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Bactérias do intestino protegem o organismo e ajudam a emagrecer


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Ainda não é possível calcular o número exato de quantos micro-organismos existem no corpo humano, ou quantas bactérias existem no intestino, no pulmão, na pele, na boca ou em outros órgãos de uma pessoa.

P U B L I C I D A D E

Os últimos cálculos indicam que, no caso do intestino, existe a mesma quantidade de células e de bactérias – e essas bactérias têm entre 100 e 150 vezes mais genes.

O que também se descobriu nos últimos anos é a relação entre o ser humano e essas bactérias, ou microbiota, como é chamado o conjunto delas. Hoje se sabe que essas bactérias têm um papel fundamental para a nossa sobrevivência.

Como elas impactam no nosso sistema imunológico foi um dos assuntos discutidos no EAACI 2018 (European Academy of Allergy and Clinical Immunology), congresso da Academia Europeia de Alergia e Imunologia, realizado entre 26 e 30 de maio, em Munique, na Alemanha.

O microbiologista Liam O’Mahony, do Instituto de Pesquisa em Alergia e Asma da Universidade de Zurique, na Suíça, falou sobre o papel “fundamental” dessas bactérias de preparar o organismo humano para lidar com outros micro-organismos e, desta forma, “criar mecanismos de proteção mais eficazes que vão ajudar a evitar a hipersensibilidade que pode desencadear uma reação alérgica”.

As pesquisas lideradas por O’Mahony pretendem entender melhor como as bactérias que vivem no pulmão e na garganta podem influenciar os processos inflamatórios e como podem ajudar a controlá-los.

O pesquisador Martin Depner, da Universidade de Munique, na Alemanha, também apresentou uma pesquisa que relaciona bactérias e asma, mas o foco desse estudo são os micro-organismos que vivem no intestino. Eles concluíram que a composição da microbiota intestinal de crianças pode ter efeito protetivo e impedir o surgimento de asma durante a adolescência.

Bactérias ajudam a emagrecer

No Brasil também estão sendo desenvolvidas pesquisas que pretendem desvendar o papel da microbiota na saúde humana. Uma delas faz a relação entre bactérias e obesidade.

O endocrinologista Mario Saad, do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da Unicamp explica que o intestino tem entre 600 e 1000 espécies de bactérias – e quanto mais espécies uma pessoa tem, melhor é.

As bactérias desenvolvem um papel importante de imunoregulação, elas auxiliam no metabolismo. O ser humano não tem as enzimas necessárias para transformar fibras em carboidratos, são as bactérias que fazem isso.

“À medida que uma pessoa engorda, reduz a diversidade da microbiota intestinal. O problema é que a vida moderna proporciona a redução dessa diversidade. A poluição, a comida industrializada, tudo favorece uma microbiota menos diversa, o que deixa o indivíduo mais propenso ao ganho de peso”, esclarece Saad.

O pesquisador conta que um estudo desenvolvido na Europa analisou a microbiota de moradores da Suíça e de tribos africanas. O resultado mostra que os africanos possuem número muito maior de bactérias no intestino.

“A gente pode concluir que ao longo da evolução perdemos diversidade de bactérias e isso deu espaço à novas doenças, ficamos mais expostos às infecções”, explica.

Mas como essa diversidade ajuda a emagrecer?

Saad explica que pesquisas desenvolvidas na Unicamp indicam que pessoas obesas tem uma quantidade menor de espécies de bactérias no intestino, isso influencia na forma como o órgão absorve os nutrientes, principalmente as fibras.

Neste cenário, os pesquisadores descobriram, existe uma bactéria em especial – é a Akkermansia Muciniphila. Quando ela existe em pouca quantidade, o intestino sofre uma redução da mucosa protetora, com isso, passa a absorver as próprias bactérias – o que, além de diminuir a diversidade, faz com que a alteração aumente cada vez mais.

Com menos bactérias, a absorção de fibras diminui e a massa corporal aumenta.

Bactéria contra o diabetes

Outra pesquisa que envolve microbiota intestinal está sendo desenvolvida pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em Minas Gerais. O foco é o papel desta mesma bactéria, a Akkermansia Muciniphila, no controle da diabetes tipo 2.

De acordo com o biólogo Gabriel Rocha Fernandes, pesquisador de saúde pública da Fiocruz, esta bactéria ajuda o organismo a transformar glicose em energia, o que diminui a concentração de açúcar no sangue.

“Esta bactéria auxilia no metabolismo da glicose circulante, quanto maior a quantidade desta bactéria, menor o nível de glicose no sangue. O que nós queremos entender, agora, é o mecanismo, é como, exatamente, acontece esta relação”, explica o pesquisador.

A equipe da Fiocruz chegou a esta conclusão depois de fazer o sequenciamento da microbiota de voluntários, para ver quais são os tipos de bactérias que cada pessoa tem no intestino.

“As pessoas que tem mais Akkermansia Muciniphila, tem um nível de glicose menor, então, quanto maior a quantidade desta bactéria, melhor o metabolismo de glicose”, conclui Fernandes.

Como cuidar da microbiota

Parece fácil. Se ter mais tipos de bactéria no intestino fortalece o sistema imunológico e ajuda a emagrecer, então é só fazer um tratamento, mudar a alimentação e ingerir mais bactérias, certo? Não é bem assim.

Saad explica que a microbiota de uma pessoa se forma nos primeiros quatro anos de vida, é neste período que ela se torna mais ou menos diversa. A ciência ainda descobriu como melhorar a diversidade de uma pessoa adulta, ou colocar no intestino um tipo de bactéria que não tem.

“A microbiota começa a se formar durante o parto. Se a criança nascer de parto normal, ela absorve a microbiota da mãe. Tudo o que acontecer nos próximos quatro anos vai influenciar, se receber leite materno, se tomar muito antibiótico, o estilo de vida, se vai ter mais contato com o meio ambiente. A microbiota estabelecida nos primeiros anos dura para sempre, é muito difícil mudar isso”, detalha o especialista.

É a partir desta microbiota que o organismo adapta o sistema imunológico e a capacidade de absorver nutrientes.

Mas nem tudo está perdido, só “não espere um milagre”, como diz Saad. Uma alimentação saudável, rica em fibras pode ajudar a aumentar o número de bactérias no intestino.

“Fora isso, a ciência ainda precisa desenvolver probióticos eficazes, capazes de conseguir colocar no organismo as bactérias que faltam em cada pessoa, hoje isto é impossível”, conclui o médico.

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