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Análise: Bolsonaro impõe primeira derrota em anos ao PT na disputa presidencial, mas não terá vida fácil no Congresso


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Eleito neste domingo presidente da República com uma margem de votos menor do que a apontada por pesquisas no início do segundo turno, Jair Bolsonaro (PSL) impõe a primeira derrota ao PT desde as eleições de 2002, mas também deve enfrentar dificuldades para construir uma base de apoio e tocar seu governo.

P U B L I C I D A D E

“A margem de vitória é fundamental para influenciar o comportamento de governos eleitos. Embora não tenhamos uma diferença mínima, ao mesmo tempo ele não disparou. Isso demonstra que ele vai ter que se preocupar em contemplar uma agenda que 45 milhões não enxergam em sua plataforma”, avaliou o professor Denilson Bandeira Coelho, do Departamento de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB).

Pesquisa Datafolha divulgada na última quinta-feira apontava Bolsonaro com 55 por cento dos votos válidos, e Haddad com 45 por cento. Pouco mais de uma semana antes, em 18 de outubro, o mesmo instituto mostrava o agora presidente eleito com 59 por cento dos votos válidos, e seu adversário com 41 por cento.

Mais ainda que tenha diminuído ao longo da campanha do segundo turno, tal margem não pode ser desconsiderada.

“A margem de diferença me surpreendeu, eu achava que seria maior. Então, as pesquisas mostraram que houve uma queda na intenção de voto dele e isso realmente aconteceu”, disse Daniel Falcão, doutor em Direito pela Universidade de São Paulo, especialista em marketing político e propaganda eleitoral e bacharel em Ciências Sociais também pela USP.

“Mas ao mesmo tempo, foi a pior eleição presidencial do PT desde 1998. É uma margem relevante, já que o PT tinha vencido as últimas quatro eleições. Então ele conseguiu uma vitória importante”, avaliou.

Fonte legislativa consultada pela Reuters avaliou que quanto maior a diferença de votos, maior a dificuldade em conter os ânimos principalmente daqueles parlamentares eleitos na esteira da popularidade do capitão da reserva. Por outro lado, uma diminuição dessa diferença, avaliou a fonte, poderia tornar o jogo mais equilibrado no parlamento.

RISCO

Após a vitória, Bolsonaro aproveitou seus primeiros pronunciamentos para sinalizar os primeiros rumos do que deve ser seu governo e tentar acalmar os ânimos, após uma das mais polarizadas eleições presidenciais da história.

Logo após a vitória sobre Haddad, o presidente eleito prometeu respeitar a Constituição, fazer um governo democrático e unificar o Brasil, baixando o tom adotado no período eleitoral.

“É um discurso que tenta por meio da ênfase e da repetição da liberdade sinalizar um discurso um pouco mais moderado e minimizar a percepção de risco elevado em relação à questão política no governo Bolsonaro”, avaliou Rafael Cortez, analista político da Tendências Consultoria Integrada.

“Naturalmente, a tarefa do Bolsonaro vai ser reconstruir as bases políticas para um bom funcionamento do processo decisório. O discurso é uma parcela importante, simbólica desse movimento, mas ainda insuficiente para determinar a natureza do seu governo”, ponderou.

Para Falcão, a ênfase dada ao respeito à Constituição lembra, em situação oposta, o ex-presidente da Venezuela, Hugo Chávez. Segundo ele, assim como Bolsonaro, Chávez era acusado de ter intenções questionáveis sobre a carta magna do país.

“Quando ele (Chávez) foi eleito, ele avisou que ia trocar a Constituição”, relatou.

Outro ponto do discurso que chamou a atenção do cientista social foi a insistência de Bolsonaro na liberdade para empreender, levando à interpretação de que a iniciativa privada terá papel central em suas políticas.

TROCA-TROCA

As previsões para a articulação política no Congresso Nacional apontam para algumas dificuldades, principalmente se Bolsonaro quiser evitar o chamado toma lá dá cá, como prometido em campanha.

“Esse é o primeiro grande ‘x’ da questão no governo dele, porque na verdade qualquer governo democrático em modelos que não são bipartidários, como nos Estados Unidos, normalmente você precisa do Congresso para governar. Você vai precisar ceder espaços no seu governo para governar”, explicou Falcão.

“Isso é absolutamente natural, o problema é o interesse ser fisiológico, e ali boa parte daquelas pessoas, daqueles deputados eleitos, vão continuar tendo esse interesse fisiológico. Ele vai ter que acabar governando com essas pessoas de uma forma ou de outra.”

Coelho também alerta para a nova correlação de forças no Legislativo em que partidos mais tradicionais perderam espaço para médias e pequenas siglas, num contexto em que o presidente terá de adotar o discurso de um líder de uma nação, no lugar da fala de um candidato.

“Essa correlação de forças em um governo que prometeu acabar com o troca-troca entre Executivo e Legislativo é seu maior desafio”, pondera.

“Para diminuir a tensão entre os partidos, Bolsonaro deve levar em conta o peso do PSDB e do MDB e relativizar algumas das suas posições ideológicas para seu governo experimentar no primeiro ano o ‘honey moon effect’ (efeito lua de mel)”, avalia, lembrando que ainda que tenha eleito uma leva de parlamentares em sua cola, a coligação de Bolsonaro não atingiu 15 por cento da Câmara dos Deputados.

De acordo com Rafael Cortez, Bolsonaro terá o desafio de transformar seu discurso contrário à política tradicional para evitar que fique “preso à retórica de campanha”.

Por outro lado, o analista político lembra que antes de estabelecer a articulação com o Congresso, Bolsonaro precisará resolver o “dilema inicial” de sua relação com a sociedade, e “reconstruir a legitimidade da Presidência da República”.

A missão torna-se essencial em um momento que, segundo o cientista político e coordenador do Centro Brasileiro de Estudos e Pesquisa sobre a democracia (Cebradi), Geraldo Tadeu Monteiro, é o “ápice de uma crise de representação que remonta a 2013”.

“Bolsonaro é uma incógnita. Não está claro com que setores políticos e econômicos ele vai governar, como pretende se relacionar com os demais Poderes e qual a sua equipe. Vamos aprender tudo na prática.”

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