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Capim-annoni Tolerância Zero encerra primeira rodada de atividades


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Técnicos da Embrapa e do Senar-RS realizaram, entre os dias 24 e 28 de junho, um tour no estado para discutir junto a produtores, técnicos e estudantes o problema e o modo de controle desta invasora que assola o Rio Grande do Sul. Intitulada “Capim-annoni Tolerância Zero”, a caravana percorreu as cidades de Pelotas, São Gabriel, Bagé, Uruguaiana e Itaqui, reunindo, no total dos eventos mais de 500 participantes de cinquenta municípios do entorno. O evento teve o apoio dos Sindicatos Rurais, Grazmec e Unipampa-Campus Uruguaiana e Campus Itaqui.

P U B L I C I D A D E

“Teve muita gente que veio de longe para buscar a solução do problema. Vimos que muitos já vêm realizando ações dentro da propriedade, com o intuito de reduzir as infestações, mas ainda são carentes de informações. Por isso é muito importante esse debate e interação”, diz o técnico em formação profissional rural do Senar-RS, Pedro Faraco. 

Segundo o chefe-adjunto de Transferência e Tecnologia da Embrapa Pecuária Sul, Gustavo Martins da Silva, essa foi uma primeira rodada de atividades e debates, com resultados muito positivos. “Os participantes tiveram a oportunidade de conhecer melhor o manejo estratégico proposto nessa caravana, que envolve uma série de práticas preconizadas pelo Mirapasto – método desenvolvido pela Embrapa. Tais práticas precisam ter uma sequência ao longo do tempo na propriedade acometida com o capim-annoni e somente de uma forma integrada se permite um efetivo controle desta invasora”, aponta Silva. 

Porém, diante da gravidade do problema, enfrentado principalmente pelo pecuarista, é importante frisar que os fatores que visam minimizar e controlar o capim-annoni devem envolver não só produtores rurais e pesquisadores, mas o poder público. “Este problema de controle do annoni passa não somente pela utilização de diferentes práticas e técnicas de manejo que se conjugam dentro da propriedade rural, mas também por um esforço conjunto dos diferentes atores envolvidos, pesquisa, técnicos, produtores, comerciantes de gado e o setor público, através de políticas públicas mais específicas”, reforça o chefe-adjunto de Transferência e Tecnologia da Embrapa Pecuária Sul, Gustavo Martins da Silva.

Conhecendo o inimigo

No seminário Capim-annoni Tolerância Zero foi possível conhecer as principais características da invasora capim-annoni (eragrostis Plana), apontadas pelos pesquisadores da Embrapa Pecuária Sul Naylor Perez e Fabiane Lamego, que também integram a Rede de Pesquisa em capim-annoni, atuante há 11 anos. Este trabalho conjunto, coordenado pela Embrapa, é composto por uma equipe de pesquisadores de 10 instituições de pesquisa e ensino que vem estudando distintos aspectos do annoni, para conhecer a fundo a planta e melhor manejá-la.

“Estudos da Rede de Pesquisa em capim-annoni já evidenciaram, por exemplo, que uma só planta, em média, produz cerca de 80 mil sementes, algo exorbitante, ao se comparar, por exemplo, com uma planta de capim-arroz, que produz, em média, sete mil sementes, segundo a literatura existente. Então o potencial de disseminação do annoni é muito grande”, alerta a pesquisadora Fabiane Lamego. Os pesquisadores foram, ao longo da apresentação, mostrando várias facetas da invasora, como a tolerância ao estresse hídrico (seca); o sistema radicular bem desenvolvido (que produz cerca de 40% a mais de massa de raízes que as espécies de campo nativo); a intolerância ao sombreamento; a exposição das sementes no revolvimento do solo e a disseminação das sementes por roçadas (práticas não recomendadas, portanto), dentre outros aspectos.

A tomada de atitude por parte do produtor rural deve ser feita o quanto antes ao se constatar a presença esparsa da invasora na propriedade. “Deve-se intervir no combate quando houver entre 5 e 20% de plantas invasoras, pois infestações acima de 18% já comprometem o pasto e geram grande dano econômico. Então, é importante agir no combate dos primeiros focos”, frisa Naylor Perez. Porém, infelizmente, a prática mais comum tem sido reagir quando a maior parte do campo nativo já está comprometida. 

