras que há uma necessidade demonstrada por Jesus de traduzir Sua linguagem divina para uma linguagem humana.

A comunicação de Deus conosco reclama uma linguagem figurada, pois, de outra forma, não entenderíamos absolutamente nada. É por isso que Jesus, frequentemente, fundamentava seus preciosos ensinos por meio de parábolas (Mt 13).

Mas voltando à pergunta que não quer calar: “Como saberemos se Deus pode arrepender-se?”. Através da compreensão de Deus como um ser transcendente e imanente ao mesmo tempo. Pearlman dar-nos um esclarecimento:

As Escrituras ensinam duas importantes verdades concernentes à relação de Deus para com o mundo: 1) sua transcendência, que significa sua separação do mundo e do homem e sua exaltação sobre eles (Is 6.1); 2) sua imanência, que significa sua presença no mundo e sua aproximação do homem (At 17.28; Ef 4.6) […] Deus, de fato, está separado do mundo e acima do mundo; por outro lado, ele está no mundo. Ele enviou seu Filho para estar conosco, e o Filho enviou o Espírito Santo para estar em nós.[4] (Grifo nosso).

A transcendência de Deus traz à tona a realidade de seu caráter e de seus atributos; enquanto que sua imanência dar origem ao seu relacionamento com suas criaturas. Nessa relação, transcendência e imanência “entrelaçam-se”, facultando aos seres humanos o contato com o Criador.

Mas, afinal, Gênesis 6.6 e Números 23.19 se contradizem? Não! Em Gênesis 6.6, o sentido de “se arrependeu” é de tristeza, de pesar: “[Deus] ficou muito triste por haver feito os seres humanos” (NTLH[5], grifo nosso). Ao passo que, em Números 23.19, a expressão “nem filho de homem, para que se arrependa” significa que Deus, verdadeiramente, não se arrepende, ou seja, não muda de ideia por ter cometido um erro ou equívoco.

Por conseguinte, todas as vezes que, nas Escrituras, aparecerem termos ligados ao “arrependimento” de Deus, eles estarão se referindo ao seu relacionamento com as pessoas, evidenciado por meio de linguagem antropopática. Em Jeremias 15.6 e Jonas 3.10, vemos Deus mudando de ideia por causa da atitude do coração humano, e não porque cometeu algum deslize moral que pudesse comprometer os seus imutáveis caráter e atributos.

Portanto, Elohim não pode se arrepender, pois, do contrário não seria Deus.

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