Crise na rentabilidade do arroz atinge níveis inéditos desde a pandemia

O mercado brasileiro de arroz enfrenta a pior crise de rentabilidade desde a pandemia, de acordo com Evandro Oliveira, analista e consultor da Safras & Mercado. Os preços atuais estão nos menores patamares desde maio de 2020, quase 50% abaixo da temporada anterior.

No Rio Grande do Sul, principal estado produtor, a saca de arroz em casca é negociada entre R$ 55 e R$ 65, enquanto o custo de produção varia de R$ 75 a R$ 90, evidenciando margens negativas para os produtores. No varejo, pacotes de 5 kg têm sido vendidos em promoções agressivas por até R$ 12, refletindo a demanda enfraquecida.

Liquidez baixa e dificuldade de crédito agravam crise

A baixa liquidez do mercado se soma à dificuldade de acesso ao crédito pelo Plano Safra, pressionando os produtores a vender estoques apenas para gerar caixa. Segundo Oliveira, esse comportamento cria um ciclo de vendas compulsórias com prejuízo, mesmo em meio a estoques de passagem recordes, projetados em 2,3 milhões de toneladas, que garantem oferta suficiente para o futuro próximo.

Setor busca autorregulação e redução de áreas plantadas

Para tentar reequilibrar a oferta e a demanda, o setor considera a redução da área plantada. No Rio Grande do Sul, a diminuição estimada varia entre 8% e 10%, enquanto em estados de arroz de sequeiro a redução pode chegar a 30%.

Na última semana, a média da saca no RS foi cotada a R$ 60,20, queda de 3,14% em relação à semana anterior e desvalorização acumulada de 49,39% no ano.

Preços internacionais influenciam cenário doméstico

No mercado externo, o dólar fechou a R$ 5,3655, em um ambiente global de cautela. No Mercosul, os preços de exportação seguem estáveis e competitivos: Paraguai (US$ 390/tonelada FOB), Argentina (US$ 470) e Uruguai (US$ 490). Na Bolsa de Chicago (CME/CBOT), o contrato futuro do arroz fechou a US$ 11,37 por quintal curto, equivalente a R$ 67,19 por saca, ainda acima da média gaúcha.

Diversificação como estratégia de longo prazo

Oliveira destaca que, para reduzir vulnerabilidade aos ciclos de superoferta, a indústria precisará agregar valor por meio de co-produtos, como proteína do farelo, lecitina e sílica, promovendo maior estabilidade financeira e oportunidades de mercado.

Fonte: Portal do Agronegócio