Mirapasto – Método Integrado de Recuperação de Pastagens, idealizado pela Embrapa

O Mirapasto, que é o método de controle explicitado nesse tour, compila uma forma integrada de lidar com o capim-annoni, evitando sua expansão. “É muito difícil que uma prática isolada resolva o problema da infestação pelo capim-annoni. É preciso juntar esforços, ter persistência e planejamento na adoção do método”, assegura a pesquisadora da Embrapa Pecuária Sul, especialista em manejo de plantas daninhas, Fabiane Lamego. 

Os quatro fundamentos que compõem o método são: controle de plantas indesejáveis adultas, correção e manutenção da fertilidade do solo, introdução de espécies forrageiras de inverno e de verão e controle da oferta de pasto. De acordo com o Mirapasto, o período ideal para controlar o capim-annoni é no final do verão e início do outono, período em que é mais fácil introduzir as espécies a lanço da forrageira de inverno e posteriormente as introduções de verão (já que o revolvimento do solo pode trazer à tona o banco de sementes de annoni que está numa camada mais inferior, provocando mais a disseminação da planta). 

Em seguida, deve-se fazer o manejo prévio das forrageiras presentes, imprimindo uma carga animal que vai rebaixá-la, deixando mais evidente o capim-annoni. Em seguida deve-se passar a máquina Campo Limpo – tecnologia da Embrapa em parceria com a empresa Grazmec – que aplica de forma seletiva o herbicida nas plantas indesejáveis. Quando os focos forem pontuais e esparsos (até 10% de capim-annoni na pastagem), basta a aplicação mediante a enxada química nas plantas indesejáveis.

Fertilidade 

Um dos pilares do Mirapasto é a construção e a manutenção da fertilidade do solo. “É fundamental um planejamento para melhorar a fertilidade dos solos. O produtor deve colher material e realizar uma análise laboratorial, que é algo imprescindível. Ali é possível ver o pH do solo, as condições de nitrogênio, fósforo, se precisa de calagem etc.”, explica o instrutor do Senar-RS, Leonardo Perez.

Custos e benefícios

Pesquisas comparativas entre uma área tratada com o Mirapasto e outra área testemunha, que recebeu somente o melhoramento do campo, sem controle do capim-annoni, comprovam que os custos com a implantação do programa de recuperação Mirapasto tem sido a melhor opção, com o passar dos anos. O estudo foi feito durante os anos de 2011 e 2017, na Embrapa Pecuária Sul, e constatou que não vale a pena investir em melhoramento de campo nativo, sem controlar o capim-annoni. “Pois essas características de adaptabilidade que o annoni tem o faz aproveitar melhor esse campo nativo melhorado. Por isso precisamos tirá-lo de lá. Tem gente que, na seca, não tem outra coisa e o annoni salva, mas ele não dá o retorno que o produtor gostaria e ao longo do tempo tu estarás só reinfestando a sua área”, explica a pesquisadora.

Em média, no estado do Rio Grande do Sul, as propriedades de pecuária de corte em campo nativo com alta taxa de infestação por annoni conseguem ter uma produtividade média em torno de 78 kg/ha/ano de carne. Após os experimentos realizados na Embrapa Pecuária Sul, constatou-se que a área de campo nativo, com mais de 80% de infestação por capim-annoni, ao ser melhorado com adubo e a introdução de forrageiras, sem controlar o capim-annoni, fornecem ganhos de 200 kg/ha/ano de carne. Porém, o custo para melhoramento do campo nativo, sem controlar o capim-annoni, não paga essa conta, pois gasta-se também cerca de 200kg/ha/ano com o adubo e as sementes.

A proposta do Mirapasto é bastante interessante, pois o campo nativo é melhorado e recuperado e ainda controla o capim-annoni, com uma produção média de 460kg/ha/ano. “Então essa conta, ao se abater o custo do campo nativo melhorado de aproximadamente 200kg/ha/ano, mais o custo do herbicida, porque a gente também controla o capim-annoni, nos dá um saldo positivo de 169kg/ha/ano”, comemora Naylor Perez. “E, além disso, o principal, tu estarás fazendo um manejo pensando na sustentabilidade dessa área, pois tu estás evitando que o capim-annoni continue produzindo sementes e aumentando o banco de sementes do solo e, ao longo do tempo, tu reduz a infestação, que é o aconteceu na nossa área”, explica Fabiane Lamego.

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