A nova face das doenças cardíacas: como estresse, sono e tecnologia estão afetando o coração do brasileiro

Especialista da Afya Brasília analisa como fatores modernos de risco desafiam a saúde cardiovascular e revelam um cenário crítico no país

 

A rotina acelerada, o uso excessivo de telas, a má qualidade do sono e o estresse contínuo estão contribuindo para o aumento de problemas cardíacos em faixas etárias cada vez mais jovens. Segundo dados da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), os casos de infarto em pessoas com menos de 40 anos cresceram cerca de 17% na última década. O dado revela um cenário inédito: o coração do brasileiro está adoecendo mais cedo, muitas vezes por causas invisíveis e silenciosas.

Embora fatores clássicos como obesidade, hipertensão e tabagismo continuem relevantes, eles agora compartilham espaço com ameaças mais sutis,  mas igualmente perigosas. O sedentarismo digital, a privação crônica de sono e o estresse emocional têm sido apontados como agentes significativos na saúde cardiovascular moderna.

A Dra. Rosangeles Konrad, professora de cardiologia da Afya Educação Médica de Brasília, destaca que os impactos desses hábitos já são claramente perceptíveis nos consultórios. “O coração do século XXI sofre não apenas por colesterol ou cigarro, mas também pelos efeitos da vida sedentária diante de telas, pelo sono insuficiente e pela sobrecarga emocional. Esses fatores são tão relevantes quanto os tradicionais,  e muitas vezes mais silenciosos”, afirma a médica. Segundo ela, o sedentarismo digital vai além de simplesmente “ficar parado”. Longas horas sentado afetam a circulação, reduzem a produção de óxido nítrico (essencial para a dilatação dos vasos sanguíneos) e comprometem o metabolismo, favorecendo o acúmulo de gordura, resistência à insulina, aumento dos triglicerídeos e queda do HDL,  até mesmo entre os jovens.

Já a privação de sono, principalmente quando inferior a seis horas por noite, eleva a pressão arterial durante o repouso, aumenta os níveis de inflamação (como a proteína C reativa - PCR-us) e reduz a variabilidade da frequência cardíaca, um importante marcador de risco cardiovascular. Estudos do UK Biobank  com quase 500 mil adultos apontaram que o sono inadequado pode aumentar em até 20% o risco de infartos e AVCs.

O estresse crônico é outro fator alarmante. Em uma realidade marcada por hiperconectividade e pressões constantes, o corpo permanece em estado de alerta, ativando continuamente o sistema nervoso simpático. Isso eleva a pressão arterial, a frequência cardíaca e favorece uma vasoconstrição prolongada, alterações que podem causar remodelamento cardíaco e disfunção endotelial mesmo em pessoas jovens e aparentemente saudáveis. O estresse ainda fragmenta o sono, atrapalha a recuperação do sistema cardiovascular e pode ser o gatilho para arritmias e infartos, independentemente da presença de fatores de risco clássicos como colesterol alto ou histórico familiar.

Entre os mais jovens, observam-se cada vez mais diagnósticos de disfunção microvascular coronariana, miocardites (inclusive associadas à COVID-19), espasmos nas artérias coronárias, além de casos precoces de hipertensão e diabetes tipo 2. Soma-se a isso o uso de anabolizantes, cigarros eletrônicos e drogas recreativas, que podem desencadear arritmias, tromboses e picos de pressão. “Hoje, um jovem de 30 anos pode apresentar risco cardiovascular semelhante ao de um adulto de 50 anos há duas décadas”, observa a Dra. Rosangeles.

Diante dessa realidade, os métodos tradicionais de avaliação cardiovascular se mostram limitados. Para a cardiologista da Afya Brasília, é necessário que os cardiologistas adotem uma abordagem mais ampla e personalizada. “O risco cardiovascular não pode ser avaliado apenas com base em cálculos para os próximos 10 anos. É essencial considerar fatores como qualidade do sono, estresse crônico, inflamação persistente e até a exposição à poluição do ar (como o material particulado fino, PM2,5), que impactam mesmo indivíduos sem colesterol elevado”, defende.

Um novo olhar para o coração

Não basta medir o colesterol ou controlar a pressão arterial. É necessário incorporar o bem-estar emocional, a qualidade do sono e o uso consciente da tecnologia como pilares centrais do cuidado com o coração.

O retrato atual das doenças cardíacas no Brasil exige uma visão mais moderna e abrangente de médicos, gestores de saúde e da própria população. Prevenir doenças cardiovasculares vai muito além dos exames: é preciso enxergar o cotidiano como território de risco, onde o estresse, o sono ruim e a vida hiperconectada colocam o coração em constante ameaça. 

Sobre a Afya   

A Afya, maior hub de educação e tecnologia para a prática médica no Brasil, reúne 38 Instituições de Ensino Superior em todas as regiões do país, 33 delas com cursos de medicina e 20 unidades promovendo pós-graduação e educação continuada em áreas médicas e de saúde. São 3.653 vagas de medicina autorizadas pelo Ministério da Educação (MEC), com mais de 23 mil alunos formados nos últimos 25 anos. Pioneira em práticas digitais para aprendizagem contínua e suporte ao exercício da medicina, 1 a cada 3 médicos e estudantes de medicina no país utiliza ao menos uma solução digital do portfólio, como Afya Whitebook, Afya iClinic e Afya Papers. Primeira empresa de educação médica a abrir capital na Nasdaq em 2019, a Afya recebeu prêmios do jornal Valor Econômico, incluindo "Valor Inovação" (2023) como a mais inovadora do Brasil, e "Valor 1000" (2021, 2023 e 2024) como a melhor empresa de educação. Virgílio Gibbon, CEO da Afya, foi reconhecido como o melhor CEO na área de Educação pelo prêmio "Executivo de Valor" (2023). Em 2024, a empresa passou a integrar o programa “Liderança com ImPacto”, do pacto Global da ONU no Brasil, como porta-voz da ODS 3 - Saúde e Bem-Estar. Mais informações em http://www.afya.com.br  e ir.afya.com.br.