Por Alessandra Rascovski

A menopausa sempre foi apresentada como um momento de perda. Mas, na prática clínica e nas histórias que acompanho há décadas, ela se revela como algo mais complexo e menos negativo: uma reorganização do corpo. Isso não significa minimizar os sintomas, que são reais, mas compreender que o organismo está ajustando parâmetros, não deixando de funcionar.

O tema é urgente não apenas pela experiência individual, mas também pelos números. Segundo o IBGE, cerca de 17 milhões de brasileiras estão no climatério, e aproximadamente 9,2 milhões já vivem a menopausa. Mesmo assim, ainda existe uma grande lacuna de informação. Muitas mulheres chegam ao consultório sem entender completamente o que está acontecendo com elas.

Uma pesquisa nacional conduzida pela Ipsos (2025) confirma o que vejo diariamente: metade das mulheres teve seus sintomas tratados como exagero ou algo “normal da idade”. E, ainda mais preocupante, 44% não realizam nenhum tipo de tratamento, mesmo quando o impacto físico e emocional é significativo.

Essa negligência não acontece por falta de recursos terapêuticos; ela nasce da falta de diálogo. Falar de menopausa exige clareza, mas também sensibilidade. É uma fase de mudanças hormonais, sim, mas também de mudanças cognitivas, emocionais e comportamentais. É o fim da fase reprodutiva, não produtiva. No livro AtmaSoma, reforço justamente esse ponto: saúde não acontece em compartimentos isolados. Os hormônios influenciam o humor, o sono afeta a memória, o intestino dialoga com o cérebro. Nada funciona sozinho.

Quando observamos a menopausa por esse prisma integrado, os sintomas deixam de parecer fragmentados. Ondas de calor, irritabilidade, perda de sono ou da libido fazem parte de um mesmo processo de adaptação. O corpo está mudando o ritmo e precisa ser acompanhado, não ignorado.

A ciência hoje oferece caminhos seguros. A Terapia de Reposição Hormonal (TRH) é considerada padrão ouro internacional, e 75% das mulheres relatam melhora expressiva da qualidade de vida, segundo pesquisa da Editora Abril (2024). Ainda assim, a pesquisa da Ipsos mostra que 53% das mulheres nunca tiveram essa opção apresentada por seu médico. A informação continua sendo a principal ferramenta de cuidado.

Mas o cuidado não se resume a tratamentos. Muitas mulheres chegam a essa fase com mais consciência do que em qualquer outro momento da vida. Sabem o que priorizar, o que não querem mais carregar, o que desejam ajustar. Quando essa clareza encontra um acompanhamento adequado, a menopausa deixa de ser vista como perda e passa a ser entendida como ajuste de rota.

É por isso que, quando uma paciente me diz “não sou mais a mesma”, não vejo isso como sinal de declínio. Vejo como uma mudança real, que pode ser conduzida com saúde, autonomia e propósito. O corpo está reorganizando sistemas; a vida, reorganizando prioridades.

A menopausa não reduz a mulher, ela a redireciona. Com informação correta, apoio contínuo, uso das terapias disponíveis e escolhas personalizadas, essa transição pode se transformar em uma fase de estabilidade e vitalidade, não de apagamento.


Sobre a Atma Soma

Liderada pela endocrinologista Alessandra Rascovski, a Atma Soma tem foco na prática da medicina de soma, unindo várias especialidades em prol dos pacientes, respeitando a sua individualidade e oferecendo a ele uma vida longa e autônoma.

A clínica conta com um time de médicos e profissionais assistenciais de diversas áreas como endocrinologia, urologia, ginecologia, nutrição, gastroenterologia, geriatria, dermatologia, estética, medicina oriental e ayurveda, com olhar dedicado à prática do cuidado focado no eixo neurocognitivo, metabólico e hormonal.



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