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CONSEQUÊNCIAS DA COVID: “Haverá aumento de mortes por doenças crônicas”, alerta médico


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O nefrologista Jonathan Feroldi acredita que possa aumentar mortes por doenças crônicas

P U B L I C I D A D E

 

O nefrologista Jonathan Feroldi fez um alerta para o possível aumento de óbitos por doenças crônicas e oncológicas no Estado, uma vez que muitos pacientes deixaram de se consultar durante a pandenia do novo coronavírus.

“A gente vai ter, nos próximo meses e anos, um aumento considerável da mortalidade dessas doenças, não só oncológicas, mas também cardiovascular, renal, todas as doenças crônicas de modo geral”, afirma Feroldi, que é coordenador de qualidade do Hospital São Mateus.

Apenas em seu consultório, ele percebeu uma redução de mais de 70% em pacientes. Já nas internações, em abril, a queda representou 45% e maio foi de 30%.

“Aos pacientes que recebo agora, eu pergunto por que não voltaram no retorno. E a resposta é quase unânime: o medo de estar dentro de um local que pode ser frequentado por pacientes que teriam Covid-19”, expõe.

Veja os principais trechos da entrevista:

MidiaNews – É consenso entre os médicos que houve uma queda no atendimento em consultórios em razão da pandemia. O senhor também teve a mesma percepção em seu consultório?

Jonathan Feroldi – Não só nos consultórios, mas também nas unidades de internação. Como sou nefrologista, a gente tem tanto consultório como atua em unidades de internação, principalmente nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI). Nos meses que precederam a chegada da pandemia em Cuiabá, a gente teve uma queda considerável, tanto de consultório quanto das internações. Internações, por exemplo, de cirurgia que acabaria complicando e indo para UTI ou de paciente que precisava fazer cateterismo cardíaco, desobstrução de coronária. Muitos procedimentos que são eletivos foram adiados, não foram feitos nesse período que precedeu a pandemia. A gente teve uma baixa em tudo. Quando a pandemia chegou no nosso Estado, que remete a final de maio, começo de junho, todos os recursos foram gastos para o enfrentamento da Covid-19, principalmente em junho e julho.

MidiaNews – Tem ideia de quanto foi a queda?

Jonathan Feroldi – Em abril a gente chegou a ter uma queda de 45% nas internações. Em maio houve uma queda de 30% das internações. Em termos de consultório, foi uma queda de mais de 70%. É muita coisa.

MidiaNews – O senhor teme que haja uma explosão nos casos de doenças cardiovasculares e outras doenças crônicas ao fim da pandemia?

Jonathan Feroldi – Sem dúvida. A gente faz o acompanhamento da doença renal crônica, que são pacientes que de tempo em tempo necessitam fazer novos exames e ajustes em suas medicações. Esses pacientes ficaram um período sem acompanhamento, ou pelo consultório não estar conseguindo uma vaga ou porque eles se sentiram com medo de ir até o consultório. E essa avaliação foi adiada. Com esse adiamento, muitas vezes o paciente precisava fazer algum pequeno ajuste na sua medicação que não foi feito no momento oportuno e com isso ele tem uma piora mais rápida. Tenho relatos de colegas que são cardiologistas que viram pacientes que estavam com cirurgias eletivas programadas e que não fizeram. Então os pacientes estão com risco. O mesmo pode ser aplicado para várias outras especialidades.

MidiaNews – Que tipo de implicações pode haver na saúde das pessoas que deixaram de ir ao médico para acompanhar outras doenças?

Jonathan Feroldi – Aos pacientes que recebo agora, pergunto por que não voltaram no retorno. E a resposta é quase unânime: o medo de estar dentro de um local que pode ser frequentado por pacientes que teriam Covid-19. O quadro pode agravar. A doença pode se agravar se ele não fez o seguimento no momento oportuno, talvez um pequeno ajuste que era necessário.

MidiaNews – Também poderemos ter muitos casos graves de cânceres não diagnosticados a tempo?

Jonathan Feroldi – Sem dúvida, principalmente dentro do SUS (Sistema Único de Saúde). Muitos serviços de oncologia fecharam, ainda mais porque os pacientes estão com medo de contrair o coronavírus. Muitas vezes é mais medo do hospital do que do próprio câncer. Tanto o SUS quanto o convênio pode ter uma certa demora para programar esses exames, cirurgias ou até mesmo quimioterapias. Com o cenário da pandemia, foi tudo adiado. E o que seria talvez um tumor tratável, hoje já pode ser incurável.

MidiaNews – Há estudos apontando que desde o início da pandemia cerca de 60 mil casos de câncer deixaram de ser diagnosticados no Brasil.  Qual será o impacto disso em no médio e longo prazo?

