O Caderno de Conflitos no Campo Brasil 2024, publicado pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), foi lançado na quinta-feira (23), na UFMT, em Cuiabá, durante evento promovido pelo Fórum de Direitos Humanos e da Terra (FDHT) e pela CPT Mato Grosso.
O relatório revela um cenário de agravamento extremo da violência no campo em todo o país, com destaque preocupante para o Estado de Mato Grosso, que figura entre os mais violentos do Brasil, em praticamente todas as tipificações de conflitos.
De acordo com os dados, Mato Grosso registrou aumento de 137,25% no número de ocorrências de conflitos e 518,27% no número de pessoas envolvidas, em comparação com o ano anterior.
O relatório aponta que a violência no campo cresceu em todas as regiões do Estado, com destaque para o Nordeste (40%) e Norte (34,5%), além das regiões Sudeste e Sudoeste, que apresentaram aumento de 150% em relação a 2023.
Os principais agentes de violência foram fazendeiros, empresários, garimpeiros e grileiros, com crescimento expressivo na responsabilidade por conflitos: fazendeiros (60%), empresários (180%) e grileiros (150%).
Já as principais vítimas continuam sendo indígenas, assentados, sem-terra, quilombolas e posseiros, grupos que também sofreram aumento de violência: indígenas (200%), assentados (166,6%), sem-terra (83%), quilombolas (50%) e posseiros (20%).
Entre os dados mais alarmantes, estão o aumento de 3.004,6% nos incêndios em áreas de conflito e de 661,1% na destruição de pertences.
Mato Grosso foi o Estado mais afetado do país pelos incêndios, concentrando 25% de todos os casos registrados no território nacional.
Além disso, o Estado também apresentou aumento de 229,4% no desmatamento ilegal, 223,7% em ameaças de despejo e 200,3% em invasões.
A violência contra povos e comunidades tradicionais cresceu de forma desproporcional:
· Contra quilombolas: +1.717,4%
· Contra posseiros: +854%
· Contra indígenas: +357,7%
· Contra assentados: +69%
· Contra sem-terra: +48,7%
Os conflitos pela água também se intensificaram, com aumento de 87,5% nas ocorrências e 723,9% nas famílias envolvidas.
O relatório ainda aponta 250 famílias intoxicadas por agrotóxicos em conflitos pela terra, o 6º maior número do país, e um aumento geral de 108,3% nas contaminações.
De acordo com a CPT, 63% dos incêndios registrados no país ocorreram na Amazônia Legal, com Mato Grosso no topo do ranking.
O Estado ficou em 1º lugar na maioria das tipificações de violência nos conflitos por terra da região Centro-Oeste.
Além da violência física e material, o relatório também evidencia o avanço da violência institucional e criminalização dos defensores e defensoras de direitos humanos.
Um dos episódios mais graves ocorreu em maio de 2024, quando trabalhadores rurais, um padre da CPT e uma defensora pública foram presos de forma arbitrária durante uma ação policial no município de Novo Mundo (785 km ao Norted e Cuiabá).
Para a Pastoral da Terra, o caso, amplamente denunciado por entidades nacionais e internacionais, "simboliza o uso do aparato estatal para intimidar e punir quem atua em defesa dos pobres e na luta pela terra, revelando a face mais cruel da violência do Estado no campo e da política fascista do Governo Mauro Mendes (União).
RELATÓRIO - O Caderno de Conflitos no Campo é uma das principais publicações da Comissão Pastoral da Terra (CPT), que, em 2025, celebra 50 anos de atuação ao lado das comunidades camponesas, indígenas, quilombolas e sem-terra na defesa dos direitos humanos e da justiça social.
Os dados são sistematizados pelo Centro de Documentação Dom Tomás Balduíno (CEDOC/CPT), referência nacional desde 1985 na produção de informações sobre os conflitos no campo brasileiro.
A publicação é reconhecida como fonte essencial para pesquisadores, movimentos sociais, órgãos públicos e organismos de direitos humanos no Brasil e no exterior.

 
   
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