Visita técnica conclui ciclo de acompanhamento nos estados amazônicos

Porto Velho, RO - A Ecoporé recebeu a Missão de Supervisão e Apoio à Implementação do Projeto Paisagens Sustentáveis da Amazônia (ASL Brasil) em Rondônia. A agenda faz parte de uma série de visitas técnicas realizadas nos estados do Amazonas, Acre e Pará. Além de Rondônia, último destino da missão.

Estiveram presentes representantes do Banco Mundial, instituição financeira que implementa a iniciativa, além do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), do Serviço Florestal Brasileiro (SFB), da Conservação Internacional (CI-Brasil), da Fundação Getulio Vargas (FGV Europe) e de secretarias estaduais de meio ambiente de Rondônia, Amazonas, Acre e Pará.

A programação em Rondônia teve início com a visita às Florestas Nacionais do Bom Futuro e de Jacundá, áreas que passam por um processo de restauração ecológica após histórico de invasões e desmatamento. Atualmente, são 325 hectares em processo de recuperação. Para isso são utilizadas técnicas como semeadura direta, plantio de mudas e monitoramento contínuo.

Desafios e aprendizados no caminho da restauração

Durante a visita, foram compartilhados os principais desafios enfrentados, como o risco de queimadas e as limitações da janela climática para plantio. Por outro lado, também foram destacadas lições relevantes, como o potencial produtivo da muvuca de sementes, a geração de renda para as comunidades e o fortalecimento institucional em torno da restauração.

"A restauração não é apenas plantar árvores. É uma oportunidade de fortalecer redes, gerar renda, envolver comunidades e criar um movimento coletivo em defesa da floresta," destacou Marcelo Ferronato, diretor presidente da Ecoporé.

Povos indígenas fortalecem a rede de sementes e a restauração

Ainda no primeiro dia, a missão seguiu para o Território Indígena Karitiana, onde visitou a Aldeia Beijarana. O povo Karitiana tem desempenhado um papel fundamental no fornecimento de sementes nativas, atividade que tem fortalecido a autonomia e gerado renda para a comunidade.

“A coleta de sementes é o futuro. Vende sementes, faz artesanato, gera renda. Dá poder de compra,” afirmou José Claudenilson Karitiana, professor da comunidade.

Para os representantes do Banco Mundial, o impacto vai além da recuperação ambiental:

"O trabalho vai muito além de hectares restaurados. Restaura vidas, fortalece vínculos e cria redes de parceria. É um prazer vivenciar e aprender com a experiência da Ecoporé,” destacou Bernardete Lange, especialista ambiental do Banco Mundial.

As áreas em processo de restauração atualmente estão na fase de manutenção e monitoramento, com foco no controle de gramíneas exóticas, um dos maiores desafios para garantir o desenvolvimento das espécies nativas e a sustentabilidade das áreas recuperadas.

A missão também acompanhou, em Cacoal, um mutirão do Programa de Regularização Ambiental (PRA), organizado pela SEDAM e EMATER. Na ocasião, a Ecoporé participou do cadastramento de produtores interessados em aderir às ações de restauração promovidas pelo projeto.

Durante a agenda, foram realizadas visitas a duas propriedades beneficiadas pelo projeto. Na propriedade do agricultor João da Luz, foi realizado o isolamento da área destinada à recuperação. De forma voluntária, João ampliou a área de restauração para além do exigido por lei, com o objetivo de garantir a preservação dos serviços ecossistêmicos em sua propriedade.

Já na propriedade de Antônio Mateus, o processo de restauração está mais avançado. A área já foi isolada e recebeu o plantio, realizado por meio da muvuca de sementes, que combina diversas espécies florestais nativas no processo de recomposição.

“Plantar pensando no futuro de quem tá vindo,” refletiu Antônio Mateus, que resumiu o sentimento de cuidado com as futuras gerações.

Da semente à floresta

No encerramento da missão, os participantes visitaram a sede da Ecoporé, em Rolim de Moura, onde puderam conhecer o viveiro de mudas e o laboratório de sementes, acompanhando todo o ciclo — da coleta ao beneficiamento, até a produção de mudas destinadas às áreas de restauração.

“É um aprendizado incrível. O trabalho da Ecoporé com a rede de sementes e com as comunidades têm gerado resultados expressivos em termos de renda e fortalecimento social. Estar aqui nos faz pensar em como dar continuidade e ampliar esse trabalho, que é exemplo não só para Rondônia, mas para toda a Amazônia e outras regiões onde atuamos,” comentou Laura Lamonica, diretora do Programa Soluções para o Clima da Conservação Internacional.

Entenda o Projeto Paisagens Sustentáveis da Amazônia

O Projeto Paisagens Sustentáveis da Amazônia (ASL Brasil) é coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), por meio da Secretaria de Biodiversidade, Florestas e Direitos Animais (SBio), e executado pela Conservação Internacional (CI-Brasil), pelo Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio) e pela Fundação Getulio Vargas (FGV Europe), em parceria com órgãos federais e estaduais de meio ambiente.

A iniciativa integra o Programa Regional ASL, implementado pelo Banco Mundial e financiado pelo Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF), que conecta ações em sete países amazônicos: Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru e Suriname.

O projeto busca fortalecer a gestão integrada da paisagem amazônica, promovendo conservação, restauração florestal e desenvolvimento sustentável. Suas metas incluem:

  • Ampliar áreas protegidas;
  • Consolidar e melhorar a gestão de unidades de conservação;
  • Aumentar o financiamento para áreas protegidas;
  • Promover a conectividade e a gestão integrada da paisagem;
  • Incentivar arranjos produtivos e cadeias de valor sustentáveis;
  • Fortalecer a cadeia de sementes e mudas nativas;
  • Apoiar políticas públicas de proteção e recuperação florestal;
  • Estimular a cooperação regional entre os países amazônicos."