Especialista alerta para sintomas iniciais, exames essenciais, cuidados com a fertilidade e a importância do acolhimento multidisciplinar após o diagnóstico

Dor pélvica persistente, sangramentos irregulares e alterações menstruais podem ser os primeiros sinais de um tumor ginecológico, mas ainda são amplamente negligenciados. A estimativa do Instituto Nacional de Câncer (INCA) é de que mais de 17 mil mulheres tenham sido diagnosticadas com câncer do colo do útero em 2023, colocando a doença como o terceiro tumor maligno mais frequente entre as brasileiras. 

Para o cirurgião oncológico Marcelo Vieira, especialista em cirurgias minimamente invasivas e mentor de médicos, identificar esses sinais precocemente pode ser decisivo para a vida e a fertilidade das pacientes. “O diagnóstico precoce permite intervenções menos mutilantes, maior preservação dos órgãos reprodutivos e chances reais de gestação futura”, afirma o médico, que também é idealizador do Dispositivo Uterino para Dilatar o Anel Endocervical (Duda), tecnologia aprovada pela Anvisa que evita o fechamento do canal uterino após cirurgia e amplia as chances de gravidez.

Exames de rastreio e periodicidade

Para tumores no útero e ovário, o rastreamento ainda é o principal aliado da prevenção. O exame Papanicolau, recomendado para mulheres de 25 a 64 anos, deve ser feito a cada três anos após dois exames consecutivos anuais normais, conforme orientação do Ministério da Saúde. A ultrassonografia transvaginal também é indicada em casos de suspeita clínica, especialmente após os 40 anos ou em mulheres com histórico familiar de câncer ginecológico.

Em casos de suspeita de câncer de ovário, cuja detecção precoce é mais difícil, exames de sangue como o CA-125 e a ressonância magnética podem ser solicitados. “Análises complementares devem ser indicadas com critério, mas é fundamental que o profissional esteja atento aos sinais clínicos, sobretudo em pacientes com histórico familiar”, alerta.

Efeitos do diagnóstico e importância do acolhimento

A notícia de um tumor afeta diretamente não apenas o corpo, mas o projeto de vida da mulher,  principalmente quando a maternidade está entre seus planos. Para Marcelo Vieira, o impacto emocional do diagnóstico exige um cuidado ampliado, que vá além da cirurgia. “É preciso considerar a saúde mental, oferecer suporte psicológico, garantir acolhimento e orientar a paciente sobre alternativas de tratamento que respeitem sua vontade de ser mãe. Essa escuta qualificada é essencial”, diz o cirurgião.

Além da saúde emocional, a alimentação e o estilo de vida influenciam diretamente na resposta ao tratamento. Dietas equilibradas, prática de atividade física moderada e sono regulado são aliados no controle inflamatório do organismo e na recuperação pós-cirúrgica. A construção de uma rede de apoio  familiar, médica e terapêutica também contribui significativamente para o enfrentamento do tratamento.

Fertilidade: decisões cirúrgicas fazem diferença

Um dos maiores temores após o diagnóstico é a perda da fertilidade. Em tumores de colo do útero em estágios iniciais, já é possível adotar abordagens conservadoras. O dispositivo Duda, por exemplo, tem sido utilizado em pacientes que passaram por cirurgia e desejam preservar a possibilidade de gestar.

“O uso do dispositivo Duda representa um divisor de águas,  mantemos o canal endocervical funcional, o que viabiliza o fluxo menstrual e futuras tentativas de engravidar. Essa tecnologia tem permitido que mulheres antes condenadas à infertilidade hoje sejam mães”, destaca Marcelo Vieira.

Estudo clínico conduzido no Hospital de Amor, em Barretos (SP), com 240 mulheres, demonstrou que pacientes que receberam o Duda após cirurgia apresentaram maior preservação da anatomia uterina e taxas de gravidez superiores em comparação ao grupo controle. Os dados finais do estudo ainda estão em avaliação, mas os resultados preliminares reforçam a eficácia do dispositivo.

Tolerância e protagonismo feminino no tratamento

Nem sempre o caminho é simples. E por isso, Marcelo Vieira reforça que a paciente precisa se enxergar como protagonista no processo. “A mulher precisa entender que pode  e deve questionar, buscar uma segunda opinião, perguntar sobre as opções que preservam sua fertilidade. A medicina tem evoluído, e o corpo feminino não pode mais ser tratado como terreno de mutilações automáticas. Há escolha, há esperança”, conclui.

No combate ao câncer ginecológico, a tolerância precisa ser com o processo e suas limitações, não com a desinformação ou com a perda do sonho de ser mãe. A medicina de precisão, as técnicas minimamente invasivas e o cuidado humanizado já estão disponíveis, o desafio é garantir que cheguem a quem mais precisa.

 

Sobre o Dr. Marcelo Vieira

Dr. Marcelo Vieira é cirurgião oncológico, especialista em cirurgias minimamente invasivas e mentor de cirurgiões. Com mais de 20 anos de experiência, iniciou sua trajetória no Hospital de Câncer de Barretos, onde atuou como chefe da Ginecologia e se dedicou ao atendimento 100% SUS. Em 2019, realizou o primeiro transplante robótico intervivos do Brasil, um marco na medicina nacional.

Após essa conquista, decidiu empreender e criou o Curso de Metodologia Cirúrgica, com a missão de transformar cirurgiões e salvar vidas. Também fundou o Cadáver Lab, um treinamento imersivo de dissecção e anatomia pélvica avançada, além de liderar programas de mentoria de alta performance, como Precisão Cirúrgica e Cirurgião de Elite.

Para mais informações, visite o site oficial ou pelo instagram.

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