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A comunidade de João – Por Mario Eugenio Saturno


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O quarto Evangelho da Bíblia é atribuído ao discípulo amado, João, e foi um dos últimos livros escritos do Novo Testamento. Acredita-se que foi escrito na cidade de Éfeso. E reflete a comunidade de João que se formou alguns anos após a ressurreição de Jesus e compunha-se de judeus convertidos. A comunidade via Jesus de modo tradicional, como mestre (Jo 1, 38), messias (Jo 1, 41), o prometido por Moisés e pelos profetas, (Jo 1, 45), o filho de Deus, o rei de Israel, (Jo 1, 49), Jesus teria vindo somente para os judeus.

A comunidade do Discípulo Amado cresceu e passou a incorporar outros grupos. Um desses grupos passou a ter conflitos com a instituição judaica, contra o Templo de Jerusalém, sede da instituição judaica. Esse grupo teria convertido os samaritanos à fé em Jesus (Jo 4,3-42 e Lc 10,25-37). Para a comunidade de João, a instituição representada pelo Templo de Jerusalém é lugar de morte, pois ela matou Jesus e continuava matando seus seguidores. Por essa razão que o Evangelho de João a compara às trevas, ou a morte.

Outros pagãos, provavelmente gregos, também aderiram à comunidade. Isso fica claro quando, em seu Evangelho, João explica o significado de algumas palavras estranhas a eles, como Rabi, Messias, Cefas, etc.

Nos anos 80, o Evangelho de João ainda não estava escrito, e essa comunidade se vê envolvida por inúmeros conflitos que vem de fora. O primeiro conflito refere-se ao mundo, que no contexto de João significa o sistema social injusto que se opõe à ação de vida de Jesus. Nesse momento, a comunidade está às portas de grande perseguição.

O segundo conflito é com os judeus, ou seja, com as autoridades judaicas e seu poder econômico, político, religioso e ideológico, que impede o povo de viver, matando todos os que se opõem. São as trevas que tentaram apagar a luz (Jo 1, 4-5). Nessa época, o Templo de Jerusalém já fora destruído.

O terceiro conflito é com os seguidores de João Batista. João fora um dos que deixaram João Batista e seguiram Jesus. Os que permaneceram fiéis a João Batista, hostilizavam a comunidade de João. Isso fica evidenciado no Evangelho de João (Jo 1, 6-8).

O quarto conflito é com os que aceitaram Jesus, mas permaneceram ligados à instituição judaica. Ocultavam sua fé a fim de não serem expulsos, como aconteceu com o cego de nascença (Jo 9, 34). O Evangelho fala dessas pessoas (Jo 12, 42-43), sendo Nicodemos, membro do Sinédrio, tribunal judaico, um deles.

O quinto conflito é com os judeus que abandonaram a sinagoga ou foram expulsos dela. O Evangelho de João não os reconhece como cristãos autênticos (Jo 6, 60-66).

O sexto conflito é com as igrejas apostólicas. Elas são representadas no Evangelho de João por Pedro, André, Filipe, Natanael, Tomé e Judas Tadeu. A comunidade de João os vê em constante busca de identidade, como Pedro (Jo 21, 15-19), quando declara, por três vezes, seu amor incondicional a Jesus, então toma sua vocação: “segue-me”.

O Evangelho de João foi escrito aos poucos, à medida que as conquistas da comunidade iam acontecendo. Em torno do ano 100, recebeu a redação definitiva.

Mario Eugenio Saturno (cientecfan.blogspot.com) é Tecnologista Sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e congregado mariano.
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