A competência técnica, antes soberana nos processos seletivos da área da saúde, já не é o único critério de desempate. Hospitais, clínicas e sistemas de saúde em todo o Brasil estão redefinindo ativamente seus perfis de contratação, priorizando uma habilidade que a graduação tradicional nem sempre ensina: a inteligência emocional. Essa mudança não é uma tendência passageira, mas uma resposta estratégica a um mercado em profunda transformação.
Impulsionada pela crescente valorização da experiência do paciente e pela necessidade de ambientes de trabalho mais colaborativos e resilientes, a busca por profissionais que combinem excelência técnica com fortes habilidades comportamentais tornou-se a nova fronteira da gestão de pessoas na saúde.
A experiência do paciente como métrica de sucesso
O modelo de saúde vem passando de um foco centrado na doença para um foco centrado no paciente. Nesse novo paradigma, a experiência do paciente tornou-se uma métrica de sucesso tão importante quanto o desfecho clínico. A comunicação empática é a principal ferramenta para aprimorar essa experiência.
Uma abrangente meta-análise publicada no periódico Medical Care demonstrou que pacientes de médicos treinados em boas práticas de comunicação têm 1.62 vezes mais chances de aderir ao tratamento prescrito. Esse dado prova que a inteligência emocional não é uma "soft skill", mas uma competência clínica que impacta diretamente a eficácia da terapia.
As competências comportamentais mais valorizadas no mercado
A "inteligência emocional" na saúde se desdobra em um conjunto de competências práticas. A escuta ativa, a capacidade de ouvir o paciente para compreender suas angústias, é a primeira delas. Apresentar uma comunicação clara, que traduz informações médicas complexas em uma linguagem acessível, é outra habilidade fundamental.
Além disso, a resiliência e a gestão de estresse são cruciais em um ambiente de alta pressão. Por fim, a capacidade de trabalho em equipe em um contexto multidisciplinar é inegociável; a era do profissional isolado acabou.
O impacto da tecnologia na necessidade de novas habilidades
Paradoxalmente, a aceleração tecnológica na saúde é um dos fatores que mais valoriza as habilidades humanas. Com a ascensão de ferramentas como a telemedicina — dados da pesquisa TIC Saúde 2023 revelam que 51% dos médicos no Brasil já realizaram teleconsultas — parte do trabalho puramente técnico está sendo otimizada.
Isso libera o profissional para focar em seu papel mais insubstituível: o de ser um conselheiro de confiança, um intérprete de dados e um ponto de apoio humano para o paciente.
Educação continuada como resposta estratégica dos profissionais
Diante deste novo cenário, a resposta dos profissionais que buscam se destacar deve ser dupla: desenvolver as competências comportamentais e, ao mesmo tempo, aprofundar incessantemente o conhecimento técnico. A excelência clínica continua a ser a base inegociável.
Essa dedicação ao estudo de materiais de referência, como o livro Medicina de Emergência USP, demonstra um compromisso com as práticas baseadas em evidências que o mercado valoriza.
A transição para a gestão
À medida que a carreira avança, muitos profissionais de saúde de excelência são promovidos a cargos de liderança e gestão, seja chefiando um departamento ou administrando uma clínica. No entanto, as habilidades que formam um grande clínico não são as mesmas que formam um grande gestor.
O mercado atual exige que esses líderes desenvolvam novas competências, como gestão financeira, gestão de pessoas (incluindo resolução de conflitos e desenvolvimento de equipes) e gestão de processos para otimizar o fluxo de trabalho. A busca por formações complementares, como um MBA em Saúde ou cursos de liderança, tornou-se um diferencial para o profissional que almeja posições estratégicas.
O futuro da carreira na saúde
Essa mudança nos critérios de contratação impactará diretamente a progressão de carreira. Profissionais que demonstrarem fortes habilidades de liderança, comunicação e colaboração, além do domínio técnico, serão os mais cotados para posições de gestão e coordenação.
O envolvimento em pesquisa, antes visto como um diferencial acadêmico, agora é percebido como uma ferramenta para o desenvolvimento de uma visão sistêmica, corroborada por organizações como a Organização Mundial da Saúde (OMS), que aponta o trabalho colaborativo como estratégia fundamental para a redução de erros.
A redefinição das contratações na área da saúde é um reflexo de uma medicina que se torna mais humana e integrada. O mercado não busca mais apenas um currículo brilhante, mas um profissional completo, capaz de aliar a ciência com a arte do cuidado. Investir no desenvolvimento da inteligência emocional e de habilidades de gestão não é mais uma opção, mas o caminho para a relevância e o sucesso a longo prazo.


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