Jonathan Feroldi – A gente, sem dúvida, vai ter um aumento de mortalidade por essas doenças que teriam um potencial de resposta melhor quando diagnosticadas antes de agravar. Por exemplo, esses 60 mil casos que estão deixando de ser diagnosticados muito provavelmente vão ter um diagnóstico tardio e muitas vezes sem mais opções terapêuticas. A gente vai ter, nos próximo meses e anos, um aumento considerável da mortalidade dessas doenças, não só oncológicas, mas também cardiovascular, renal, todas as doenças crônicas de modo geral.

MidiaNews – Há alguma estimativa em relação a quantos casos deixaram de ser diagnosticados em Mato Grosso?

Jonathan Feroldi – Falando em saúde suplementar, muitos colegas pararam o consultório. Tivemos colegas se afastando por conta de terem contraído o coronavírus. No SUS a gente viu o Hospital Júlio Müller praticamente fechando seus consultórios, que eram uma grande porta de entrada para os pacientes do SUS para especialidades. O Centro de Especialidades Médicas da Univag também fechou as portas, o ambulatório do Hospital Geral também. Tanto no SUS quanto na saúde suplementar a gente viu uma queda no número de atendimentos.

MidiaNews – É mais arriscado morrer de doença crônica do que de Covid?

Jonathan Feroldi – As principais doenças crônicas que existem, que são tratáveis, também são fatores de risco para o coronavírus. Obesidade, diabetes, hipertensão… Esses pacientes são fatores de risco para o coronavírus e são os pacientes que merecem ter sua avaliação periódica. O ideal seria que essas consultas continuassem com priorização. No meu consultório eu optei por priorizar os pacientes renais crônicos. A gente reduziu bastante o número de atendimentos, mas priorizando os renais crônicos para que esses não ficassem sem atendimento e mantendo um intervalo maior entre consultas para que eles pudessem sentir confiança de voltar a ser atendido. Se ele pegar o coronavírus, realmente tem uma chance de mortalidade maior, mas se ele não cuidar da doença que ele tem também, é um doente com prognóstico ruim.

MidiaNews – O senhor é nefrologista. Que tipo de consequência estes pacientes renais podem sofrer caso deixem de ir regularmente ao médico?

Jonathan Feroldi – O grande papel do nefrologista no atendimento a pacientes crônicos é evitar ao máximo que ele entre para uma terapia renal substitutiva com hemodiálise. E naquele que já não tem mais perspectiva, que a gente já consiga prepará-lo para fazer hemodiálise de uma maneira segura, ou seja, com acesso definido. E a falta de acompanhamento desses pacientes nesse momento de pandemia pode colocar, por exemplo, um paciente que tinha toda uma perspectiva de mais tempo de tratamento conservador cair na hemodiálise mais rápido, como a gente já verificou em alguns casos.

MidiaNews – O senhor não acha que as autoridades deveriam fazer campanhas de alerta para o perigo que é deixar de se consultar? Até porque muitos dos problemas que podem vir no futuro vão desaguar na rede pública, não é mesmo?

Jonathan Feroldi – Sem dúvida. Ainda mais nesse cenário de desemprego. Cada vez mais pessoas perdendo o seu emprego e deixando de pagar um plano de saúde. Isso vai ainda aumentar a demanda da rede pública. Então não só doentes que vão chegar na rede pública mais graves, como também mais doentes vão precisar da rede pública. Realmente a gente precisava de campanhas de incentivo a esses pacientes específicos que têm doenças crônicas e que precisam do seguimento médico, que eles voltem a procurar o médico. Ainda mais agora que a gente está no momento de uma certa redução na pandemia no Estado.

MidiaNews – Tem alguma mensagem que o senhor queira dar às pessoas que deixaram de procurar seu médico?

Jonathan Feroldi – Acho que a melhor forma de tranquilizar eles é mostrar que dentro das unidades existe um fluxo para receber esse paciente com suspeita de síndrome gripal, que é o paciente com suspeita de coronavírus separando ele dos demais pacientes. Por exemplo, dentro do Hospital São Mateus, os pacientes que têm sintomas de síndrome gripal estão adentrando no pronto-atendimento. Infelizmente, dentro do pronto-atendimento é um pouco mais difícil de segurar esse fluxo. Mas dentro dos consultórios, são pacientes eletivos, são pacientes que estão lá sem sintomas de coronavírus. A gente reduzindo também o tempo em sala de espera, reduzindo o número de atendimentos do médico dando assim uma margem para que os pacientes não esperem tanto tempo.

 

Fonte e Autor: MIDIA NEWS/BIANCA FUJIMORI

 

https://www.midianews.com.br/cotidiano/havera-aumento-de-mortes-por-doencas-cronicas-alerta-medico/382541

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