Em meio a uma crise de saúde mental no ambiente corporativo, estudo mostra que empresas ainda precisam se adequar a mudanças que se tornam obrigatórias em maio

A partir de 26 de maio de 2025, entrou em vigor uma atualização crucial na NR-1 (Norma Regulamentadora nº 1): os riscos psicossociais agora farão parte do PGR (Programa de Gerenciamento de Riscos), o que obriga as empresas a adotar uma abordagem mais ampla sobre a saúde mental de seus colaboradores.

Porém, mesmo com a proximidade da atualização, uma pesquisa realizada pela Safe Care Benefícios e HR First Class com mais de 500 profissionais de recursos humanos revelou que 39% das empresas brasileiras ainda não estão totalmente preparadas para implementar as mudanças, embora muitas já estejam buscando alternativas para alocar recursos necessários para essa transição.

Kátia de Boer, CEO e fundadora da Safe Care Benefícios, considera a mudança na NR-1 um avanço importante, pois estabelece diretrizes fundamentais para a gestão de riscos ocupacionais, incluindo os riscos psicossociais. No entanto, ela destaca que a norma ainda carece de um detalhamento claro sobre quais riscos psicossociais devem ser avaliados. “Há uma ausência de parâmetros mais específicos e padronizados sobre quais fatores psicossociais considerar – como assédio, carga excessiva de trabalho, pressão por metas, insegurança no emprego, entre outros – e de como avaliá-los de forma prática. Isso abre espaço para diferentes interpretações e pode resultar em uma subavaliação de riscos significativos”, alerta Katia.

Quanto aos impactos da nova norma, 46% dos entrevistados acreditam que ela promoverá melhorias no bem-estar e na qualidade de vida dos colaboradores. Outros 35% destacam que a mudança contribuirá para aumentar a conscientização sobre a saúde mental e combater o estigma relacionado ao tema.

Dados recentes do Ministério da Previdência Social indicam que o ambiente corporativo enfrenta uma verdadeira crise de saúde mental, com quase meio milhão de afastamentos por transtornos psíquicos registrados em 2024 – o maior número dos últimos dez anos.

Para Fátima Macedo, psicóloga e CEO da Mental Clean - empresa pioneira no Brasil em psicologia aplicada à saúde do trabalhador, a NR-1 é um marco porque finalmente coloca a saúde emocional no centro das obrigações legais das empresas. A psicóloga ressalta ainda que promover a saúde emocional deve ser uma prática contínua, e não pontual, é preciso integrar o cuidado emocional à cultura da empresa, de forma estruturada e intencional.

“Não se trata apenas de cumprir uma exigência – mas de reconhecer que a mente também adoece e que isso impacta diretamente na produtividade, nos relacionamentos e na sustentabilidade do negócio”, afirma Macedo.

Segundo Fátima, estamos vivendo uma revolução silenciosa nas relações de trabalho com profissionais buscando mais do que melhores salários – eles querem respeito e acolhimento: “A nova geração de trabalhadores está mais consciente, informada e exige empresas com propósito, respeito e equilíbrio. Quem não acompanhar essa mudança vai perder os melhores talentos”, finaliza a CEO.