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Benzedeira e raizeira carrega os saberes seculares das mulheres da terra


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Dona Fia, também conhecida como Fiinha, caminha pelas árvores olhando para terra e se encosta a cada tronco e galha seca, dando pausas, pouco a pouco, como quem encontra uma preciosidade a cada metro quadrado. Não demora e arregala o olho, amassa com a unha as folhas, cheira o miolo e apresenta para quem lhe acompanha na trajetória que faz pelo pomar que ela mesma plantou. Quem acompanha sua história sabe bem da sua fama de que “tudo que planta, dá”, ou como diria a termologia popular, tem o dedo verde.

P U B L I C I D A D E

José Medeiros

Entre os arbutos, �rvores centen�rias e horta que Dona Fia gosta de ficar mexendo o dia todo, ela apresenta um pouco da natureza e conta receitas de rem�dios

Entre árvores centenárias e horta, que Dona Fia gosta de ficar mexendo o dia todo, ela apresenta um pouco do seu quintal e explica receitas de remédios 

Elza Juliana do Amaral, aos 81 anos, é conhecedora da medicina natural. A idade lhe deixa cada vez mais serena, como uma guardiã livre e instintiva de seus saberes, é uma caridosa benzedeira. Para alguns, uma médica da floresta, que desafia até os estudiosos diplomados e convencidos só pela ciência. O que Dona Fia sabe é ancestral.  Herdou da mãe, que herdou de outras.

José Medeiros

Uma lontra brilhante da expedi��o de Jos� Medeiros que se mistura a natureza bruta e conhece seus encantos

Uma lontra brilhante da expedição de José Medeiros que se mistura à beleza do rio e natureza bruta, ela faz parte da grandeza, pois conhece seus encantos

É que a calmaria da senhorinha – mais uma entre tantas Lontras Brilhantes do projeto Expedição 300 – O rio das lontras brilhantes: da nascente à foz, fotografado por José Medeiros – é de se prestar atenção. Hora, por sua coragem em usar uma cobra para benzer os que lhe pedem proteção, outra pela bondade em medicar com o que a terra lhe oferta meio a tanta diversidade.

José Medeiros

Quintal da benzedeira � repleto de plantas nativas e tamb�m as medicinais que ela plantou

Quintal da benzedeira é repleto de plantas e as margens do rio. Além do cuidado com os seus, ela acolhe a comunidade e faz o bem sem cobrar nada por isso

Não cobra pelo que faz, nem pela raizada, xarope ou rezas de proteção. Acredita que tudo que nasceu da terra foi dado por Deus, assim, de graça. Bem como o poder que carrega em sua fé e transmite pelas mãos. “Eu tenho muita fé em Deus, Nossa Senhora e São Benedito”, endossa.

José Medeiros

Carinho de Elza pela natureza � n�tido, al�m de ter passado a inf�ncia no local, ela tamb�m ensina filhas e netas o amor pela sabedoria ancestral

Carinho de Elza pela natureza é nítido, além de ter passado a infância no local, ela também ensina filhas e netas o amor pelo ancestral que lhe foi ensinada 

Elza conta que, certa vez, sua irmã evangélica pediu ao pastor da igreja que frequenta para ele a convencesse Dona Fia, benzedeira, ir para a igreja. Foi então que o pastor respondeu, “vou falar pura verdade para a senhora, a fé dela (Dona Fia) é muito grande”, remedou.

José Medeiros

Dona Fia benze as pessoa tamb�m usando serpentes, costume antigo foi ensinado pela m�e

Dona Fia benze as pessoa também usando serpentes, costume antigo foi ensinado pela mãe, que por sua vez foi ensinado por outras matriarcas da família

O pastor, que a defendeu, disse que qualquer um que chega para Dona Fia e pede algo para comer, ela ajuda. Pede um chá e ela dá, pede para benzer e ela o faz. Ela sempre faz o bem, e seus filhos de nascença, além dos que ajuda pela comunidade, sempre foram tratados com as ervas e ensinamentos que aprendeu desde menina. Dona Fia é íntima do mato, cresceu e constituiu sua família com o marido José. Teve com ele dez filhos, a maioria com a ajuda de uma parteira, e seguem hoje casados e saudáveis. 

José Medeiros

Na beira do rio Cuiab�, Dona Fia � raizeira e conhece bem as plantas da regi�o

Na beira do rio Cuiabá, Dona Fia contempla, todos os dias, o amor pelo divino e se diz fiel a Deus, devota de Nossa Senhora, São Benedito e outros santos

Outra pausa no bate-papo que acontece no meio da mata. A benzedeira puxa com força o cipó até aparecer à raiz. Mostra para a câmera, como quem faz parte e extensão da sacracidade, entre o catolicismo e ensinamentos indígenas que naquelas terras outrora também habitaram. “Tudo que eu planto, a terra pega. Olha quantia de muda que eu faço. Molho minhas plantas, meus frutos. Se eu fosse egoísta, teria ganho dinheiro de uns médicos de São Paulo, um deles me ligou uma vez e queria me pagar até passagem, mas não aceitei”, revela.

Ao lembrar da vez que uma senhora da mesma comunidade tinha uma criança que “bebeu água de parto”, mas fez uma composição de ervas que fez ela vomitar e defecar as impurezas. “Pena de angola é bom para pneumonia. Outra vez dei uma muda para ajudar no câncer. É só bater com mel e fazer um chá com a folha da graviola”, indica.

Segue a caminhada, lava a mão na beira do rio, o sol prestes a se por e ela mostra uma série de ipês que plantou. “Ainda não floreou, mas vai ficar bonito. Tem rosa, branco, amarelo e tudo quanto é cor”, finaliza.

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