Especialista reforça sobre como o envelhecimento afeta a fertilidade masculina, os riscos envolvidos na paternidade tardia e as opções para quem deseja planejar a família com mais segurança e consciência
Muito se fala sobre o relógio biológico feminino, mas voltar o olhar para a paternidade também é uma forma de cuidado, especialmente ao compreender que a fertilidade masculina muda com o tempo. Homens que desejam formar uma família muitas vezes vivem esse processo de forma silenciosa, sem espaço para expor dúvidas ou emoções.
Nem sempre a paternidade começa com o nascimento de um filho. Para muitos, ela surge no desejo de construir uma família, no envolvimento com os tratamentos de fertilidade ou ainda na espera por um resultado positivo.
“Ainda existe uma ideia muito enraizada de que o homem pode ser pai em qualquer idade, sem maiores implicações. Mas sabemos que o passar do tempo interfere, sim, tanto na fertilidade quanto na qualidade do material genético masculino”, explica o Dr. Edson Borges Jr., diretor científico do FertGroup.
Embora não exista um equivalente direto à menopausa, a fertilidade do homem sofre alterações graduais. A partir dos 45 anos, há diminuição na concentração, motilidade dos espermatozoides, além do aumento de alterações morfológicas e danos no DNA espermático.
“Com o avanço da idade, aumenta-se o risco de alterações genéticas nos espermatozoides, o que pode dificultar a gravidez, elevar o risco de abortos espontâneos e o aumento das malformações, destaca o especialista.
Essas informações não devem ser motivo de alarme, mas sim de consciência. Entender que o tempo também atua na fertilidade masculina permite um planejamento mais realista e responsável.
Idade do homem também pode impactar no sucesso da fertilização in vitro
Um estudo internacional apresentado na 41ª Reunião Anual da Sociedade Europeia de Reprodução Humana e Embriologia (ESHRE), em Paris, trouxe evidências que podem mudar a forma como a idade paterna é abordada na medicina reprodutiva.
A pesquisa revela que homens com mais de 45 anos apresentam taxas significativamente maiores de aborto espontâneo e menores chances de nascidos vivos em ciclos de fertilização in vitro — mesmo quando são utilizados ovócitos de mulheres jovens.
“Este estudo traz uma perspectiva importante que muitas vezes é negligenciada na prática clínica. Tradicionalmente, focamos muito na idade materna, mas estes dados mostram que a idade paterna também tem um papel fundamental nos resultados reprodutivos”, observa Dr. Borges, que acompanhou presencialmente o evento.
O diferencial da pesquisa está na metodologia: ao analisar exclusivamente ciclos com ovócitos de doadoras jovens, os pesquisadores conseguiram isolar o impacto da idade materna. Foram analisados 1.712 primeiros ciclos de doação de ovócitos realizados entre 2019 e 2023 em seis centros de fertilização in vitro na Itália e na Espanha, com espermatozoides congelados dos parceiros masculinos e apenas a primeira transferência de blastocisto único. As receptoras tinham idade média de 43,3 anos.
Os participantes foram divididos em dois grupos: homens com 45 anos ou menos (1.066 casos) e aqueles com mais de 45 anos (646 casos). Embora as taxas de fertilização e desenvolvimento embrionário tenham sido semelhantes, os desfechos clínicos apresentaram diferenças marcantes:
- As taxas de aborto espontâneo foram de 23,8% entre os homens com mais de 45 anos, contra 16,3% no grupo mais jovem.
- Já as taxas de nascidos vivos foram de 35,1% nos homens mais velhos, ante 41% nos mais jovens.
“Estes números são expressivos e nos fazem refletir sobre a necessidade de orientar melhor os casais sobre os riscos relacionados ao adiamento da paternidade. É importante que os homens também compreendam que existe uma janela de fertilidade masculina, mesmo que ela seja mais ampla do que a feminina”, reforça o especialista.
O que os homens podem fazer
Entre os recursos disponíveis para quem deseja postergar a paternidade com segurança está o congelamento de espermatozoides. A técnica, cada vez mais acessível, preserva a qualidade das células reprodutivas e oferece tranquilidade para os homens que ainda não estão prontos para iniciar uma família pelos mais diversos motivos.
“O congelamento de sêmen é uma ferramenta de preservação da fertilidade masculina extremamente eficaz. Pode ser uma decisão estratégica para homens que ainda não têm planos imediatos de serem pais, mas que desejam manter essa possibilidade no futuro com mais segurança”, afirma o Dr. Borges.
Além da idade, fatores como obesidade, sedentarismo, tabagismo, estresse crônico, uso de anabolizantes esteroides e exposição a toxinas ambientais também afetam a saúde dos espermatozoides. Por isso, cuidar da fertilidade masculina envolve estilo de vida, informação e, quando necessário, acompanhamento médico.
Um artigo publicado na revista Human Reproduction Academic mostra que os homens desejam ter filhos tanto quanto as mulheres e optam por, pelo menos, dois. Contudo, eles ainda desconhecem as limitações da fertilidade e superestimam a possibilidade de engravidar através de tecnologias de reprodução assistida — ou ainda sem elas.
“Falar sobre fertilidade masculina é também falar sobre responsabilidade, planejamento e saúde. O tempo passa para todos nós, e compreender isso ajuda o homem a tomar decisões mais conscientes sobre seu futuro reprodutivo. Disseminar informação de qualidade é essencial para expandir o conhecimento sobre as técnicas já disponíveis”, finaliza o Dr. Edson Borges Jr.
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