Em Mato Grosso, o Sistema Único de Saúde (SUS) registrou 501 atendimentos em prontos-socorros relacionados a envenenamentos acidentais ou intencionais que evoluíram para internação, em alguns casos com evolução para óbito, entre 2015 e 2024.
No mesmo período, 97 pessoas foram internadas por intoxicação proposital, ou seja, causada por terceiros.
Considerado inédito, o dado foi divulgado na semana passada pela Associação Brasileira de Medicina de Emergência (Abramede), que alerta para a facilidade de acesso a substâncias tóxicas, a falta de fiscalização e a impunidade.
Em todo país, foram 45.511 atendimentos nos últimos 10 anos.
Do total, 3.461 pacientes hospitalizados sofreram intoxicação proposital, causada por outras pessoas.
“Esses casos destacam um fenômeno alarmante: muitos episódios de intoxicação são cometidos intencionalmente, muitas vezes, com motivações emocionais ou familiares, e não apenas acidentais.
A facilidade de acesso a venenos, a falta de fiscalização e de regulamentação, a impunidade e o uso em contextos íntimos tornam o envenenamento uma arma silenciosa e eficaz”, disse Camila Lunardi, presidente da Abramede.
Só em 2024, o Estado teve 79 casos, o maior número registrado na década.
Comparado a 2015, com 35 ocorrências, o aumento foi de 125,7%.
Em 2023, foram 66 intoxicações, o mesmo número verificado no ano anterior.
Um dos casos que ganharam repercussão foi a morte de Mirella Poliane Chue de Oliveira, 11 anos, registrada em 2019, em Cuiabá.
As investigações apontaram que Mirella foi envenenada por sua madrasta, Jaira Gonçalves Arruda, que aplicava pequenas doses de veneno para matar a enteada, com o objetivo de "herdar" uma indenização de cerca de R$ 800 mil a qual a menina tinha direito.
O valor foi determinado pela Justiça depois de 10 anos de ação, em um processo de indenização pela morte da mãe de Mirella, Poliane Chue Marques, durante o parto. Teria havido erro médico.
Em 2021, Jaira Arruda foi condenada pelo Tribunal do Juri a 26 anos e oito meses de reclusão em regime fechado por envenenar e provocar a morte da enteada.
PERFIL E SUBSTÂNCIAS - O estudo aponta que a maioria dos registros se concentra em categorias inespecíficas, como drogas e substâncias químicas não determinadas.
Mostra também que, dentre as principais causas identificadas nos episódios acidentais, os envenenamentos por exposição a analgésicos e medicamentos para aliviar dor, febre e inflamação, lideram a lista.
Na sequência, aparecem os episódios envolvendo pesticidas, álcool por causas não determinadas e anticonvulsivantes, sedativos e hipnóticos.
Quanto ao perfil das vítimas de envenenamento (proposital ou acidental), a maioria dos casos no país envolve homens (23.796 registros).
Em relação à idade, os destaques são os adultos jovens de 20 anos a 29 anos, com 7.313 registros, e as crianças de 1 ano a 4 anos, com 7.204 registros no país.
As faixas com menos casos são as dos bebês com menos de um ano e os idosos de 70 anos a 79 anos (com 1.612 registros) e com 80 anos ou mais (968).
A Associação destaca que os números coincidem com os 10 anos de reconhecimento oficial da medicina de emergência como especialidade no Brasil, reforçando a importância do trabalho dos emergencistas em situações críticas, bem como garantir o suporte de vida adequado.
https://www.diariodecuiaba.com.br/cidades/mt-registrou-mais-de-500-casos-de-envenenamento-em-10-anos/718114
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