Frete da soja pode subir até 15% com nova fiscalização da ANTT e exigência de seguros

A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) implementou um novo sistema de fiscalização online da tabela de frete a partir de 6 de outubro, marcando um avanço na aplicação da Política Nacional de Pisos Mínimos do Transporte Rodoviário de Cargas (PNPM-TRC). A medida promete mais transparência nas operações de transporte, mas já impacta diretamente os custos logísticos da soja e de outros produtos agrícolas.

Novo sistema de fiscalização eleva custos do transporte

Segundo o diretor da Aprosoja Paraná, Matheus Moreira, a obrigação de declarar fretes com base na tabela mínima tem gerado distorções. “A tabela está defasada e nem todos os caminhoneiros concordam com ela. A ideia era garantir que o piso fosse conhecido e aumentar a arrecadação, mas agora impacta diretamente o custo logístico”, explicou.

O consultor em logística João Batista Freitas estima que o impacto nos custos de transporte da soja pode variar entre 5% e 15%, dependendo da rota e do tipo de contrato. Ele alerta que empresas que praticavam fretes abaixo do piso enfrentam risco de multa e suspensão de registros.

Diferenças por tipo de caminhão pressionam o mercado

A nova sistemática da ANTT diferencia os valores de frete por tipo de veículo e distância. Veículos de maior capacidade, como caminhões de nove eixos, acabam sendo favorecidos, enquanto caminhões menores, mais comuns no setor, têm fretes mais caros.

Fernando Bastiani, pesquisador da ESALQ-LOG, explica que caminhões de maior capacidade reduzem o custo por tonelada transportada. “Para veículos menores, o frete muitas vezes chega a ser praticamente o mesmo que o de veículos maiores, o que faz com que as transportadoras priorizem caminhões de nove eixos”, afirma.

Impacto sobre a logística de grãos e fertilizantes

O setor de grãos, especialmente a soja, é altamente dependente do transporte rodoviário, responsável por conectar regiões produtoras do Centro-Oeste a portos como Santos (SP), Paranaguá (PR) e Itaqui (MA).

A nova fiscalização deve elevar os custos de frete, especialmente nas rotas onde era comum o pagamento abaixo do piso. Bastiani alerta que os fretes de retorno, usados para transportar fertilizantes, já praticados com preços 30% a 40% menores, também devem sofrer pressão. Isso pode resultar em aumento nos custos logísticos de todo o setor agrícola.

Exigência de seguros aumenta formalização e custos

Além do frete mínimo, a ANTT exige agora a contratação de seguros obrigatórios, como RCTRC (Responsabilidade Civil do Transportador Rodoviário de Carga), RCDC (Desvio de Carga) e RCV (Veículo). Cooperativas e produtores com frota própria também terão que se adequar, sob risco de suspensão do RNTRC (Registro Nacional de Transportadores Rodoviários de Cargas).

“A exigência de seguros cria um piso real para o transporte. É positivo para caminhoneiros, mas pressiona o custo final da soja brasileira no porto”, explica Freitas.

Perspectivas para produtores e exportações

A nova safra de soja 2025/26, estimada em mais de 170 milhões de toneladas, coincide com a implementação das mudanças. Com margens já apertadas e forte concorrência internacional, qualquer aumento nos custos logísticos afeta a competitividade das exportações brasileiras.

Para Moreira, se a tabela não for atualizada, o produtor pode acabar absorvendo parte do aumento, reduzindo sua rentabilidade. “Quem está mais distante dos portos vai sentir na hora de vender a safra”, alerta.

Apesar dos desafios, especialistas avaliam que a medida fortalece a profissionalização do transporte, reduz a informalidade e, a médio prazo, pode garantir maior previsibilidade de custos para os produtores.

Fonte: Portal do Agronegócio