Segundo dados da Sociedade Brasileira de Cefaleia, 95% das pessoas têm dor de cabeça pelo menos uma vez na vida. Desse contingente, 70% das mulheres e 50% dos homens sofrem com o mal pelo menos uma vez ao mês. E há 13 milhões de brasileiros que encaram a dor 15 ou mais dias por mês, o que caracteriza cefaleia crônica, uma doença que pode ser incapacitante, impedindo que o indivíduo realize suas atividades de rotina.

São números que explicam porque a dor de cabeça é uma das principais queixas que levam a pessoa ao pronto-socorro e porque muitos abusam da automedicação com analgésicos ou encaram uma peregrinação em médicos de diferentes especialidades até chegar ao neurologista.

“O passo inicial é distinguir as cefaleias primárias, que são a própria doença, das secundárias, que são sintomas de outras enfermidades, inclusive doenças graves, como tumores, acidente vascular cerebral (AVC) e meningite”, afirma a Dra. Gisele Sampaio, neurologista do Einstein Hospital Israelita. “É justamente por isso que seria importante ter nos prontos-socorros médicos treinados para identificar as potenciais causas da dor de cabeça. No Einstein, temos um neurologista no hospital em tempo integral, e casos suspeitos de cefaleias secundárias vasculares, como na hemorragia subaracnóidea, são sempre avaliados imediatamente. Mas nem sempre as outras unidades de emergência contam com a presença desse especialista”, observa o Dr. Rodrigo Thomaz, também neurologista do Einstein.

As cefaleias primárias mais comuns são a do tipo tensional e a enxaqueca. “A primeira é uma dor mais difusa por todo o crânio. A segunda é uma dor usualmente pulsátil de um dos lados da cabeça, geralmente mais intensa, às vezes acompanhada de sintomas como náusea, vômito, fotofobia e fonofobia”, explica o Dr. Rodrigo. Em alguns pacientes, a enxaqueca é precedida pela “aura”, (sintomas que antecedem a instalação da dor), que pode ser visual, motora ou sensitiva.

Ao contrário do que muitos leigos acreditam, a enxaqueca não está associada a problemas vasculares ou oftalmológicos e, sim, a um desbalanceamento de neuromediadores, substâncias que fazem a comunicação entre os neurônios. “Possivelmente, a pessoa já nasce com uma predisposição genética. O histórico familiar está bem presente nos casos de enxaqueca”, diz a Dra. Gisele.

O diagnóstico da cefaleia é clínico. Exames de imagem são solicitados apenas quando há suspeita de que a dor possa ser sintoma de outra doença, ou seja, de que se trata de uma cefaleia secundária. “As enxaquecas, por exemplo, são mais comuns em pessoas jovens. Quando temos um paciente fora dessa faixa etária com uma primeira crise, a preocupação do médico é que pode não se tratar de enxaqueca. Daí, exames como ressonância magnética, tomografia e de liquor são importantes para excluir outras causas – não para comprovar enxaqueca”, afirma a Dra. Gisele.

 Tratamento

Em ocorrências mais brandas e ocasionais, analgésicos comuns costumam resolver o problema. No entanto, a facilidade de acesso a esses medicamentos e a prática da automedicação podem levar a efeitos contrários aos buscados pelos pacientes. “Recorrer a analgésicos constantemente é um risco: o abuso desses medicamentos é uma das principais causas da cefaleia crônica”, alerta o Dr. Rodrigo.

Nas crises, os médicos costumam indicar, além de analgésicos, anti-inflamatórios e, no caso específico de enxaqueca, triptanos. Nas mulheres que têm dor de cabeça associada à fase pré-menstrual, medicações específicas também costumam ajudar. Mas, em pacientes que têm mais de três crises por mês, a abordagem é profilática, com o objetivo de evitar que a dor aconteça. Nesses casos, são administrados antidepressivos, anticonvulsivantes, anti-hipertensivos e antivertiginosos em doses mais baixas que as indicações primárias desses medicamentos. Embora haja estudos sobre medicamentos específicos preventivos da enxaqueca, eles ainda estão em fase experimental.

Há também caminhos de prevenção mais simples. Um deles é descobrir – e evitar – elementos que funcionam como gatilho da dor, como certos tipos de alimentos e bebidas – queijos, vinhos, comidas gordurosas, etc. Boa alimentação, ausência do cigarro, atividade física e práticas de combate ao estresse, como relaxamento, yoga e meditação, também são sempre bons remédios para uma vida saudável.

 

Por Conselho Editorial Einstein

https://www.einstein.br/n/glossario-de-saude/dor-de-cabeca