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Atividades de garimpeiros avançam no AM e ameaçam povos indígenas isolados do Vale do Javari


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Novas atividades de garimpo no Amazonas foram identificadas pela União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), organização que representa sete povos que vivem na região. A invasão de garimpeiros na área representa ameaça, ainda, a índios isolados.

P U B L I C I D A D E

A estimativa é que 6 mil indígenas de etnias diferentes morem na terra indígena Vale do Javari, no estado. A região também abriga a maior concentração de índios isolados do mundo.

Na semana passada, a entidade identificou pelo menos cinco dragas no rio Jutaí, funcionando dentro da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Cujubim, no limite da terra indígena.

No mês de março, início da pandemia de Covid-19, a Fundação Nacional do Índio (Funai) havia suspendido as autorizações para ingresso em Terras Indígenas. O órgão informou à Rede Amazônica que existem quatro bases de Proteção Etnoambiental em funcionamento no Vale do Javari.

Insistência de garimpeiros

Essa não é a primeira vez que garimpeiros invadem a região. Há um ano, a Polícia Federal destruiu 60 balsas na mesma área e, no mês passado, uma operação desativou quatro dragas no rio Bóia, também dentro do Vale do Javari.

Thodá Kanamari, vice-coordenador da Univaja, denuncia a tentativa de garimpeiros de comprarem apoio de líderes indígenas da comunidade do Jarinal.

“Então eles oferecem esses benefícios para eles. Recursos só para eles conquistarem a confiança para querer entrar na terra indígena. Os parentes não querem que entrem, eles não negociam com eles”, disse.

Povos indígenas vivem no Vale do Javari, no Amazonas. — Foto: Reprodução/Univaja

Povos indígenas vivem no Vale do Javari, no Amazonas. — Foto: Reprodução/Univaja

Índios isolados ameaçados

Em um avião de pequeno porte, representantes da Univaja sobrevoaram a região e avistaram malocas dos índios Korubo, que são um povo isolado. As moradias estão em locais diferentes de onde costumavam ocupar, segundo Thodá.

“Porque a presença do isolado está se aproximando cada vez mais, aí os garimpeiros entram na área para poder caçar, pescar.. Então eles ouvem tiros, né? E mudam de lugar porque eles não querem que os garimpeiros façam contato com eles e também não querem pegar tiro. Então cada vez mais vão se afastando do local”, contou.

Caçadores, pescadores, garimpeiros e missionários cercam os indígenas na região. Em setembro do ano passado, índios da etnia Matis encontraram um missionário americano e denunciaram às autoridades.

Índios isolados da Amazônia são ameaçados por presença de garimpeiros. — Foto: Arquivo/Funai

Índios isolados da Amazônia são ameaçados por presença de garimpeiros. — Foto: Arquivo/Funai

Ele estava a 20 Km da antiga aldeia dos Korubo. A nova está exatamente no local onde, naquele momento, ele foi descoberto pelos índios. Em abril, a Justiça Federal determinou a saída dos missionários, ressaltando o respeito aos povos isolados e a ameaça da Covid-19. A Justiça pediu que a Funai fizesse valer a determinação.

A área tem quatro bases de fiscalização e uma delas vem sofrendo constantes ataques de violência, segundo informou o assessor da Univaja, Beto Marubo.

“… em 2019 a base do Ituí foi atacada umas nove vezes, isso motivou inclusive a ida da Força Nacional. Agora, infelizmente, a força Nacional atua numa região mas nós temos lá 9, 10 homens super armados mas não há condição de trabalho, não há equipamentos, não há barcos, não há combustível, então finda que o trabalho né, hoje ironicamente em plena pandemia e com aparato policial na base do Ituí, nós temos o aumento das invasões nessa região ou seja algo não faz sentido né se não tiver o trabalho”, contou.

Malocas de índios Korubo são vistas na terra indígena Vale do Javari, no Amazonas. — Foto: Reprodução/Univaja

Malocas de índios Korubo são vistas na terra indígena Vale do Javari, no Amazonas. — Foto: Reprodução/Univaja

Proteção aos indígenas

A Fundação Nacional do Índio (Funai) informou, em nota, que atua no reforço às ações de monitoramento e vigilância territorial, por meio de suas unidades descentralizadas presentes na região. Atualmente são 4 Bases de Proteção Etnoambiental em funcionamento no Vale do Javari.

Conforme a nota, em articulação com órgãos ambientais e de segurança pública, a Funai também fortalece a proteção nos territórios indígenas por meio de operações de fiscalização para combater ilícitos, como a atividade de garimpo.

Além disso, em parceria com forças policiais e órgãos de saúde, a fundação disse que atua em barreiras sanitárias para impedir a entrada de não indígenas nas aldeias da região e evitar a disseminação do novo coronavírus entre as comunidades.

O órgão ressaltou que também participa da Operação Verde Brasil 2, deflagrada pelo governo federal para executar ações preventivas e repressivas contra delitos ambientais na Amazônia Legal.

Segundo Eliésio Marubo, procurador da Univaja, todos esses problemas têm a ver com a forma de condução da política indigenista no Brasil.

“É uma política pública que deve ser levada a sério e ela não tem encontrado lugar na conjuntura política atual. Se essa política pública for levada da forma que ela precisa ser levada observando interesse público, certamente, os servidores serão lotados, certamente, os servidores terão a segurança necessária para desempenhar a função pública”, declarou.

G1

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